18/05/2015

Uns com tanto, outros com tão pouco - Ditado # 16

Se dúvidas houvesse, dissiparam-se-me todas, pelos pensamentos pecaminosos que me assolam em momentos desta vida, de que a quinta subcave do empreendimento do hades me está reservada, verdadeira penthouse lá do bas-bas-fond, espero eu que com cerveja preta a rodos (em garrafa, que eu não prescindo do gargalo, oh Freud, o que é que achas disto?), os meus leitõezinhos — a correr, a saltar, já meio tostados, as peles muito crocantezinhas, meus recos adorados, riquezas da sua avó, e desta Porca que vos avassala e venera depois de mortos, só não vos coroa —, e também favas com chouriço, não o meu prato favorito, mas lá quase. 

Encontramo-nos três, juntas por contingências, mas não amigas. Uma delas olha para mim e olha para a outra e inicia lamúrias pré-época balnear, ou sei lá que raio:
- Estou tão gorda, queria tanto estar assim elegante...
Está, de facto, enorme. Gigantesca. Desculpa-se com uns comprimidos que tem que tomar, olha a novidade, há que séculos e à légua que lhe fiz o diagnóstico, o que ela tem são dois pólos, norte-sul, parece o eixo viário que vem da ponte e acaba lá para Camarate. 
Diz a outra assim para ela:
- É fechar a boca e fazer exercício.

Esta pessoa, que proferiu estas palavras de consolo à pobre gorda barbitúrica, já pesou o dobro do que pesa actualmente. Já foi o dobro da pessoa que é hoje, volumetricamente falando. Mandou fazer a ela mesma um bypass gástrico e passou de 120 quilos para 60. O encolhimento não lhe reduziu o fel para metade, antes pelo contrário: dobrou-lho. Se nunca foi uma gorda porreira e bem disposta, agora também não é uma não-magra feliz. Receio com sinceridade que uma figura assim vá parar à minha quinta subcave. Preciso de descanso. 

Pôs-me aquilo, a mim, na ambivalência digo-não-digo-digo-não-digo. 

Não disse. Uma é gorda, segundo ela, porque toma comprimidos. A outra não é gorda porque tem o estômago, cirurgicamente, talhado ao tamanho de um ovo. Abrisse eu a boca, não para comer, mas para explicar à gorda que a outra só não é gorda porque a comida, embora lhe caiba na cabeça e na boca, não lhe cabe na pança, e o que é que uma e outra pensariam de quem não é gorda nem nunca foi, e oh Natureza cruel, que me fizeste assim? Ainda virava gorda e ex-gorda contra mim, a imprecarem-me de pré-gorda a gordalhufa num ai. 

Eu, não. Fechei a boca, antes que tenha que a fechar aos leitões, por conta de praga rogada pela ex e pela actual.


3 comentários:

  1. E tu fechaste a boca como a outra disse. Portanto, pelos vistos essa receita não serve apenas para perder peso, mas também para nos livrar de sarilhos :P

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    1. Bem visto.
      Mas repara: não segui a receita à rica, não desatei, logo ali, a fazer exercício. Podia tê-las brindado com uma espargata, por exemplo (estávamos na rua, tinha sido quel show).
      :P

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    2. * à risca, genitais :P

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