22/05/2015

Eu tenho problemas com tudo # 5

Estava aqui em projectos, planos e mapas para o fim-de-semana, e a tentar perceber por que é que não consigo combinar nenhum evento pós-praia, sem antes ter que passar por casa e autoinflingir-me um potente jacto, acompanhado de purgativo detergente, qual criolina, procedente de banhos purificadores a que me sujeito amiúde horas antes.

É que é assim (como diria essa grande mestra da comunicação oral, Pita Corada): eu pano-me.

Conforme já explanei fartamente — não confundir com gordamente, neologismo acabadinho de sair deste forno crepitante que me encima o corpaço —, eu atinjo o areal, praticamente o alvejo, toda gordurosa de factor 50, e imbuída do luso espírito conquistador, dominador e colonizador: vou para montar arraiais, armar a barraca, criar as raízes, fundir-me com a terra, içar a bandeira.

Ai, que exageros, que estúpida. Vou nada: vou para espetar o pau (chiu) na areia, esticar a toalha e deitar-me em cima dela, mal saia do mar. Mais nada. Estava só a florear a coisa. A grande questão, aqui, a roçar o fracturante, é que já lá chego engordurada — por favor, mais uma vez, não confundir com gorda —, e, por mais anos que passem sobre estas carnes mais ou menos fartas, e também exaustas, a realidade é que não sei comportar-me na praia. Vejo pessoas crescidas ali deitadinhas, um dia inteiro, ao solinho, ora viram a franga para um lado, ora giram a toalha para o outro, e saem da arena (a palavra-mãe é a mesma, apeteceu-me, posso?) totalmente impecáveis, cabelo alinhado, roupas engomadas, pele de galinha tostada, um luxo — prontinhas para qualquer sunset, para sorver o bom do croquete até atingir a dúzia, a tirar as flácidas de misérias maiores, porca miséria.

Já eu, não. Começo a lide esticando a capa, toureando a brisa, ou o vento, tudo conforme se a vaca que se me apresenta é mansa ou brava, respectivamente. Normalmente, o rectângulo da toalha fica, como hei-de dizer?, num desarranjo semelhante ao intestinal. Às vezes, não corre uma aragem, daquelas de nem a bandeira indicadora se mexer — o que, convenhamos, é tenebroso. Uma pessoa também aprecia um certo agito. Sal é igual a vida, ou é a vida que precisa de um pouco de sal, mas a ausência de vento e águas paradas é sinal de sal a mais —, falta de vida, e é por isso que o Mar Morto tem aquele nome funesto de defunto. 

Depois, deito-me nela.

Às vezes, caio em cima dela, tal é a falta de graciosidade com que se dá a investida. Marro-a, em suma. 

Se tenho a veleidade de me virar, procurando consumar um parafuso perfeito, ou seja, que o corpanço fique no exacto local onde estava, pese embora a alteração de frente para verso, já começa a saga: sem me aperceber, fico fora dos limites da toalha, iniciando, assim, o panado arenoso. 

Depois farto-me e vou banhar-me — não confundir com encher-me de banha ou banhas — marchando, a passos firmes (lá estou eu, não é nada, vou aos pulinhos se a p. da areia está a ferver, vou aos zigue-zagues se não está — não vá vir atrás de mim alguma cobra, e sempre a despisto) em direcção ao mar. Habituei-me desde antes de nascer a nunca vacilar e entrar logo, quer encontre a hidrosfera em modo glaciar ou fervente (pronto, é uma hipérbole), até mesmo porque tenho que atravessar através (redundância absolutamente necessária, chiu) de uma enorme mancha masculina que se prostra à beira-mar, quais leões-marinhos, sem juba mas muitos dentes (esta foi só para ver se ainda estão atentos, mas já requer altos conhecimentos em termos de fauna) que, esteja a jogar à bola, esteja a conversar com um grupo de senhoras, esteja a fingir que toma conta da criança, ergue e segue com os faróis qualquer fêmea que penetre a dita mancha num raio de cinco quilómetros, a cinco quilómetros à hora. 

E saio, salgada. O que inclui, naturalmente, a crina.

E repito a panação, já anteriormente iniciada segundo a lógica gordura (formosura) mais areia. 

E ainda me salgo mais umas quantas vezes, até ser arremetida pela perdurável sensação de estar toda a picar e me pôr mas é a andar dali para fora, ou para outro fora, pois fora já eu estou, uma vez que me encontro ao ar livre, livre de preocupações, ónus ou encargos, tal como um passarinho. 

Regresso, então, à grande capital, inteiramente panada, de sal e areia, a picar como um ouriço cacheiro de picos invertidos, cabelos em desalinho, no ar, ar de louca no forno ao sal e sem batatinhas. Expliquem-me só como é que é possível ir directa, neste plangente estado, para onde quer que seja, que não seja uma banheira a fervilhar de ácido clorídrico, muriático, ou, vá, sulfúrico.

20 comentários:

  1. Eu é mais com post enormes :P

    (...não sei o que diz o post, mas...)

    Que és um bocado problemática, és. :P :P :P

    ("problemas com tudo" = problemática!?! Nice?? ...Nice.)

