21/03/2017

O problema não sou eu, são eles

A geladaria tem todas as mesas ocupadas, excepto uma. Ainda me encontro a pagar o que vou consumir, pelo que não ocupei essa mesa, que considero — pelos vistos, mal — que apenas será minha quando estiver servida. Entra um grupo e senta-se, ocupando-a, antes de fazer o pedido. Pergunto à funcionária (que está francamente maldisposta, quem sabe se por estar a trabalhar a um domingo, e que já maltratou duas meninas diante de mim), se pode ser assim, chegar e sentar antes do pedido. A mulher tem um ataque, ruboresce e enfatiza-se toda: "A sala é livre, cada um senta onde quer". Ocorre-me a súbita vontade de me sentar atrás do balcão, aos pés dela, impedindo-a de trabalhar.
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Entro na farmácia, peço Ben-u-ron e a ajudante pergunta-me para o que quero aquele medicamento. Procede exactamente da mesma forma se eu for lá comprar pensos rápidos ou uma chucha. São ordens, aquela desculpa-caldeirão onde tudo cabe. Respondo que é para a eventualidade de ter febre e dores musculares. "E quem é que lhe receitou o medicamento?". Pergunto-me se inquirirá da mesma forma para uma chucha, mas digo, calmamente: "Ben-u-ron? O médico...?". Mas ela é detective da bata branca e quer falar. "Qual médico?". Perco a paciência, a tal que é curta, e atalho: "Se não quiser vender-me Ben-u-ron, eu posso ir a uma das mil farmácias e parafarmácias que existem aqui à volta". 
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O vendedor do Barclaycard* vê-me surgir ao fundo do corredor e a linguagem corporal dele diz-me que me vai abordar pela enésima vez desde tempos que não contei. Fico nervosa por constatar que a escolha é feita em função da apresentação da "presa": nos dias em que me visto safoda, sou ignorada; nos outros, é um martírio de pedincheiras. Contorno o stand pelas costas, estou quase a safar-me dele, quando me apanha no fim do atalho. Lá se me escoa a curta, e vai de indagar: "Se me viu ao longe, viu que eu contornei o stand para o evitar, percebeu que eu não quero o cartão que está a vender, o que é que o leva a tomar uma atitude dessas?". Deixo-o a rosnar um "Antipática", ou lá o que é. 
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Na loja onde compro os collants, que toda a gente sabe qual é, tenho sempre, sem excepção, problemas de comunicação. Estou a ponderar seriamente tomar um calmante — ou um relaxante muscular — cada vez que tiver que lá ir. Exemplo: peço collants pretos, opacos, tamanho M, com compressão. Existe algo mais específico do que isto? Na Calzedonia*, sim. "Mas por que é que quer levar esses e não estes que estamos a promover agora, que têm função push up, a malha é muito mais bonita e o conforto não se compara?". Apetece-me sentar no chão a espernear, a gritar como uma criança birrenta e malcriada, "Mas por que é que não posso levar os collants que quero levar? Eu quero os meus collaaaaaaants, mamãããããã!".



* Ninguém me paga para me calar.

6 comentários:

  1. Anónimo21/3/17

    Se lhe serve de consolo, não está sozinha. Já me aconteceu isso tudo (na loja das meias não, mas é só substituir meias por roupa). E o que me dana, lixa, tira do sério, essa cena manhosa do cartão do tal banco! Se eu for de ténis, carteira a tiracolo, com um ar de quem não tem onde cair morta, ignoram-me. Se for aperaltada não me "deslargam" da mão. Não há pachorra!
    AL

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    1. Dá claramente para se fazer uma espécie de "teste", se hoje a roupa está bem ou não está bem, lá nos parâmetros dos senhores.
      Também parece que vem tudo ter comigo :)

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    2. Anónimo21/3/17

      Os meus amigos e familiares dizem que eu atraio maluquinhos... e é bem possível. Quando lhes conto as minhas (des)venturas riem à gargalhada e dizem "isso só a ti, a mim/nós nunca acontece nada". Será um dom que eu (nós, LB!) possuo? :D

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    3. É uma espécie de super-poder, sim! :)

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  2. não é justo, Calimero, dixit!
    beijinhos, Linda.
    Mia

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    1. E Scar, que tem a primeira deixa d' "O Rei Leão": Ohhh, a vida não é justa, pois não?
      Beijinhos, Mia :)
      Boa noite

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