Anda a acontecer-me amiúde.
Nunca tive imaginação nenhuma. E agora estou pior.
Não sei como é que continuo a encher páginas e páginas de blog, meu querido buraco, como quem enche um chouriço.
Acho que esmifrei todos os assuntos. E, mesmo assim, continuo, feita compulsiva, como se isso me trouxesse outro benefício que não o de exercitar os dedos neste teclado que parece um piano Steinway Model Z (fui ver à nettinha, claro, eu lá sei mais do que Yamaha, e vá lá que não os confundo com as motas), o que também não tem qualquer tipo de vantagem, a não ser que as artroses não me chateiem tão cedo, e possa continuar a usar anéis sem problemas.
E a falta de imaginação é um flagelo que afecta todas as áreas da vida de uma pessoa humana, em a tendo. A mim, já me afectou a da comida. Passo noites em claro a tentar decidir o que é o almoço. E tardes em branco a pensar o que poderá ser o jantar. Encontrar um prato que agrade a tantos, seja fácil de fazer — que a minha vida, parecendo que não, não é só isto e aquilo, além do que sofro de preguiça e pernas inquietas —, não fique estupidamente caro e tenha os ingredientes todos em casa, é apenas comparável à metáfora da lança em África, o que significa, à partida, falta de pontaria, falta de força de alcance e distância com alvo irrealizável. Metáfora por metáfora, melhor se aplicava a do burro a pão de ló, só que aqui ninguém zurra — a não ser eu, quando me embruteço, designadamente por não encontrar o menu ideal do dia —, e não me parece que o pão de ló seja alimento para gente esperta, para além do que jerico nenhum, por muito bom burro que fosse, sobretudo se se tratasse de uma fêmea, permitiria ser sujeito a semelhante dieta, quanto mais não seja porque engorda.
A desimaginação já me dominou de tal modo, que ontem pretendi fazer um prato de esparguete com camarões — mas daqueles congelados e mirrados, que devem ser criados em aquários de subcave, não pensais vós que me alimento a pão de ló — e não tinha delícias em casa, o que até parece uma contradição, em se tratando da minha. Sem as delícias, o prato parece uma esparguetada de esparguete, e contam-se os camarinhos pelos dedos de uma só mão. Precisava mesmo de acrescentar qualquer coisa, e o que é que me ocorreu?
Tremoços.
Os tremoços são o marisco dos pobres.
E depois, mordia-os, um a um, para lhes tirar a casca e metê-los no tacho?
Só desisti por isso (preguiça, again, não que alguém protestasse pela falta de higiene. Acho eu).
Mas ficou-me cá a ideia: quando não souberes o que juntar à mariscada da tua vida, deita-lhe tremoços.
Foi o que fiz, agora mesmo, neste post.
Tenho de jantar em tua casa :P
ResponderEliminarA tua escrita é única, até com tremoços
beijos :)
Pois tens :P
EliminarExactamente o mesmo que eu acho da tua. Sem tirar nem pôr (tremoços e tudo).
Beijos, Imp :)
A imagem de te ver a arrancar as cascas dos tremoços e a coloca-los no tacho...n é das melhores, vá ;)
ResponderEliminarMas fica a dica.
Opa isso é uma luta diária p mim. O q raio faço p jantar.
Depois comia-os, onde é que tinha coragem para os descascar e pôr para o lado? :D
EliminarÉ preciso ser muito artista. E quando uma pessoa inventa um prato que é um sucesso, yey, e passadas duas semanas é que não e not e ai enjoei?
O mais pequeno cá de casa ainda n reclama, felizmente :)
EliminarAproveita, porque, como sabes, isso não dura sempre (embora os rapazes facilitem muito mais do que as raparigas. Comem de tudo e muito :)
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