Biquinis e aventais

Há dois anos que se anuncia uma tendência de moda, no que aos biquinis se refere, que me intriga, assusta e põe de sobreaviso. Ora, de sobreaviso contra o quê? Eu cá sei. 

Quanto a mim, estou descansada. Para além de ter idade para ter juízo, não gosto dos modelos. No entanto, temo-os. 

Problema 1 - Demasiado caros: nenhum destes biquinis ou fatos-de-banho custa menos do que cem euros. Leram bem. Vinte contos de reis pelo trapo folharudo para levar a banhos.

Problema 2 - A marca pioneira (Cantê), ou seja, a que inventou os primeiros modelos, utiliza, mais do que qualquer outra, miúdas magras, giras, bem feitas, e a quem estas couves lombardas ficam bem. No entanto, temos que A mulher portuguesa quer-se pequenina e gordinha como a sardinha, e também temos uma vasta mancha de miúdas cheias, baixas, de pernas tortas, com celulite desde os 16, com cabelos que não vão produzir aquele efeito com aqueles modelos, que não bronzeiam daquela forma uniforme e bonita (solário?) e, sobretudo, que não levam o pincel do photoshop atrás delas para a praia. 

Problema 3 - Isto é só um suponhamos: a pessoa compra um biquini destes e depois anda o Verão todo com o mesmo, certo? Ou como é que se livra das marcas de uma montanha de trapos a traçarem-lhe a barriga? Compra vários, todos iguais, exponenciando, desta forma, o problema 1?

Problema 4 - Depois de molhados, os folhos não se colam à pele, como qualquer laçarote ou pano solto de um biquini vulgar? Ou não se vai ao banho, porque aquilo é só para o desfile?

Problema 5 - Como é que se veste uma coisa destas?

Problema 6 - Como é que se despe uma coisa destas?

Problema 7 - Evocam-me uns aventais floridos e folhudos, quase-quase as batas das empregadas, que acompanhavam os meninos à praia, juntamente com as titis, e ficavam à entrada da barraca, a tomar conta da sesta, ou encarregavam-se do almocinho, amorosamente acomodado no cestinho de verga, enquanto as titis faziam croché e conversavam umas com as outras, sob o olhar condescendente do banheiro — numa época que eu cá sei.

Aliás, digo mais: gostasse eu dos biquinis dos folhos, tivesse eu idade parva para os usar, e fosse a pelintra que sou, adquiria na retrosaria da área da minha residência um destes monstros e era assim que me apresentava no areal: em grande estilo.