25/09/2015

Alguém escuta?

Quantas vezes tenho que dizer que não me deixem tudo por todo o lado? Que, quando usam o depilatório, e vou encontrar a caixa num sítio, a bisnaga no outro, e a espátula no outro, e, por sua vez, todas fora do armário — e, de todas as vezes, ao fim de vários dias (eu não disse horas) de rogos inúteis, acabo por arrumá-lo eu (e já não falo na papa que fica dentro da sanita, e que nenhuma descarga de autoclismo leva, e só sai quando alguém for lá raspar aquilo à mão) —, o eu rabujar é o mínimo que posso fazer?
Por que é que estão quatro toalhas de cabeça penduradas naquele gancho, se só duas é que usam toalha quando lavam o cabelo?
Qual é a dificuldade de perceber que a almofada deve ser enfronhada dentro da aba da fronha?
Quantas vezes tenho que dizer que faz parte das varandas o parapeito delas? E das sanitas o pé delas? E dos armários, a parte de cima deles?
Será que vou ensinar mais cem vezes como é que se estica uma cama? E quantas vezes mais terei que ver a cara de hah, esta tem a mania de ensinar o padre nosso ao vigário!?
Quantas vezes irei dar com a tesoura da cozinha pendurada de um gancho que não é o dela há 22 anos?
Quantas vezes terei que pedir, implorar, suplicar, ameaçar, bater o pé, a perna, o corpo todo, para que me ponham a porra dos sockbusters nas meias? E as meias fininhas na rede?
Quantas vezes terei que ensinar à mesma pessoa que me ensinou a mim, a dobrar sutiãs?
Quantas vezes mais terei que baixar os braços e fazer eu — porque é para isso que o mundo está preparado —, só para não ter que me chatear? E para que não me ponham o rótulo de histérica?
Ponham-me o rótulo de histérica. Mas façam. Façam pelos mínimos, mas façam.
E sim, sou histérica. Experimentem atirar um copo de água gelada para cima de um cão, sistematicamente. Depois contem-me como foi, de todas as vezes.
O Pavlov sabia umas coisas.
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