Voltaram, os meus pássaros. Levava comigo uma emoção infantil, mas que considerei contida. Vi-os descer a rampa da sala de desembarque, enfileirados, meio sorriso nos lábios, quase adultos.
(A mesma rampa onde, há dez anos, nos esperaram eles, lado a lado; a mesma emoção infantil, só que ajustada nos olhos da infância.)
Despenteados, olheirentos, noite varada num aeroporto, e só uma amostra de sono já no avião.
Evitei ao máximo efusões exageradas, quatro dias não são quatro anos, ninguém foi para a guerra nem veio rescaldado de uma situação de cataclismo. Tenciono poupar o meu coração a descompassos escusados, e também a cenas públicas que possam dar mote a cenas privadas.
(Naquela época, após quatro dias de separação, trazia comigo uma emoção que também considerei contida — até ao momento em que os meus olhos se encontraram com aqueles outros quatro pares, mãozinhas agarradas aos varões do muro, e me desmanchei rampa abaixo, parecia que não os via há quatro anos, mas era um tempo em que ainda podia fazer cenas públicas, ou então as cenas que fazia em público não eram cenas.)
Os primeiros braços que se abriram foram os dele, mas sei que foi porque calhou assim.
(Naquele dia, há dez anos, os primeiros braços que se abriram foram os meus, e apanharam, de uma só vez, quatro corpinhos sedentos de tantas saudades como sedento eu trazia o meu.)
Prendinhas e recordações, que me apaziguaram a perspectiva — que é boa, mas que custa na mesma — de que este voo foi só o inaugural. Recebi uma boneca vestida de azul, directamente das mãos da minha primeira boneca, que eu vesti de azul até à idade de fazer ela as suas escolhas. E ainda me pergunto se foi por isso que, também a ela, o azul lhe ficou como primeira e única opção.
- Eu não trago prendinhas porque já estava com pouco dinheiro. — Avisa ele, e depois completa com os meus pensamentos — O importante é que eu tenha voltado, são e salvo.
Conhece-me tão bem, que me lê e me leva assim.
Estranharam a casa arrumada e fria, quase sombria pela falta das sombras deles.
- Espera, que eu trato já disto. — E foi vê-la pousar mochila em cima da mesa, e de lá sair um mundo de possibilidades de desarrumação e desordem.
Agora sim, tudo está no seu lugar.
Sabe tão bem tê-los à mão de desarrumar! :D
ResponderEliminarBeijos, Lindinha azul :)
É a melhor sensação do mundo, pois a arrumação acaba-nos com os nervos :D
EliminarBeijos, Marioska :)
Estamos sempre a reclamar e depois sentimos-lhes a falta :)
ResponderEliminarAhora está tudo nem :))
Completamente. Aliás, desde o momento em que decidimos tê-los, parece que nunca mais sabemos o que é que queremos da vida :)
EliminarTudo arrumado :)