11/01/2016

Passei o dia a voar

[Este título não era para este post, mas achei-o tão bom que não me apeteceu mudar. De qualquer forma, não tenho melhor ideia para o que segue.]
(Eu sei que devia estar a fazer uma referência à morte do David Bowie. Mas hoje não. Hoje não.)

Cheguei com vinte minutos de avanço. Tinha feito uma corrida de 22 quilómetros pela estrada mais parva dos arredores de Lisboa. Dei três voltas a dois quarteirões, passou a hora da reunião e estava a ponto de desistir, quando encontrei um lugar, a cerca de cinquenta metros do portão. Demasiado longe para os meus saltos e para o peso de toda a carga que já carregava comigo, mas, à falta de melhor alternativa, o remédio foi a falta de remédio: dar corda aos sapatos, três lances de escadas exteriores — que me calham sempre salas no pico da pirâmide —, e acho que encontro a sala certa. Entro com cara de atrasada, peço desculpas pelo meu atraso (horário) e sento-me na primeira fila. Não reconheço ninguém, mas nada me surpreende: as mulheres mudam de cor de cabelo com uma frequência avassaladora, os homens perdem-no, uns engordam, outros nem por isso, e eu também estou a deixar de ser boa fisionomista, se é que algum dia fui. A directora de turma fala sobre assuntos que me são estranhos, mas, ainda assim, não estranho. Em cima da mesa, está uma folha de classificação com o nome de uma das minhas amigas. Faço um pequeno raciocínio rápido, Mas a filha dela está no 7.º..., e então digo à senhora que está ao meu lado:
- Acho que me enganei na sala. 
E ela responde:
- Também eu.
Verifico que a folha que tenho à frente é a da avaliação da minha afilhada, e a minha vida parece-me um filme de David Lynch. Se tivesse entrado um anão, a dançar em ladrilho preto e branco, no meio da sala, ia parecer-me a coisa mais normal do mundo. Pensei em beliscar-me, a ver se acordava. Em vez disso, pus-me em pé e disse:
- Acho que estou na sala errada.
E os pais acharam muita graça.
Subi mais um lance de escadas e entrei na sala certa. A directora de turma, artista plástica, do alto dos seus cem quilos, arrastava o discurso: Eles são pouco dinâmicos... eu peço-lhes para fazerem um trabalho sobre uma coisa bastante concreta, que é... têm a ideia... transportam-na para o objecto... ao qual vão dar forma... o objecto não pode ser uma peça estática... tem que ser um objecto que transmita uma ideia... 
Então, sim, percebi que tudo estava, finalmente, no seu lugar: o caos.



8 comentários:

  1. (Joana Vasconcelos?? )
    Eu sou o tipo de pessoa a quem essas coisas estão constantemente a acontecer, o chato aqui é que raramente por minha culpa vou ao desengano.

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    1. (Antes do bypass :))
      Eu acho que fui enganada pelo porteiro. Para me livrar da conversa da treta, subi o primeiro lance de escadas sem lhe prestar atenção, ou ele enganou-se, enganando-me...

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  2. O caos é, por vezes, o melhor lugar para se estar.

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    1. Sendo que, grande parte das vezes, como ontem, olhamos à volta e é tudo o que temos.

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  3. Hehehe, n nas mm circunstâncias, mas tb já me enganei na sala...as pressas geram situações dessas por norma

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    1. Nestas circunstâncias, vou na minha segunda vez :)

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  4. Reuniões com D.T. e Enc. Eduacação ?
    Esquece !
    ( 100 Kg de D.T. ? 4 X o peso da roupa de uma semana ? )
    Horrível !
    L.B. - nada de reuniões colectivas, ir apenas na hora de atendimento do D.T.
    Digo-te eu que sou professor .

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    1. É verdade. Até já tenho treino para levar a DT à lavandaria. Sai de lá num brinco!
      Olha que já perdi a conta ao número de reuniões com DT que já levei nesta vida...

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