03/01/2016

Desadopção

Pergunto-me: que distância estavas disposta a percorrer para tentar sarar uma dor, replantando o teu pé de laranja lima? A resposta é: 720 quilómetros. 
Separavam-me daquela gatinha 360 quilómetros e eu ia buscá-la. Andava há muitos dias a fazer planos, a dar-lhe nome, a sonhá-la pequenina no meu colo. Agora era Molly. Todas as fêmeas mamíferas da minha casa são M, o que já é uma tradição. Imaginámo-la a integrar-se com a Mia, surgiu até a piada de que ela deveria miar "miaue", por vir do norte. Por qualquer motivo que me escapa, quem no-la ia dar, no último momento entregou-a a outra pessoa. 
As coisas são o que têm que ser. Repito-me isto, o que me explica o inexplicável. Nunca acreditei em forças do destino, nos astros, na vontade de um deus ou de vários, na metafísica, em superstições e predestinações, em esoterismos e em quase tudo o que os meus olhos não possam ver, ou os meus sentidos apreender. Acredito apenas que a vida segue uma linha de razão lógica, e é aí que se encontra a explicação para algumas singularidades que nos acontecem.
Tive pena de perdê-la, por, de alguma maneira, já a ter adoptado. 
Fiquei também aliviada, por não poder, neste momento, deparar-me com um desconhecido que pudesse constituir uma desilusão e, sem querer nem ter disso culpa, me amargasse mais os dias. Mas, e sobretudo, por ainda não ter feito aquela arrumação que é precisa, para que a adopção seja plena, e não feita de bocados desorganizados — como ainda estão os quatro hemisférios do meu coração.

10 comentários:

  1. Querida Linda Blue,
    Posso sugerir que se torne "família de acolhimento" de um gato perdido/abandonado? Assim, apadrinha o animal e "apalpa terreno". Qualquer amargura será compensada pelo sentimento bom que resulta de ajudar o felizardo gatito. Até ao dia em que se sinta "arrumada".
    Um beijo,
    Outro Ente.

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    1. Querido Outro Ente,
      Claro que sim, todas as sugestões que revelam cuidado comigo são bem vindas.
      O problema sou eu, que me afeiçoo. Se acolher um gato, já não conseguirei desacolhê-lo, mesmo que ele seja uma peste.
      Terei que, primeiro, reformatar o coração felino.
      Um beijo,
      Linda Blue.

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  2. Tenho a certeza que irás fazer outro gatito muito feliz, um dia :)
    Leva o teu tempo, a Mel será sempre a Mel, insubstituível, e quando a conseguires recordar sem dor, talvez aí o teu coração esteja realmente pronto para acolher outro, sem nenhum tipo de "se". Nessa altura, tenho a certeza que gato e dona perfeita encontrarão o caminho um para o outro ;)

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    1. Eu também tenho essa certeza, Ratinho. E este é um caminho que terei que percorrer até estar disponível para essa outra adopção. Quero saber o que se passou com a Mel, a ver se, pelo menos isso, me traz alguma calma.
      Obrigada :)

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  3. Anónimo4/1/16

    Mesmo sem a "boa acção" da adopção, que tenhas um ano repleto de "lambidelas" boas, felinas ou não ;)
    Um beijo gigante

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  4. Tudo leva o seu tempo. Tens de te organizar afectivamente para que outra possa vir.

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    1. É a velha e infalível receita da passagem do tempo...

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  5. Foi pena !
    Era mesmo linda !
    Virá outra !

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    1. Pode ser que seja uma pestinha :)
      Sim, isso com certeza.

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