06/05/2015

Eu tenho problemas com médicos # 16

Já há uma semana que não ia a médico nenhum.
Ontem fui visitar o meu amigo - que aquilo é quase um irmão que eu ali tenho, pese embora tenha idade para ser meu pai (ora, imaginem lá a faixa etária em que o senhor se situa. Nem sei como é que ainda consegue espetar alguma coisa nas minhas pernas, quanto mais uma agulha tão fininha) -, meu companheiro de anos de luta contra o derrame, guerreiro implacável na prevenção da variz, herói digno de medalha de mérito, taça de campeão, estátua em praça central, altar de santinho bom, determinado a manter-me a fama de miss hot legs da minha rua (que, conforme sabeis, é constituída por três prédios). Pronto, do meu prédio. Vá, da minha casa. OK, do meu quarto. 

(Porra, lá exagerei na dose, não sei o que é que ele me injecta nas veias que me põe assim por vinte e quatro horas. Depois passa)

(Ou então, foi da mocada)

O gabinete é composto por mobília.
A marquesa, onde o meu bom médico mas espeta, fica encostada a uma parede.
Trata-se de uma parede falsa, daquelas em pladur, esse rico material que fornece alguns constrangimentos no seio de agregados familiares, e, no limite, entre vizinhanças - naqueles prédios em que o mestre de obras se excitou tanto com a poupança nos materiais que abusou na substituição dos tijóis (é uma piada, mesmo, lá calma) pelo cartão-plástico que parece parede.
A pessoa deita-se na marquesa, parece mesmo que está com Freud. Só que este, em vez daquele bloquinho paneleirote e do lapinhos para fingir que assenta tudo o que eu gemo, mune-se de seringa e vai disto no espeta-espeta em meus membros inferiores. E sou eu quem lhe faz psicoterapia a ele, e não o contrário: deixo-o desabafar dos filhos, dos netos, do papagaio e da coxa, e sinto-o francamente mais aliviado de cada vez que acaba uma sessão das nossas.
Aquilo é cena para se assemelhar a uma assadura do frango no espeto, em que eu faço as vezes de frango e ele daquelas senhoras da touca branca, que vão lá pincelar o bicho de onde em onde. Tenho que ir rodando sobre mim mesma, para que ele possa proceder ao espetanço em todos os graus das minhas pernas, até perfazer os 360. 
Ora, a marquesa é estreita. E eu estava distraída com o telemóvel, enquanto ele, por um lado, tratava de mim, pelo outro me contava lá das vidas dele.
No momento de me virar de barriga para baixo, enfiei uma cabeçada na parede falsa, mas uma coisa tão em cheio, que o pladur tremeu todo, qual 1755, mas mais em bom e em valente. Deu direito à preocupação - um bocado exagerada, mas trata-se de um cavalheiro - dele, à entrada da empregada, em pânico (a secretária dela fica do lado oposto da parede que eu tentei rebentar à carolada) e ao meu pré-pânico Ai Jesus, que o meu seguro não paga uma parede nova (que eu cá caguei na cabeça). 
Mas fiquei bem. 
Foi só mais uma, no fundo.
E há que ver o lado positivo da coisa: se tivesse sido na marquesa do Freud, teria sido muito mais grave. Nem quero imaginar o que é que ele escreveria no bloquinho paneleirote.

8 comentários:

  1. Oh linda porca, os posts servem para contar novidades e não coisas corriqueiras do dia a dia que já fazem parte da tua vida :P

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    1. Oh Jedi, tu achas? :P
      Mas se eu não tenho nada para contar... :-|

      Ah, já sei: era uma vez um gajo que estava sentado num banco de jardim num parque cheio de baloiços e crianças saltitantes barulhentas... :P

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  2. Não li o post, mas saquei esta frase: "O gabinete é composto por mobília."

    Num dos livros do "Patinhas", que eu devorava noutros tempos, recordo uma vez que o Pateta estava a contar a sua história de vida e começa por dizer: "Quando nasci, eu era uma criança..."

    Topas a analogia, ou tenho de explicar?
    :p

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    1. Percebi perfeitamente, sobretudo o paralelo que fazes entre o nome próprio da personagem e o adjectivo :P

      Depois do Patinhas, leste mais algumas coisas, presumo :P

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    2. Fases bem, em presumir...

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    3. Sou uma presunçosa insuportavelmente doce.
      Cá beijinho, Old Friend :*

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  3. Ahahah, não podes ir ao doutor, LP :P

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    1. Pois não. Qualquer dia, nenhum tem agenda para mim :P

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