21/09/2015

Eu fui ao Rego

É mato — denso e impenetrável —, perder-me em bairros de Lisboa — da Grande Lisboa — com nomes porno-eróticos. Já me perdi na Buraca. Não sei que bairros me faltarão. É ir ver o mapa detalhado da Grande, e vá que descubro mais alguma zona erógena onde me perder. Hoje foi no Rego. 
Eu tinha que ir ao Rego. Aquilo é um labirinto que tenho a certeza que não foi o Marquês que desenhou. Ou então, já estava tão farto da régua que usou na Baixa, que, num dia de bufa mental, tracejou o Rego assim como está hoje. Depois veio um presidente da câmara iluminado e mandou plantar sentidos obrigatórios e proibidos, como quem planta aqueles plátanos que fazem uma alergia boa. E, com isso, plantou uma confusão naquele meu neurónio que conseguiu sobreviver aos plátanos, alguém se lembra? Eu nem quero. Acho que me saíram algumas células nervosas cerebrais pelo nariz, nessa época. 
Hoje estudei o mapa. Foi no Google, e eu, não é por nada, mas acho que o Google Maps também foi desenhado por alguém que sofria dos nervos e um bocadinho de delirium tremens. 
No entanto, foi fácil entrar no Rego. Dei uma volta absurda pela Praça de Espanha, como se fosse uma instruenda metida no Marquês de Pombal, no tempo em que ainda não havia cá aquela maricada daqueles semáforos. Ou se aprendia a sair da rotunda, ou se davam trinta voltas até ao vomitório, tipo Serra do Caldeirão, mas em urbano.
Depois não consegui sair do Rego, que estava muito escuro, e não passava uma alma viva que me pudesse orientar. Vivi dramas. Pensei em parar o carro e esperar que passasse por mim o fantasma da Serra de Sintra, quanto mais não fosse. Podia, nas calmas, dizer-me que tinha morrido ali naquela esquina, que eu até aceitava, mas pedia-lhe orientações geográficas na mesma. Só me ocorria a pergunta estúpida que fiz uma vez a uma transeunte, em pleno bairro de Benfica, Por favor, diga-me: como é que eu vou para Lisboa?, e que me respondeu assim: A senhora quer ir para [nome do meu bairro]?. E foi tão constrangedor. Não sei como não verti uma lagriminha. Nesse dia e neste. 
Saí do Rego por tentativa e erro, ou melhor, por erro-erro-erro: de tanto marrar nas mesmas direcções, resolvi adoptar as contrárias, como fazem os ratos quando estão encurralados e percebem que a saída é noutro buraco.
Não me falem em Rato.


4 comentários:

  1. Sabes, és uma daquelas pessoas, raras, que têm a arte de me por a chorar a rir.
    (A chorar também mas a culpa é das cebolas )
    A tua escrita fez-me bem hoje. :)
    Um beijo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas que bom ler isso, Imp. Às vezes divirto-me a escrever as coisas (a descrever, na verdade). Se faço mais alguém, para além de mim, rir-se com isso, já ganho o dia. :)
      (As cebolas é outro sector)
      Beijos

      Eliminar
  2. O gajo cá de casa, n há mto, trabalhava num escritório coladinho com o rego (ou já era mm rego nem sei bem), pelo q almocavam amiúde por ai, ao q eu, infantilmente, gostava sp de questionar "comeste no rego?". Curiosamente deixou de trabalhar lá...hehehhe

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas isso é lindo e maravilhoso, uma pessoa poder, com tanta propriedade, perguntar a outra se comeu no Rego! :D

      Eliminar