05/09/2015

Mal falado, malfadado português

Acordei a dormir. Foram poucas horas e o corpo pedia-me o dobro. Readormeci, mas reacordei, adormecida. E vai disto para Pilates, compromisso que tinha com Mimi — passarmos a repartir André Pilateiro, não irmãmente por não ser esse o parentesco que nos une, mas de forma justa: como Salomão fez.
No entanto, deparámo-nos com outro instrutor. Se ela não se importou, eu só faltou exportar-me dali para fora. 
Aos meus ouvidos, ribombaram, em cinquenta minutos, pelo menos cento e cinquenta "tá?". Sim, fizeram bem as contas: mínimo, três por minuto. Ora, vamos lá a ver: há quem chame bengalas a estes vícios de linguagem. São os portanto e os desta vida verbal. A bengala "tá?", a terminar 70 % das frases, a mim, de certa forma, embalou-me, em não podendo estraçalhar-me os nervos adormecidos. 
Também fui atingida pela redundância "a vossa coluna dorsal" e, quando a minha esponja letárgica chiava "Não! Mais não!", já ele complementava o ramalhete com um "descer para baixo". 
E depois, "A perna que está esticada, podem trazer ela para o peito". Ou, em alternativa, "o braço que está junto ao corpo, vão trazerê-lo para cima". 
Só isso pode explicar que tenha acontecido, por duas vezes, que, diante do comando "posição de quatro apoios", eu me tenha virado de peida para o instrutor, e só uma discreta gargalhadinha da Mimi me tenha, vá, despertado, senão de Morfeu, pelo menos a (in)consciência. E também que, depois de vagamente ter ouvido "sentem-se sobre os pés, braços esticados para a frente" (posição virados para Meca, como diz Pilateiro, com tanto espírito religioso), eu tenha tido a nítida sensação de ter adormecido por segundos. E foi uma turma inteira, já a erguer-se sobre os seus pés, e de novo o risinho amado, que me tiraram, a gruas e alavancas várias, daquela letargia, enquanto me fazia a promessa mental de só lá voltar a pôr os pés e os decúbitos todos quando Pilateiro, o belo, puser lá os dele também.
"Tá?"

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Nem no corpo, nem na cabeça, nem nos ouvidos — na alma! :P

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  2. Negociámos um preço e passo eu a dar(-te) as aulas.
    Assim, acabam-se as angústias, tá?

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    1. Adjudicado, tá?
      Mas eu acabo-te com as bengalas.

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