13/01/2016

Dizer e verbalizar

Sinto-me doente, dizia ele, via SMS.
Não corri para casa, porque o dia não me deixava, ou talvez não corresse na mesma, por querer eternamente dominar o ímpeto irreprimível de entrar em pânico a cada dor, a cada ai. Saber encontrar o ponto de equilíbrio entre o que é verdadeiramente importante e o que pode esperar, o que não se deve subestimar e o que tem alguma probabilidade de ser uma chamada de atenção, é uma arte semelhante à do equilibrista da corda bamba, em se tratando da saúde dos filhos. Na equação, entram factores determinantes, como o sexo, a idade, o carácter e as nossas próprias experiências. Entre sobrestimar um pedido de mimo e desleixar uma situação de alerta sério, qualquer pessoa com um dedo de testa, por não precisar de dois sequer, opta pela primeira — tentando, ainda assim, não colocar pulseiras vermelhas em todos os pulsos, a cada queixa.
Encontrei-o deitado na minha cama, prostradíssimo, mas feliz por me ver.
- O quarto ficou mais quente desde que tu entraste.
Mas eu vinha da rua. E ouvi adoro-te.
Passou a noite mal disposto, acordou derrotado e destruído, a febre nos 37,1º, o fim do mundo.
Cheirava a homem, de manhã, no quarto que há tão pouco foi de um bebé, em caminha azul de grades. Fiz entrar o dia, enchi-lho de cheiro a vento. Estiquei-lhe a cama, convicta de que só eu sei fazê-lo daquela maneira que ele gosta. Aprendi com a minha mãe que, por sua vez, aprendeu na Escola de Enfermagem, quando deu lá aulas. Aos poucos, ensino-o também a esticar a cama assim.
- Devia tirar uma fotografia à minha cama, para os meus amigos verem como está esticada.
E eu ouvi adoro-te.
Às vezes, é do nada — que se faz num tudo que é só meu: diz-me,
Anda cá
e abraça-me.
Tive saudades tuas.
Nem precisa de verbalizar. Simplesmente, diz.

7 comentários: