Que maçada. Já não bastava a minha vida altamente sobrecarregada com tudo, para ainda ter que encontrar uma tia, mas a mais tia de todas as tias que eu conheço, no elevador de uma superfície comercial. Entrou a tia, e eu quase de caras na porta do elevador — adoro andar de elevador, mas sinto-me à mesma como se fosse andar de avião, que detesto, e fico de nariz de fora do cubículo, a respirar o ar cá de fora, quase até ao fecho das portas —, nem pude simular que não a via, porque a tia é daquelas tias que é tudo tão montes de completamente e caturreira, abana tanto a cabeça, que só faltou esbarrar-se comigo, escancarou os olhos e bradou: "Olá, tá boaaa?".
Doce parola deu um beijinho na face tiorra, e depois alambazou-se ao segundo beijinho, olhe, horrível: a tia ao safanão com a cabeça, até pensei que estivesse com algum tique novo, lembrou-me tanto uma personagem do Somerset Maugham, que tem o tique de abanar a cabeça, mas essa tem um motivo tão forte, que de certeza que não é o mesmo que move a tia a mover a tola com aqueles frémitos todos. Deu-me mesmo a sensação que a tia não me queria beijar a segunda bochechinha, e ó que não gostei, então não foi o chefe dela que disse que era para dar a outra face? Ia ficando no ar, com a cara virada para a cabeçorra da tiona e aquela boca instagrameira que uma pessoa faz quando vai dar um beijinho e ele não há meio de encontrar o alvo. Ainda assim, forcei-a a beijar-me o lado esquerdo, utilizando um menear quase igual ao dela, mas menos violento. Depois ela saiu do elevador, a abanar muito a bola, tal e qual a Mrs. Grange do Vidas naufragadas [A indomável, Livros do Brasil, 1971, pp. 81], que nem o bâton pelas beiças afora lhe faltava. Só não pelos mesmos motivos, já disse? Mrs. Grange havia assistido ao assassinato do amante, às mãos do marido, e isso fez com que passasse o resto da vida a "limpar" o sangue dele do peito, enquanto revirava a cabeça na direcção da "chegada" do marido, de arma em punho. Spoilei, peço desculpas.
A sério, leiam. Vale tudo a pena. Sem montes de completamente, nem caturreira nenhuma.
Cá beijinho.
ResponderEliminarMas só um, tio, caturreira, ao cabo e ao resto, sei lá — beijinho bom (spé afastado da cara, só assim no ar, purcósa dos micróbios e assim, tá a ver? Que neura).
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