19/08/2016

E eu que adoro crianças

Tenho à direita, sob um colmo, pai, mãe e duas filhas, que ora atendem por Cuca e Chica, ora por Carlota e Francisca. Têm 6 e 8 anos, não sei se respectivamente. Gritam de boca aberta e olhos fechados, o nariz na direcção do céu, uns quantos decibéis acima do que estou capaz de suportar. Nenhuma das duas tem já idade para birras daquelas e daquele tamanho. Ou melhor, para birras. Os pais cuidam delas como se, em vez dos anos que efectivamente têm, tivessem os mesmos, mas em meses. O pai pega numa ao colo, leva-a para o mar, fica a outra a berrar aos ouvidos da mãe. E aos meus. Estão ambas vestidas até ao pescoço, com camisolas de bodyboard e braçadeiras. Há um momento em que a mãe as despe, e ficam ambas integralmente nuas. Tanta cagança, e depois...
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Tenho à minha esquerda um tiraninho de dez meses, sentado numa piscina que as duas lacaias, mãe e avó, andaram a encher com água do mar. O pequeno homenzinho grita a cada pequena contrariedade, nem que seja porque uma gota de água que ele próprio chapinhou o atinge. Ambas as mulheres caem em credos e ais de cada vez que o despotazinho abre as goelas. Um dia, bate nas duas. 
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Está uma família inteira debaixo de um colmo, onde se incluem três gerações. Há tios, há tias, há uma avó, há gente de todos os tamanhos e feitios. Uma exclama para um miúdo gritão:
- Tem que aprender a lidar com a frustração.
O petiz esmifra-se em berros, e ela conclui:
- Tem que aprender a ouvir.
"Tem que aprender a calar-se" - grita-me a mim, a minha impaciência.
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Passam alguns casais com um filho ou dois e os pais de um deles. As férias ficam caras, e a desculpa de trazer os pais, para ajudar com as crianças, é sempre altamente circunstancial. É como a daqueles casalinhos que se passeiam no IKEA com a mãe de um deles. Esquemas bem montados, mobílias por montar, vidas por construir.
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Observo ainda que continua a existir um tipo de pessoas que acha que ter tido um filho foi a coisa mais extraordinária que podia ter feito na vida, e que mais ninguém é capaz de fazer semelhante obra. Mais: que ser pai porreiro é o pináculo da condição humana, e que dar um bom espectáculo nesse sentido é uma porta aberta para ser considerado o macho Alfa do areal. Ter sobrinhos, então, é o máximo dos máximos a que um homem pode aspirar em termos de família bem constituída. E que mais ninguém no mundo inteiro conseguiu fazer sobrinhos tão fantásticos como eles, que são thios.
Um ferro, como diria o Dâmaso.
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Um dia, encontro a praia ideal.
Que não me polua as vistas com toneladas de celulites e tatuagens sem nexo. E que não me polua os ouvidos com estas infâncias tão sonoras.
Estou velha, minha gente.

18 comentários:

  1. Sou a última pessoa a criticar a educação que os outros dão aos filhos, se bem que há pais que deviam levar umas palmadas, eu às vezes também (nenhuma das situações mencionadas).
    Ali pelo quarto exposto que expostas (apeteceu-me ser Blue e "pleonar") verifico situações de idêntica gravidade naqueles casais que apesar de viverem na sua própria casa continuam a levar a roupa ao fim-de-semana para a mãe lavar ou a própria mãe deslocar-se a casa para fazer limpeza e passar a ferro.

    Aguenta firme e come uma bola de berlim.

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    1. Também não passei por nenhuma, daí esta soberba de andar a criticar os outros. Nem é tanto da educação que dão aos filhos, é mais da que não dão. De qualquer maneira, a que estou a dar também não é perfeita...
      Muito boa, tua pleonação :)
      Essas autonomias em que os "miminhos" se mantêm, sobretudo os financeiros, são, no mínimo, engraçadas.

      Já vão 4, em 4 dias.
      Vou ficar tão redondinha como uma bola...

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    2. Deixava aqui a receita refrescante - para um final de dia ao sun7 :)- refresco para >18, mas com a tua média já deves estar farta de maracujá! :)
      Boas férias!

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    3. Não eras tu querias bolas de alfarroba?
      Este ano havia, pelo menos no algarve.

