28/04/2017

Numa escala de zero a dez, quão estranha é a tua relação com o teu gato?

Veio para casa com cinco semanas, cresceu e passou a ter cios, como qualquer gata adulta.
Já não se aguentavam os miares, os gritos, os roçanços num candeeiro que caía constantemente (e era sempre aquele, que até tem outro igual, mas era aquele e só aquele), os encarranchamentos, e ultimamente, uma ou outra marcações de território. Além da agressividade, que talvez até fosse piorar com o passar do tempo, além dos desassossegos a aumentar de frequência: os cios, que vieram tão tarde (a dias de fazer um ano), passaram a uma cadência de semana sim, semana não.
Irremediavelmente, dona Pequena Molly foi a esterilizar. 
Foi estranho enquanto durou a ausência dela em casa: abrir a porta e não me sair a jacto o bicho, sentar-me ao computador e não a ter a morder-me a mão esquerda (a do rato), o próprio rato, a tentar apanhar o cursor com a pata, a deitar-se em cima do teclado. Foi estranho poder abrir o roupeiro, uma gaveta, a minha mala, sem que ela surgisse do ar e se enfiasse lá dentro. Foi estranho não tê-la a atormentar-me os passos, a esconder-se para me apanhar na curva, a pregar-me sustos por tudo, a não me deixar estar sem ser em permanente estado de alerta. Podia ter sido um dia de alívio, mas não foi.
Depois fui buscá-la.
Fui encontrá-la com um vestido cor-de-laranja, baralhada e furiosa, e, por baixo, uma fralda. Pedi à veterinária que lha tirasse (péssima experiência quando foi da Mel), e ela entendeu tirar-lhe também o vestido, por lhe estar largo (muito fit, a minha gata). Teve que ser amarrada com uma toalha, foi necessária a força de duas pessoas. Mesmo meio anestesiada, a minha fera não se deu por vencida. Mas os gritos, que passaram largamente a definição de rosnados, não me saem da cabeça até agora. 
Veio para casa com um funil, e agora tenho-a aqui, prostrada e infeliz. Parece um objecto. 
E estou cheia de pena dela, e desejando que volte a trepar à minha mesa e que venha embirrar comigo outra vez. Já não sei viver sem ser em permanente estado de alerta.
No fundo, desejo que a operação não lhe modifique muito o feitio. 


4 comentários:

  1. Bem sei, bem sei o que sentes. Senti o mesmo com a gata que tive anteriormente. Esta ainda é mais louca, mas ainda não a esterilizei...A ver vamos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Esta é o cúmulo da loucura. Mas faz-me pena, coitada.
      Enfim, são só uns dias.

      Eliminar
  2. Anónimo29/4/17

    Sei tão bem o que sentes....Mas digo-te não quero voltar a passar pelo que passei,desde o momento de a deixar lá até ao dia de começar a ser ela novamente, acho que fiquei com cabelos brancos ;) Já não me atrevi a ir com ele também.
    Beijinhos Azulinha bom fds
    Miss curvas

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também a preferia parva e brava como ela é a isto, que não se parece com nada. Coitadinha.
      Obrigada, Miss Curvas, bom fds para ti também.
      E beijinhos :)

      Eliminar