Estava eu com medo de morrer parva, e, no sentido de o evitar, pus-me a ver "As 50 sombras de Grey".
Bom, para já, sempre me deu espécie este título, cuja tradução faz com que se perca a metáfora das 50 tonalidades de cinzento, em função do nome do senhor Grey.
Depois, tendo previamente preparado o espírito para um filme de terror sexual, eis senão quando me deparo com uma quase comédia romântica, ao nível de uma "Música no coração", caso esta se pudesse considerar uma comédia e não tivesse aquelas cenas do Edelweiss.
Quando eu era mais pequenina, vi filmes que considerei bem mais escabrosos, o que me leva a crer que, de três, uma: ou estas sombras foram muito e excessivamente publicitadas, ou a América puritanizou-se na era pós-SIDA, ou fui eu que devassei, e, agora, para que qualquer coisa me choque, ou me ligam a 220 volts, ou então, nada feito. Estava aqui a lembrar-me do "Nove semanas e meia", com um Mickey Rourke e uma Kim Basinger pré-botox, ou pré-apocalipse (nunca saberei a diferença entre um conceito e outro).
A história deste, conta-se assim: ela é virgem, conhece-o e morde o lábio inferior. Ele jorra dinheiro, acha-lhe piada, e convence-a a entrar na sala de brincadeiras sexuais dele, para participar como elemento passivo (mais ou menos o papel daquelas miúdas que ficavam a segurar no elástico ou na corda, para nós saltarmos, feitas cabras, mas que, em contrapartida, faziam sempre de cabra no jogo da cabra cega). No decorrer do filme, percebemos que, apesar dos traumas que ele deve ter de infância (por ter sido adoptado com três anos — oh —, e por ter umas supostas queimaduras no corpo — que eu cá não vi, mas que deviam estar estrategicamente colocadas no único local do corpo do homem que não apareceu na fita), e que também fazem por explicar aquela mania de dar tau-tau às meninas, enquanto lhes dá tau-tau (não sei se fui clara), ela está, a pouco e pouco, a conseguir modificá-lo para melhor, ou seja, que ele durma com quem fornica, e que ele faça o amor em vez de fornicar. Aquilo parece mas é um thriller daqueles em que, quando a assassina está quase a ser apanhada, ahh-não. Foi um quase, um falta pouco, um espera aí, que não aconteceu: quer dizer, a menina admite ser dependurada do tecto, amarrada pelos pulsos, em estribos bons para éguas, admite a gravata nos pulsos, admite mãos e pés presos por argolas e chicotinhos e plumas de pavão nos refegos (e consegue não se urinar de riso, nem rebentar com as cordas e sair a galope de cócegas), mas, no momento em que o mocinho lhe aplica seis nalgadas bem dadas, cai na deprê, ai eu não sirvo para ti, vou-me embora a chorar, mas isto assim não me parece nada bem.
Uma nota de rodapé para os dois protagonistas: miss Dakota é um verdadeiro lembrete, um perfeito post-it, que nos impede de nos esquecermos que se trata do produto de uma pinada entre a Melanie Griffith e o Don Johnson. Tem aquele tipo de corpo que só talvez uma menina de 13 anos (ou, eventualmente, nem essas) aspira a ter. E pode ter tido a sorte de não ter herdado a voz de pífaro da mãe, o que só saberemos quando desistir de falar em surdina cem por cento do tempo. Já o rapaz Jamie, era não ter adoptado aquele penteado e não me ter lembrado o amigo Tony vezes a mais, e, numa escala de coirão a pão, eu era menina para o considerar giro.
Eu não vi o filme mas li a trilogia e o livro dele. Sempre achei uma história cómica. Finalmente alguém que vê a coisa como eu.
ResponderEliminarQue fantochada aquela. Mais depressa me apanhavam a ver "O pátio das cantigas".
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