Fiz-te uma cueca!
E passa por mim, a correr, todo vento e júbilo, como se fosse possível correr dentro da casa, que encolhe a cada dia, como se as pernas dele não tivessem, a cada dia, menos espaço para o fazer, fazendo com que ele, corredor, transforme o corredor de casa num eufemismo de si mesmo. E também, a obra reduziu-o para metade do comprimento e da largura, e fê-lo num hall em L. As corridas foram encurtadas drasticamente. Dramaticamente, para ser justa. De vez em quando, ainda lamenta a redução do campo, e pede,
Não podíamos voltar a ter aquele corredor?
(Ainda que pudéssemos, conseguiria ele reconhecer o "relvado" de que dispunha aos quatro anos de idade?)
Eh, que granda cueca!
E corre. O meu rapaz corre. Dá imagens, em corrida por um corredor que já não existe, dignas de posters do mais alto calibre futebolístico. Ele é todo técnica, arte, empenho. Amor.
Ainda tenho a imagem dele, com dois anos, na praia, rabo fraldiqueiro debaixo dos calções, a correr atrás de uma bola, sufocado de riso, gargalhadas redobradas pelos ares, caracóis à solta, todo cheio de sol.
Vá, defende! Hahaha, outra cueca!
Ainda tenho a emoção de ter lido, no cartaz do Dia da Mãe, Gosto da minha mãe porque..., depois de tantos ... é bonita, ... dá-me tudo o que eu lhe peço, ... dá-me beijinhos, a razão de coração dele — ... joga comigo quando eu estou sozinho. E de não ter percebido logo — «Jogo? Jogo o quê?» —, mas a educadora ter explicado:
Ele contou que a mãe joga à bola com ele, no corredor lá de casa.
Maria Chuteira, de salto alto, troçamos os dois.
De todas as vezes que a bola passa, dos pés dele por entre os meus, "vejo-o", fraldiqueiro, perdido de gargalhadas ao vento, e "ouço-o", joga comigo quando eu estou sozinho.
Ele joga, cheio de sol. Eu limito-me a sofrer cuecas.
(Tão boas.)
Filho=alegria. Tão bom, esse amor desalmado!
ResponderEliminarBeijos, Lindinha azul. :)
Mesmo, Maria, mesmo :)
EliminarBeijos, Marioska :)