afinal, só sofria de unhas compridas. Vi-a arfante e inchada das penas, pousada no mesmo poleiro durante horas (que eu desse por isso, pelo menos das 8:30 até às 15:30), temi-me por ela e achei que estava em pré-morte. De todas as vezes que fui lá conversar com ela, mal me respondeu, com um daqueles piares sumidos que denunciam tristeza, dor ou mal d'amour, que, no fundo, são uma e a mesma coisa. Ocorreu-me, então, que podia ser efeito das unhas compridas, e eu, conforme já aqui disse sobejamente, sou manicure de pássaros e pessoas frágeis, que, no fundo, também são uma e a mesma coisa. E resolvi que era melhor aparar-lhe as garras, enormes. Pousei a gaiola na bancada da cozinha e fechei a porta, não fosse uma das gatas pensar que era dia de mudar de ração. Meti uma luva de borracha na mão esquerda e essa mão dentro da gaiola. Os dois passarinhos começaram a voar alvoroçados, cruzando-se um com o outro no brevíssimo voo, desenhando X dentro da gaiola. Mas eu apanhei um e fiquei com o peso sem peso na mão esquerda, que tinha a luva (cobardia minha, os meus passarinhos não me picam, nem mesmo quando lutam para se libertar do que os prende. Cada bico-de-lacre pesa seis gramas. São seis gramas distribuídos pelo corpo de um passarinho diminuto). Depois soltei-o e ele voou um bocadinho pela cozinha, feliz e assustado. Se pudesse, dava-lhe liberdade janela fora, mas isso seria a morte dele e a minha tristeza, dor ou mal d'amour. Voltei a agarrá-lo e cortei-lhe as unhas com o corta-unhas, que é com o que corto também às gatas. Pensando nisso por este prisma, sou manicure veterinária, é o que é. Meti o passarinho de volta na gaiola e percebi que tinha cortado as unhas ao que não aparentava estar doente. Por isso, agarrei no outro e repeti a operação, tim-tim por tim-tim, liberdade na cozinha incluída. Coitadinhos, precisam de uma precária de vez em quando. Foi nesse momento que, comparando os dois, percebi que era a fêmea, Bianca, que tinha estado com ar de quem ia morrer dali a pouco — drama queen, a dama, não achou melhor modo de chamar a atenção para a necessidade de tratar das unhas, do que ameaçar que se morria em breve, caso não lhe arranjassem uma manicure, já!. Neste caso, uma pedicure.
Está mais viva do que eu.
Drama queen :P adoro essa expressão!
ResponderEliminarA tipa deixava-se morrer, de unhas gigantes! :D
EliminarOlá LP,
ResponderEliminarTudo bem feito.
E limar ?
Apenas faltou no final o Betadine !
Tão fundamental como o corta-unhas !
Adoro bicos de lacre !
Bom domingo !
Beijo,
José
Não limei, era suposto? As perninhas são tão fininhas, tenho medo de lhas partir... e aquilo de sentirmos o coraçãozinho desgovernado na nossa mão, a mim tolda-me o raciocínio...
EliminarBeijo, bom domingo.