08/01/2016

É tão pouco blogger da minha parte # 4

Diz que na próxima terça-feira pára de chover, e depois começa o frio — aquele que nós, lisboetas, consideramos glaciar (dos 7º para baixo), que parte os ossos e nos põe a chorar sobre as pedrinhas da calçada, a pingar dos narizes, feitos maricas.
Estava de manhã a tentar fazer qualquer coisa do meu cabelo, que o afastasse e me afastasse a mim da imagem da Ovelha Choné. A humidade no ar não permite nada de muito diferente disso. Hoje até o gaseei: pus-lhe spray fixante, numa tentativa de não o deixar sair do lugar, que é a cabeça. Consegui, por isso, fazer dele uma pasta de humidade e cola. A ideia da chegada do frio consola-me, e penso no quão maravilhoso seria poder congelar a cabeleira, para que ficasse quieta-quietinha-sshhht-quieta. Quem sabe não é essa a solução para a manter alinhada naquele mesmo desalinhamento de que eu gosto tanto?
Falo em gelo e lembro-me da primeira vez que fui ao ski, que não é o mesmo que dizer "vi neve". Já tinha ido à Serra da Estrela, uma vez, em miúda, numa excursão do liceu (um bom parolo já fez, pelo menos, uma excursão à Serra da Estrela na sua vida), e não gostei de apanhar frio e encher-me de cieiro até ao nariz e às orelhas. Tinha um namorado novo nessa altura, e correu-me mal também por isso. A neve só é linda e branquinha nos postais e, agora, na internet. Ao vivo, aquilo é um lodaçal frio e cru, escorregadio e duro como mármore polido. Voltei lá em graúda, mas não passei da Torre, e guardo até hoje a imagem de uma mulher grávida que se enrolou num saco de plástico e desceu uma ladeira de neve a rebolar em movimentos cilíndricos por ali acima (ah, era só para não utilizar a redundância). Coitada da criança. 
Um dia, levaram-me a Baquera. 
(Vamos entrar na época das descrições das férias na neve, e eu, para não parecer irónica, cínica, ou sei lá que coisa pior, descrevo já as minhas únicas, em três linhas apenas.)
Vou-vos poupar à piada do sku, porque nem foi bem isso. Foi mais skornos. Detestei.
Carregar skys e bâtons rampas acima, até chegar ao teleférico, foi um calvário, findo o qual, à chegada às pistas, estava tão cansada que só queria voltar para baixo, nem que fosse a rebolar numa saca plástica, como a grávida. 
A minha aventura esquiadora terminou ao segundo dia. Tinha chegado às pistas há cerca de dez minutos, e já dera de testa no gelo, pelo menos, umas três boas vezes, assim bem aviadas, quando anunciei ao espanhol que me dava as aulas, que precisava de descansar, que ia só tomar um chocolate quente (sou tão metafórica) ali ao bar, e ele que ficasse lá com o forfait, que eu até lho oferecia, adios, niño, hasta la vista, e some-te.
Portanto, acabou. Nunca mais lá me apanharam nem apanharão, e aviso já que não percebo essa do bichinho da neve, que, para mim, não passa de um eufemismo para designar o próprio Yeti.

10 comentários:

  1. Detesto neve. Cresci no norte, onde a neve fazia muitas vezes a sua aparição e nos limitava a vida. Detesto mesmo.

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    1. Eu também. É suja e um verdadeiro empecilho.
      Mas explicar isto ao pessoal esquiadeiro?

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  2. Estou, sem dúvida, do seu lado:)
    Venha o chocolate quente!
    ~CC~

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    1. Nunca vou perceber a moda da neve.
      Metam-me no mar, SFF.

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  3. Como eu te entendo !
    "Skornar" é tipo " andar a cavalo " ...
    Tão bom ,tão bom ...nos filmes.
    Esquece !

    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Citroen_2cv_1949_det.jpg

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    1. Tu nem me fales em andar a cavalo. Só o pitol já me afasta da ideia. Sou demasiado esquisitóide.
      Neve é fixe. Para moasoquistas.

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  4. Parte de mim n se importava de experimentar. Vê la tu q nunca me deu p isso (p o ski). o frio, aprecio bem mais do que a chuva. Permite-me meter os meus chapéus, (adoro chapéus) e tapar este cabelo rato fino como tudo.

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    1. Essa minha parte é que me levou a experimentar. Mas também prefiro o frio à chuva. Só que não o gelo a entrar pelos tímpanos. Nem com aquelas bandoletes de lã. Com nada. Não quero.
      (Acho que ainda não ficou claro)
      Não quero.
      :)

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  5. Ah! Já não me sinto sozinha a maldizer a neve! Fica mesmo gira é nos postais!
    Desde umas férias de carnaval passadas numa estância de esqui em Manzaneda, Espanha, nunca mais fui a mesma. Credo! Mamā, quando voltamos à neve? Calou! Vão quando forem grandes e por vossa conta e risco! Tinha sido sempre má a experiência dos passeiozinhos à serra da estrela, mas andarmos, às 2 da manhã,enterrados na neve e a ser rebocados montanhas acima! "Jamé"
    Areias brancas, palmares e mar! Isso sim!
    :-)

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    1. Olha, eu respondo "Vão vocês, dêem-me o dinheiro do meu forfait, que eu me meto no shopping a comprar trapos e a ser feliz".
      Mar-mar-mar, também eu. Noutra encarnação, não fui urso polar — fui peixe :)

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