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    1. Este não é enorme, só se for no sentido de magistral, magnânimo, magnífico — enfim, mag.
      Eu, nada: as coisas é que não me correm a contento :P
      (E incompreendida)

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  2. Também não percebo. Mesmo não sendo grande fã de estar estendida no areal, adoro uma boa esplanada de pé na areia e umas banhocas de mar. E invariavelmente, depois do salitre e da brisa do mar (trá lá lá lá lá lá), saio sempre de lá com uma esfregona na cabeça.

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    1. Eu regresso uma salina, não percebo as penteadinhas. Bem vejo que não saem da toalha, mas e a areia, não as incomoda? A mim, basta-me despir o bik e já transformo a casa-de-banho numa praia artificial...

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  3. Não sei, mas também não sei como é que há malta que corre 15 km e fica linda e deslumbrante sem uma pinga de suor e mais pálida do que uma lula.
    Quando vou à praia fico tal e qual a carne de porco em salmoura ... e não é bonito de se ver.

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    1. Olha, lá está outro exemplo. Isso era coisa para me transformar num texugo fedorento, e com umas marcas de bronzeado à pedreiro.
      Eu escureço suave e alegremente, nunca queimo. Mas era fazer aquela vidinha de toalha o dia inteiro e não sei se não queimaria...

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  4. Cara Linda,
    Folgo em não conhecer quem não passa por casa entre uma coisa a outra. É que se a beleza é fundamental (e é!) o duche não o é menos.
    Um beijo,
    Outro Ente.

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    1. Caro Outro Ente,
      Oh, se é. E não me chamo eu Cristina.
      Quanto ao duche, ele é-me tão mais fundamental que a beleza (ou hoje estou dada a exageros), que não o tomar se torna impeditivo, mesmo, de me deslocar para tomar um simples cafezinho.
      Não poderíamos perder-nos numa ilha deserta.
      Um beijo também,
      Linda Porca.

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  5. Um texto tão grande para dizer uma única palavra: PORCOS !!!
    Mas não "Lindos Porcos" :P

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    1. Fascina-me a capacidade de síntese, que eu não possuo. Mas repara: punha no corpo do texto "PORCOS!!!" e o que é que meus milhares de leitores iriam pensar?
      Devo tomar isso como um elogio? :P

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    2. Ruborizas-me, que sou tão descaradamente tímida :P

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  6. Não sei se já reparaste, mas é a ÚNICA que anda há dois meses a falar de praia (minimo).
    Eu ainda nem tirei os colants. Só para que saibas.
    Depois no verão falas de quê?
    Dos fatos de inverno, das golas altas, ai que lindas, da lareira e o camandro?
    ;)

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    1. Já há dois? Olha como o tempo passa...
      Por acaso, hoje de manhã, andava pelas ruas desta cidade, ao ar livre, apenas com um vestido branco de mangas à cava, e pensava para com o meu fecho éclair: Em Maio, vestes-te como em Agosto, em Agosto despes-te?
      Vou preconizar o nudismo citadino, não vejo outra alternativa.
      Quanto aos meus temas para o blog, no Verão logo se vê: ou falo do impacto da tendência que estou a lançar, ou torno-me uma erudita taciturna, de cachimbo pelas barbas, e deslargo poemas sombrios e eróticos.
      :P

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    2. "Em Maio, vestes-te como em Agosto, em Agosto despes-te?"

      Eu apoio 100% essa idea. Força nisso !!! :P

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    3. Era eu a pensar para com o meu fecho éclair... :P
      De resto, pus a possibilidade da preconização (estou pior) do nudismo citadino, ou seja, colectivo. Achas que devo apresentar o nicho no Shark? :P

      (entretanto, mandei publicar o teu outro comentário — Jedi Master Atomic deixou um novo comentário na sua mensagem "Eu tenho problemas com tudo # 5": Deves :P — e ele eclipsou-se, não me aparece aqui. Vou mas é mandar cortar a cabeça ao blogger :P)

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    4. O comentário está lá, no seu devido lugar :P

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    5. Tubaralhas-me :P
      (subestimas a minha avançada faixa)

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  7. Anónimo23/5/15

    Pois eu sou mais uma que ainda mal tirou os colants, quanto mais ir à praia.
    Gosto de ir à praia mas sou incapaz de passar horas e horas com o corpinho estendido, e cá estou eu...
    Mas quando me dá para isso, sou tal e qual. O meu cabelo fica uma juba, tal é o volume.
    Quanto a ir a casa tomar o banhinho, sem dúvida, nem tanto por causa da juba mas sim porque detesto, DETESTO aquela sensação "colante" e molengona.
    Mas comigo não é só com a praia, sou incapaz de sair de casa sem o meu duche matinal. Se não o fizer ando o dia inteiro mal disposta e nada confortavel.
    Às vezes gostava de ser mais prática mas, a questão do banhinho, é a melhor das sensações. Muda logo o meu humor!

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    1. Eu chego a tomar banho antes de ir para a praia. Então, se treinar antes de ir, é mesmo certinho que o faço. Devo ser muito peniquenta.

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