17/01/2016

Eu sou aquela pessoa que nunca, em circunstância alguma, deves levar a passear à rua # 26


Existe uma passadeira, na cidade de Lisboa, que foi apagada — como se um apagador gigante tivesse ali passado, por cima dos riscos brancos, como se os riscos brancos fossem de giz, e, por isso, provisórios, como se o provisório do giz fosse menos importante, quando todos sabemos que, pelo menos até há uma dúzia de anos, tudo o que se imprimia a giz sobre negro era, precisamente, o que ficava imprimido a indelével nos cérebros das pessoas pequenas, que são, por sua vez, as mais capazes de tudo e mais alguma coisa nesta vida, designadamente aprender coisas importantes. Assim, como não havia apagador suficientemente potente para apagar aqueles traços definitivos, alguém se lembrou de os pintar, por cima, a negro. 
Tratava-se de uma passadeira que dá acesso a uma escola do 1.º ciclo, o que lhe atribui uma importância superior em relação às outras passadeiras todas, e fazia dela uma passagem superior: ponte de passagem para a outra margem, mas também passagem de gente pequena, superiormente importante. Todos os dias a atravessam pessoas capazes de construir alguma coisa de muito sólido sobre ruínas e destroços. E o tráfego pedonal sobre ela é tão intenso, que pode gabar-se, mesmo, de ter horas de ponta. 
Apagaram a passadeira, para irem riscar uma outra, mais abaixo (ou mais atrás, conforme nos coloquemos posicionados a jusante ou a montante), que nem para os pombos tem serventia, já que esses são doidos como as galinhas, e atravessam onde querem, e a passo de caracol (tem uma pessoa que guinar para não ficar com um deles atravessado na consciência e na grelha). 


No entanto, nem tudo está perdido: uma vez que ali ficou deixado ao abandono o sinal vertical de existência de passadeira, resulta que prevalece a regra desse sinal, indiferente ao facto de estar lá — ou não — pintada uma passadeira.

Já que aqui estou, também digo mais uma coisa ou outra: aquele sinal de aproximação de escola, na realidade, assemelha-se mais a um sinal de alerta "Atenção, pedófilos, raptores e outros tarados afins na área". De todo o modo, está trocado com o que está imediatamente a seguir, que sinaliza a presença de ciclovia.
São vinte metros de mau caminho.

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