02/09/2015

Eterno recomeço

Estou ali, só ao lado da minha mãe, e mais nada. Surge-me o senhor do telemóvel, com o aparelho na mão, a falar, quem sabe se com o amor. Desliga e diz-me:
- Boa tarde, minha senhora. — E faz um ligeiríssimo aceno com a cabeça, cortês, de outros tempos.
- Boa tarde. — Respondo, a meio-sorriso de meio-gás.
- Lá vamos nós para o nosso calvário.
(Tem graça, sem graça, que ainda ontem escrevi essa palavra.)
- Não sei porquê, vão almoçar e cheira tão bem...
Ele olha-me de frente e eu acabo a frase numa semi-súplica.
- ... dê-me o seu calvário.
Parece-me a cruz dele mais leve do que a minha, hoje. Mas ele queixa-se que tem dores no corpo.
- Essas passam. — Nunca me calo, e isso pode trazer-me problemas.
Vem-me à memória o senhor Queimado,
E desejo, integralmente, que o amor lhe telefone outra vez.



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