08/05/2015

O meu sangue é para maricas

Inspirada pela Uva Passa, pus-me a pensar em todas as vezes que fui dar sangue, na beleza do meu acto, no quão divertido foi (ora vede, em não sendo sensíveis, o filme que preparei, há três meses, com tanto carinho, e que nunca postei, porque sou este poço de abnegação, mulher poema vestindo amor — Marco Paulo, pois claro  — cara de anjo devasso, doce parola... onde é que eu ia? Ah), no quão bom é aliviar-me de meio litro de mim, nas vantagens a todos os níveis que daí me advêm, designadamente nos descontos que tenho nos hospitais privados — onde tudo é mais limpo, mais chique, mais eu, e onde os maricas, de certeza, não põem os pés, quanto mais o rabo — , nos hospitais públicos, onde sou mais povo e também adoro, mas onde, de certeza, também não há maricas, no centro de saúde e nos supermercados, é só benefícios, ou seja, zero. Pois que fiquei a saber que os maricas não deviam dar sangue, vai na volta e também não podem receber, mas ó: só falta um mês para poder voltar a dar do meu — sou mulher, sabem?, só posso dar de quatro em quatro meses, senão já iam ver —, ou seja, tenho um mês para reflectir as exactas palavras que vou redigir no questionário que preencho, de todas as vezes que lá vou dar-me, e onde me perguntam todo o tipo de indiscrições, como, por exemplo, se, nos últimos seis meses, mudei de parceiro sexual. Capaz — ninguém duvide, que, senão, eu mordo até fazer sangue — de escrever lá assim: 

Não permito que o meu sangue seja transferido para o presidente deste Instituto, a menos que ele seja homossexual, nem para o jornalista João Miguel Tavares, idem. Para a restante comunidade gay, estais à vontade, que, de onde este veio, há mais, e eu volto daqui a quatro meses com mais.

(A Compal não me pagou para isto)

8 comentários:

  1. Estou contigo nesta luta!!!

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    1. Qualquer dia, não aceitam sangue de negros, depois de mulheres, depois de gente com olhos azuis, depois de analfabetos, e vai num virote.
      Até parece que lhes sobra sangue e não andam sempre aflitos com campanhas.

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    2. Em resposta a tua pergunta no blogue da Uva, SUBSCREVO!
      Falta agora a resposta da Uva :p

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    3. Já somos duas, então :)

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  2. Mas tu filmas isso para quê?
    Vais vender à TVI para fazer campanha?

    (Agora sem brincadeira: antigamente as pessoas vendiam o sangue aos hospitais, depois isso acabou, mas até lá havia muita malta a definhar na rua. Pensava-se que era de fome, mas era de andarem a exagerar nas vendas.)

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    1. Foi mais a pensar no Canal 18... :P
      Olha, para abrir os olhos aos outros maricas, que não são homossexuais, para que vejam que não custa nada — se até esta nica de pessoa, idosíssima, é capaz (e até o faz a rir-se, a tonta!), porra, de que é que estão à espera?

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  3. Só dei algumas vezes, mas evitava olhar.
    O essencial sempre me pareceu é que façam análises para terem a certeza que podem utilizar o sangue, o resto parece-me muito estranho e sem sentido

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    1. Não custa nada.
      E fazem análises, tanto fazem que nos mandam a mensagem com o resultado delas uns dias depois. Eles sabem que as pessoas mentem no questionário e não podem arriscar.

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