28/09/2015

Dias de flores

Ontem escrevi isto: 
Os que nos partem — nas acepções todas que encerra esta expressão — deixam-se ficar em todos os lugares que frequentámos com eles, e às vezes até noutros que nunca vimos juntos. — na Miss Smile.

E hoje: 
Hoje era o dia em que nasceria quem nunca nasceu. É um dia que podia ser feliz e nunca chegou a ser. Cabe-me cobri-lo de flores, o melhor que eu puder. Mas só o tempo faz essa tarefa por nós. E eu já consigo, porque passaram muitos anos. — numa resposta a um comentário que recebi.

Ou quem não se sente, mas todos temos dias de sol, ainda que o astro ande escondido. E todos temos dias de sombra em pleno Verão. Um dia, saberemos cobrir estes últimos de flores — as mesmas flores que começam por ser de luto e de dor, transformadas em flores de aceitação e de paz, viçosas por regadas a muitas lágrimas, mas que o tempo e o vento ajudam a secar. 

6 comentários:

  1. Querida Linda Blue,
    Pois eu, hoje, estou em dia de "abaixo as flores. morram as flores. pim às flores".
    Desejo-lhe um dia bom,
    Outro Ente.

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    1. Querido Outro Ente,
      Esses são os que eu chamo dias de tempestade (obviamente roubado de um título de filme).
      Li o seu post após ter publicado o meu e pensei no quão a vida consegue ser irónica e inconveniente. As palavras para si, ponho-lhas no local próprio.
      E desejo-lhe um dia com todo o sol que possa receber.
      Um beijo,
      Linda Blue.

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  2. É verdade que o tempo tem poderes terapêuticos. Sara feridas e ajuda-nos a ver as coisas em perspetiva. Quando a dor esmorece, aprendemos que os cardos tanto podem ser espinhos com flores amarelas, como flores amarelas com espinhos, que uma nuvem tanto pode ser sinal de bom ou mau tempo. Que a essência da vida reside precisamente na sua duplicidade. E que é essa duplicidade que a torna una, como o direito e o avesso de um vestido. Embora não coincidam, são a mesma coisa.

    Um beijinho, querida Linda Blue

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    1. Perfeito, Miss Smile. Disse exactamente o que eu quis dizer, mas de uma forma muito mais simples e poética. Obrigada, minha querida.

      Um beijinho para si.

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  3. Isto foi o que escrevi hoje:
    Mentem-nos quando dizem que o tempo cura tudo.
    Não há dia nenhum que as saudades não cresçam
    Fazes-me demasiada falta. E nestes dias em que as memórias são demasiado fortes, dói muito.
    Hoje dói-me tudo.

    Hoje é um dia negro, de tempestade. Amanhã será um novo dia que espero conseguir ver pequenas flores. De paz, não de aceitação. Essa há-de chegar.

    Um beijinho grande querida Blue

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    1. Querida Ana Paula, acredita que ninguém mente quando diz que o tempo tudo cura. Salvo uma única excepção — aquela de que nenhuma mãe e nenhum pai quer ouvir falar —, todas as mágoas saram, mais tarde ou mais cedo. Hoje é negro, amanhã cinzento, depois azul muito clarinho. E outros negros virão. E mais azuis, cada vez mais intensos. Um dia, os negros serão antracite, chumbo, e, por fim, cinzento escuro, salpicados de uma transparência cor de alívio, pelo fim da tormenta.
      Dá tempo ao tempo, e procura o azul onde ele estiver. Porque esse, garantidamente, está lá, à espreita, e não esmorece nem esbate.

      Beijinho abraçado. Muito.

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