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    4. Não enjoo de maracujá, Té. Chuta :)

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    5. Também tenho visto passar as de alfarroba, Me. Mas não sou lá grande fã. A minha cena é maracujá e ando a ponto de enjoar :)

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    6. Cá vai;
      1 lata de polpa de maracujá + 1,5lt sumo de maracujá + 1 garrafa de vodka + 1 saco de gelo
      Para um jarro, grande, utiliza metade de cada "ingrediente". Junta açúcar a gosto (+/- 2 colheres de sopa) e Mistura bem.
      Serve bem fresco! - LB, bebe-se que é uma maravilha. atenção! :)

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    7. Ai, ó Té, com este calorzinho tão bom, que já não é aquele exagero que já foi, isto é uma tentação diabólica :)
      Ou de como é bem verdade que um comentário bem merece ser transformado em post!

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    8. Conhecia uma assim. Tinha empregada para ir lá uma vez por semana, e os restos dos dias levava a mãe lá para casa para tomar conta da criança e a mãe aproveitava e dava um jeitinho à casa, passava a ferro etc... Pior do que isso tinha duas casas de banho e utilizava uma semana sim semana não para a empregada só ter que limpar uma e ter que lhe pagar menos horas, quando soube esta escaquei-me a rir. Há gente muito marada.

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    9. São as mesmas que depois aparecem nos programas de Extreme Couponing e Extreme Saving, que lavam os dentes com a água do autoclismo, e ainda a reciclam para lavar os pés, cheios de transtornos obsessivos. Devem chegar ao fim do mês com 9 euros num frasco de poupanças e o rabo a cheirar a mentol :)

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    10. LB, para grande apreciadora de maracujá, acho que sim! vais gostar!!!...depois conta :)
      Boa continuação de mergulhos no mar!
      Bjo

      (desculpa esta misturada por entre assuntos/comentários...)

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    11. Vou, pois.
      Conto. Vamos lá a ver se mantenho a sobriedade... :)
      Obrigada, Té!

      (mi casa es tu casa)

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  2. Esse fenómeno dos pais nas férias é mesmo verdade??
    Este ano, pela primeira vez fui com a minha sogra. Ficou viúva há menos de um ano e decidimos leva-la connosco. Curiosamente, pagámos nós a parte dela na casa. (Por insistência nossa)
    Mas tive uma colega que se vira e diz "ah ir com os sogros é bom, assim pagam eles"
    A sério??!! Fiquei parva (mas levou resposta e meteu o rabo entre as pernas)

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    1. É mais do que comum, tido como normal e consensual para todos os envolvidos. Como também nunca gozei dessas benesses, não consigo perceber quem as usa...

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    2. Pior, faz-me "espécie" que o digam assim à boca cheia, como se de um feito orgulhoso se tratasse. Por Deus!

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    3. Quando a vergonha não é nenhuma, diz-se tudo à descarada. Ter uma criança ainda é ter uma arma poderosa, para algumas pessoas...

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  3. Odeio crianças que gritam,que guincham, que fazem birras por tudo e por nada. Estas férias gramei com um puto aí dos seus 4 anos (estrangeiro) que dentro da piscina estava sempre os gritos, não a falar alto, gritos mesmo, para o pai tudo normal. Filho meu enquanto não parasse de guinchar não punha os pés na piscina.
    Essa dos sogros não me admira nada, há gente para tudo. Este ano por acaso a minha sogra tb foi connosco, tudo pago por nós claro, mas apenas por 5 dias, o restante foi passado só nós 4. É tempo importante para o casal.

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    1. Eu também tenho uma dificuldade muito grande em aturar o ruído pelo ruído. Criei quatro pessoas, que, obviamente, todas abriram as goelas em público uma vez, mas não repetiram, nem aquilo se prolongou mais do que uns segundos. Utilizei sempre a táctica do inesperado, que resultava infalivelmente: olhos nos olhos, as duas mãos nos ombros da criança gritona e um firme "Já chega". Só o espanto, calava-os.
      Também passei uns dias de sogro em férias, no ano da viuvez, e nunca me passou pela cabeça obrigá-lo a repartir despesas, ou sequer a pagar a parte dele. Mas isso também posso ser eu, que tenho os bolsos rotos e as mãos largas :)

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