O caminho de ida serve-me de diapasão, e assim me afino. É um dos raríssimos momentos em que estou completamente sozinha comigo mesma, se não contar com os outros automobilistas. Chego lá, geralmente, com uma conclusão tirada, ou uma decisão tomada, ou uma ideia nova — nem que seja para um post.
Hoje, quando entrei, ia a pensar cá com o meu fecho éclair que prefiro a agressividade explícita à agressividade latente. Fico muito mais segura ao lidar com uma pessoa que seja evidentemente bruta do que com outra que tem um comportamento normalíssimo, cordato, educado, e, de repente, dispara uma bala a despropósito, contra um alvo qualquer, e depois continua a respirar como se não fosse nada. Mas é.
Estávamos aninhadas quando o senhor do Amor me disse que achava que o telemóvel dele, apesar de ligado à corrente, não estava a carregar a bateria. Levantei-me, peguei no telemóvel, verifiquei que estava carregado, e tirei a ficha da parede.
Foi quando a sala foi invadida pelos gritos daquela mulher, e eu nem décimos de segundo tive para julgar que poderiam ser para outra pessoa que não eu.
- O que é que a senhora está a fazer? A senhora não pode fazer isso!
Ainda pensei que ia apanhar um choque fulminante na tomada desligada, que o telemóvel me ia explodir na mão, por ser uma granada disfarçada. E, assim, perguntei:
- Não posso fazer isso, o quê? E porquê?
E, incapaz de baixar o tom, grita-me a pessoa:
- A senhora não pode mexer no telemóvel de um utente! Isso é serviço nosso!
O segundo grito foi o meu catalisador. E, de agredida, passei a agressora.
- Olhe, mas pensa que está a falar com alguma garota, ou quê? E quem é você para me dizer o que é que eu posso ou o que é que eu não posso fazer? Se não sabe o que é educação, também não vou conseguir ensinar-lhe um gesto de delicadeza, que foi o que eu fiz àquele senhor. Portanto, comigo não precisa de voltar a falar, mas é que nem bem nem mal.
A bruta ainda se virou a ralhar com o senhor, mas eu mandei-a calar-se.
Voltei a aninhar-me na minha mãe e depois fui-me embora, com outra decisão tomada: afinal, prefiro a agressividade latente.
Pensando bem, preferia que as pessoas agressivas — eu incluída, no momento em que fui acossada —, fossem todas dar banho ao cão. E cagar à mata.
Apesar do céu azul, ia jurar que hoje fiz a A 5 debaixo de bátegas.
São tão zelosas, as senhoras, não são? Faz cá uma raiva, vê-las ir além do que devem, em particular quando envolve idosos.
ResponderEliminarBeijos, Lindinha. :)
Muito zelosas. E só não a lembrei de que bolsos sai o ordenado dela porque quem fica lá com a minha preciosidade é ela.
EliminarBeijos, Marioca :)