Tuas mãos, mãe, era um poema que fazia parte de um livro da escola primária, mas eu não me lembro de que ano, nem se era meu ou não. De qualquer maneira, as professoras da minha escola não seguiam os livros, mas tínhamo-los meramente porque faziam parte do programa obrigatório. Assim, de pouco manuseados na aula, passavam a muito explorados em casa, e eu perdia-me por horas no meu e no dela, que tinha histórias fantásticas, como a d' O macaco que perdeu o rabo. Se pensar nisso, quase não me lembro dos meus livros da escola, mas guardo várias recordações dos dela.
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Assim me veio parar às mãos o Tuas mãos, mãe.
Copiei-o com o maior desvelo e cuidado, para uma folha branca, com a minha melhor letra — e devo ter posto a língua no canto da boca, e a cabeça naquela posição meio de lado, com os olhos a pouca distância do papel, não porque visse mal, mas porque o rigor assim o exigia —, e depois desenhei uma mão de unhas compridas, que era a mão da minha mãe — mas que ficou tão mal desenhada, que ainda hoje me contraria lembrar-me do quão bonita ficou a letra e quão torta a mão da minha mãe. E também me lembro de como fiquei envergonhada por ter copiado um poema para a minha mãe a tratá-la por tu, mas era assim que estava no livro.
Dei-lhe o papel dobrado, cheia de inseguranças e dúvidas, ela abriu-o, leu e desfez-se num sorriso tão bom e bonito, e tão cheio de brilhantinhos (as crianças vêem coisas que os adultos nem imaginam), que as dissipou todas. Pegou-me ao colo e abraçou-me, e depois cobriu-me de uns beijos que me duram até hoje. E guardou o papel, muito bem dobrado, até há tão poucos anos que acredito que ainda sobreviverá nalguma caixa daquelas que nunca mais se abrem, mas que encerram a papelada mais importante das nossas vidas: bilhetinhos de amor e amizade, postais ilustrados, pactos de sangue umbilical — como este, que nos fez eternas pelas mãos dadas.
A minha mãe tinha e tem as mãos mais bonitas que eu algum dia vi. Eu desejava crescer depressa, só para ficar com umas mãos iguais e poder pintar as unhas de encarnado.
Nunca mais encontrei o poema das mãos, mas tenho-as a ambas comigo. Não há vez nenhuma que lhe pegue nas mãos para lhas arranjar, que não me lembre Tuas mãos, mãe. Do conteúdo, não me lembro, mas sei que falava em pétalas e flores, e acho que lágrimas.
Hoje demos as mãos, como o faremos para sempre. Levei-lhe vernizes novos e cantámos-lhe os parabéns. E as mãos da minha mãe ficaram mais bonitas do que nunca.
É muito bonito esse amor que tens pela tua Mãe :) que ela tenha ainda muitos anos de vida ao teu lado!
ResponderEliminarBeijinhos :)
É tão grande, mas tu sabes do que eu falo :)
EliminarAssim o espero...
Beijinhos, Estudante :)
Beijinhos , Linda Blue.
ResponderEliminarMia
Beijinhos, minha querida.
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