15.40
Chegámos a casa.
Leio convocatória para uma Assembleia de Escola. Não sou eu o representante
neste órgão. Ou sou eu? Então, quem é? Continuo sem certezas. Nunca tenho certezas, e isto é capaz de ser patológico. Ou socrático. Começo a fazer
lanches. Enquanto torro pão para uma e aqueço leite para o biberon do rapaz,
dou bolachas a todos, saídas da mochila de uma e também do armário da cozinha.
Faço SMS para avisar da convocatória. Entrego o biberon ao rapaz, enquanto
barro manteiga nas torradas da M. São todas M, as minhas meninas. M de minhas,
M de meninas, sou eu a mãe, M de mãe. As outras duas M decidem que querem uma
sanduíche de fiambre cada uma, mas uma quer que seja torrada, e a outra não. Eu
preferia que ambas quisessem torrada, para me facilitar a linha de montagem, que eu inventei, mas não existe.
O
rapaz não começou a beber o biberon, mas começou a esfarelar uma bolacha de
chocolate para o chão. Pegou num toalhete e desatou a “limpar” a mesa, o chão,
e disparou para a sala, onde “limpou” mais mil coisas, de entre as quais os
vidros das portas da sala, tudo com o mesmo toalhete. Uma das M bebeu uma
caneca de leite, a outra uma caneca de leite com chocolate, e a outra dois
copos de água. O rapaz, cansado de tanta limpeza, o toalhete desfeito em farelos, começou, finalmente, a tomar o leite e eu fiz um telefonema. Falei
para o 'voice mail'. Antes assim. Arrumei a roupa do fim-de-semana – dois
cestos. Recebi o telefonema de volta. O rapaz foi fazer chichi e chamou-me para
ver. Tem dois anos e meio, tenho mesmo que ir ver. Uma das M quis uma fatia de
melancia, que eu cortei e tirei as grainhas. Desesperada, mudei de
blusa. Aspirei o local onde o miúdo esteve a comer bolachas. Tirei a louça da
máquina. Fiz um café para mim. Outra M quis um copo de água com açúcar. Eu achei insensato — porque ainda acho coisas —, e disse não. Outra M quis uma fatia de melancia. Eu disse não — “vais ficar com a barriga cheia de água da melancia, em cima do leite”, argumentei. Mas ninguém me ouve, fale devagar, baixinho, sensatamente (sei lá o que isso é) ou aos gritos.
São 17.30 e eu estou nas lonas. Vou abrir camas. Enquanto abro as camas, penduro vestidos e calções. Uma das M fez chichi no chão. Dei-lhe uma palmada no rabo e limpei o chichi.
São 17.30 e eu estou nas lonas. Vou abrir camas. Enquanto abro as camas, penduro vestidos e calções. Uma das M fez chichi no chão. Dei-lhe uma palmada no rabo e limpei o chichi.
17.30
Dói-me a palma da mão.
Dói-me o pulso.
Dói-me a alma.
E uma pessoa quase que se esquece como é que era...
ResponderEliminarEra non-stop, basicamente...
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