Nunca como hoje tive a sensação de comandar ao leme um navio, em alto mar, mar revolto, mare nostrum.
Avisos luminosos ao longo da autoestrada VENTO | SEJA PRUDENTE. E eu a ser. No entanto, o boi a abanar como nunca, mas nada que, com maior ou menor experiência de condução, não se domine. Já fiz aquela autoestrada de noite, com chuva, com nevoeiro, com vento e com tudo junto (isso, acho que não, mas é possível). Para lá, a partir de Oeiras e, para cá, até Oeiras, nortada brava, praia do Guincho em dias de (mais ainda) monte de vendavais.
No regresso, passada a parte mais crítica, boi controlado da fúria de Éolo, no final da curva que sai da A 5 para entrar na CRIL, nem me quero lembrar.
Ainda tenho a imagem nos olhos e o som nos ouvidos. A um metro e meio das rodas do meu carro, a uma velocidade de 80 ou 90 à hora, um gato deitado — mas a mexer-se, não sei se pelo impacto, ou por vestígio de vida —, acabado de atropelar pelo carro da frente. Antes de ter tempo de ter qualquer reacção, passei-lhe, também eu, por cima.
A seguir a isto, aconteceu-me aquilo que podia ter sido o meu fim: um ataque de pânico — numa via equiparada a autoestrada, e que não tem bermas de segurança. Ou seja, parar, nem pensar, abrandar é arriscado, pelo que percorri a CRIL toda, até chegar ao desvio para a segunda circular, a dominar a sensação de desmaio, mais falta de ar, mais tonturas.
Eu sou a pessoa que percorreu a A 16 com uma p. de uma cãibra.
Eu sou a pessoa que já tirou dois miúdos do mar, certa de que — pelo menos, quanto a um deles — Este aqui não me levas, senão terás que me engolir a mim também, e eu sou muito mais indigesta.
E sou também a que entra em pânico por ter atropelado um gato.
Aprendam comigo, que eu não duro sempre: diz-me a experiência que, se queres evitar desmaiar, a única coisa que pode reverter o processo é se conseguires chorar.
E foi isto: Linda Porca, não vais ter um acidente e arriscares morrer por causa de um gato! — Oh, mas era um gatinho... — Não, não era, era um gato adulto! — Oh, mas eu preciso de chorar um bocadinho, a ver se não desmaio... — OK, então pronto: era um gatinho. Agora chora, parva.
Chorei, chorei, chorei, toda a segunda circular afora, fiz o luto pelo gato, missa de sétimo dia, e não desmaiei, não me estoirei, nem morri. O gato, ao invés, morreu mesmo, pelo que esta já deveria ser a sua sétima vida.
[Agora vou dedicar-me aos biquinis, já volto]
Chorei, chorei, chorei, toda a segunda circular afora, fiz o luto pelo gato, missa de sétimo dia, e não desmaiei, não me estoirei, nem morri. O gato, ao invés, morreu mesmo, pelo que esta já deveria ser a sua sétima vida.
[Agora vou dedicar-me aos biquinis, já volto]
Obrigada LP, até hoje tinha receio de ser a única alma a ter ataques de pânico com animais na estrada.
ResponderEliminarNunca atropelei nenhum, mas no lugar do pendura já passei por essa experiência. Uma raposa, um cão, um gato e até um pardal, e eu histérica, a soluçar, com suores frios e sem conseguir respirar. Enfim, exagero ou não, é como eu sou.
Também eu. Um simples pombo na estrada obriga-me a travar, a desviar, a abrandar. A ideia de tirar a vida a um animal panica-me. Ainda ontem me entrou um moscardo em casa e eu não o matei. Nem baratas mato (meto-as porta fora). Tenho sangue de barata :)
EliminarEsse sangue, só acredito se te estiveres a referir ao temperamento calmo ;) Caso contrário, eu diria que o que te circula nas veias é, sem dúvida, de natureza calorosa.
EliminarIsto é um desgaste... quando menos se espera, esfarrapam-se-nos os nervos no tempo de um fósforo :)
EliminarHoje todo o concelho é Guincho, está completamente selvagem.
ResponderEliminarLP quase me fizeste chorar, que cena horrível...
Bom a sério, deve estar lá, na praia do Guincho. Já nem imagino chapéus de sol a voar, mas pessoas e tudo. E os surfistas em kitesurf involuntário :)
EliminarQue susto, este vai-me ficar :-|
Nunca atropelei nenhum animal (pelo menos que me tenha apercebido), mas já tive que me desviar de um gato. No entanto nunca comprometerei a minha segurança se isso implicar escolher entre ter um acidente ou bater no animal. A minha vida e a dos que vêm comigo no carro estão em 1º lugar.
ResponderEliminarDito isto, no teu caso e se tivesse sensação de desmaio acho que teria parado assim que tivesse entrado na CRIL. Tens lá uma especie de berma (que não é), mas metendo ali os 4 piscas a malta ía-te contornar ;)
Verdade, embora ali eu nem tivesse tido tempo de escolher. Ele estava literalmente debaixo da roda quando eu percebi do que se tratava. Ainda por cima, era tigrado de castanho e cinzento, só faltava ser da cor do asfalto...
EliminarVerdade, também. Fui muito estúpida. E, imagina, pus-me a imaginar o que seria de mim se parasse o carro e desmaiasse lá dentro, sozinha, numa via daquelas. Só quem já vai muito tonta é que faz estes raciocínios.
;)
Cuidado! Como pessoa informada que parece ser e com o devido insight, estará ciente dos riscos que correu desnecessariamente...
ResponderEliminarPerdoe-me o atrevimento do comentário
Ora essa, não é atrevimento nenhum. Devo antes agradecer o seu cuidado.
EliminarDesta vez, vejo a experiência como um aviso e uma aprendizagem. Provavelmente, não haverá próxima. Se houver, espero lembrar-me do que não fazer, ou seja, quase tudo o que fiz desta vez.
Obrigada :)
Gatos um, coelhos uns 3/4, até pássaros já matei. Custa sempre. E o que mais custa é mentalizar-me que na maioria das vezes não me posso desviar pois isso seria acidente na certa...
ResponderEliminarBeijos
Ainda me faltam 3 ou 4 coelhos e alguns pássaros, então :)
EliminarTenho que ir mais vezes ao Alentejo.
Isso. Sem alternativa que não fosse ainda mais prejudicial para mim...
Beijos
Por aqui tens uns extras. Raposas e javalis. Estes últimos são coisa para magoar a sério :-)
EliminarBeijos
Javalis, dispenso :)
EliminarAqui há uns anos, houve uma época em que apareciam na A 1 com alguma frequência, e ainda morreu gente à custa deles. Lembro-me de uma miúda de Santarém, por exemplo. Aquilo é um porquinho que se transforma em boi, vade retro!
Beijos