09/06/2018

Fato azul, com amor

Tínhamos que comprar toda a indumentária para ele levar vestida ao baile de finalistas. A mais clássica e "beta" que tinha - calças bege, camisa azul e sapatos de vela - não era apropriada para a ocasião, e constatámos com simulada preocupação e indissimulável alegria que teríamos que ir juntos às compras.
Eu sou assim uma espécie de homem nessa matéria: sei ao que vou, onde vou, e é muito raro perder tempo de pesquisas e buscas infrutíferas. Falta-me o tempo, falta-me a paciência e já sei que, se vou sem rumo, fico perdida nas lojas, como uma criança pequena que não sabe da mãe. [Tenho este trauma de infância, entrava nos armazéns com a minha mãe e perdia-a imediatamente.] Também nesse aspecto nos damos como Deus e os anjos. Ele, desconheço se por razões hormonais, mas o que é certo é que comigo também é assim, impacienta-se nas lojas, sobretudo se tiver que correr muitas e estiver mais do que dez minutos em cada uma.
Entrámos no Centro, fomos à loja que eu tinha sugerido - em alternativa àquela outra onde "os meus amigos compraram os fatos deles lá" -, consensuais na cor do fato - azul, está bem de ver - rumámos ao expositor dos fatos e ambos agarrámos naquele azul. À entrada dos provadores, tive que justificar que entrava com ele, "sou a mãe" (não fora dar-se o caso de ser alguma coogar assanhada, sem outro poiso onde explorar os recantos do menino.) (Enfim, tão distraída que estava a "polícia dos costumes" connosco, que não deu pelo casalinho que se enfiou num provador, com a desculpa de marcar as bainhas de umas calças ao homem, e por lá ficou, de cortina fechada, o tempo e para o que lhes apeteceu. Mas eu dei.) Escolhi-lhe o tamanho certo, que lhe caiu como uma luva, pagámos e saímos. A compra dos sapatos em nada diferiu deste esquema, a da gravata foi ainda mais rápida, com ele sempre a dizer "confio no teu bom gosto": escolhi-a sem ele, uma gravata cinzenta de pintinhas brancas só para "fugir" ao azul (noção que, aliás, desconheço).
No dia do baile, ele era o mais bonito. Não precisei de verificar todos os outros, um a um, para tirar esta óbvia conclusão. Ainda assim, quis levá-lo ao ponto de encontro do transporte que os levava a todos ao local do baile. À saída do prédio, dei-lhe o braço e fui sincera quando lhe disse: "Estás tão giro, agora é que toda a gente vai dizer que a velha sustenta o rapazola". Ele naquele sorriso que me aceita assim mesmo, desconexa e inconveniente, "Cala-te, que me estás a pôr nervoso", como se não estivesse já nervoso.
Vi meninas de vestidos armados até aos pés, cabelos armados cabeça acima, com colas e lacas insuportáveis, caras frescas inutilmente armadas em maquilhagens compactas até ao osso. Observei os outros rapazes e confirmei o que já sabia.
Depois contou-me que esteve no ranking para o melhor fato, mas perdeu a competição para o que levava a gravata mais ridícula (porque são adolescentes e faz toda a lógica eleger o mais feio no lugar do mais belo).
Guardo também para sempre os olhos dele, à saída do carro, enormes e lindos para mim, "Obrigado, madre".
Obrigada a ti, filho. Tu és (e serás) sempre o mais bonito.

8 comentários:

  1. Anónimo9/6/18

    Mãe vaidosa! :)
    AL
    Não tens um comentário meu no teu último post?

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  2. Anónimo10/6/18

    💖💖💖
    Beijinhos azulinha 🌸

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  3. São lindos, os nossos filhos, não são?

    Beijos, Lindona :)

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    1. Lindos, Mary. E sempre os mais bonitos! :)

      Beijos :)

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  4. <3 Serão sempre... Também confio no teu bom gosto.
    Beijinhos aos dois.

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