Cada vez que me lembro que a nossa história esteve envolvida em tragédia, penso em reverter o tempo e reescrevê-la, desmorrendo o meu pai e pondo tudo no devido lugar.
Trazia-te na barriga há sete meses e disseram-me para correr, que o pai estava mal, e olha que eu corri, se corri, ainda me estou a ver rua acima para o táxi, as duas mãos na barriga, a juntar os dedos — Pai Nosso, que estais no céu —, só não fui a rebolões porque a rua era uma rua a subir e a gravidade não deixa, quanto mais a gravidez. Assim que me apanhei nas escadas, pedi que me confirmassem, Não é, pois não?, mas as cabeças a fazer que sim empurraram-me em mais essa subida — Pai Nosso, que estais no céu, o meu pai, o meu bebé —, e foi nesse dia que eu soube que eras uma menina. Disseram todas as pessoas que trabalhavam com o Mestre — o Mestre, era o teu avô — que era uma tradição empresarial, só filhas e só netas, e foi verdade. Adivinharam eles o que a médica não tinha conseguido visionar naquela maquineta que tudo vê e nada lê.
Cada vez que me lembro que vesti vestidos pretos em cima de ti, cobre-me o remorso de uma coisa que sabe a mágoa e eu mudava hoje, assim pudesse. (Deve ser por isso que só me visto de cores boas no teu dia, que é tão só nosso.)
Vieste uns dias depois do dia, à força de facas — e eu, feita mística, lia nos sinais o sentido que as coisas me faziam, que éramos nós duas que não queríamos separar-nos, e que só uma espada o faria, mas nem mesmo assim para sempre. E passou a existir-nos para sempre, tu e eu.
Era azul toda a roupa que tinha à tua espera na mala do amor. Tinha sido azul a minha primeira camisinha, que também foi a tua, de tão nossa. Trouxeram-te num berço cor-de-rosa e eu queria chorar porque era a única que ainda não te conhecia, desacordada que me puseram sem te ver nascer. Calhou-te uma mãe assim, tão cheia de defeitos como todas as outras melhores do mundo, mas mais ainda o de ser parva de amor e querer chorar nas alturas, sem decidir se de felicidade ou de desinfelicidade. Estava tão tola de saudades — até tolas nos põem, para além de fracas —, que vi na tua carinha cor-de-rosa de cabeça perfeita o teu avô, que devia estar tão feliz quanto tu e eu.
Aquele laço que comecei a tecer muito antes de tu seres tu, fez-se ferro e corrente e âncora — e, no entanto, invisível, liga-nos em uma, como antes da faca — para sempre.
E é azul, o nosso laço, a nossa cor.
Obrigada, minha menina, por vinte e um anos de mãe, num azul tão bom.
Parabéns às duas, que seja um dia cheio de azul e que continues assim... parva de amor!
ResponderEliminarObrigada, Be. Continuarei, sem margem para dúvidas.
Eliminar(E continuaremos, tu e eu :)
Parabéns!!
ResponderEliminarObrigada, Uvy!
EliminarParabéns à azulinha!
ResponderEliminarParabéns à mãe pela força e coragem!
:)
Obrigada, querida!
EliminarBeijinho para ti :)
Parabéns!
ResponderEliminarObrigada, Me :)
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