16/02/2016

É tão pouco blogger da minha parte # 7


Estou na minha Ângela* a beber um cafezinho da paz e há um ecrã na minha visão periférica, que projecta, antes de perceber as imagens, o inconfundível acorde de violino, depois o tum-te-tum—tum-te-tum ainda mais inconfundível: Come on Eileen, Dexys Midnight Runners.

(Esta é bem a única música que tem um início que poderia ser um toque de telemóvel sem se parecer que se mora em Massamá e se veste fato de treino ao sábado. E ao domingo.)
(OK, esta e Suburbia, depois do ladrar dos cães. Ou mesmo durante, pois. Cada um sabe de si.)
(Não sei se já disse aqui vezes suficientes que vi Pet Shop Boys ao vivo e morri de amor eterno. Lá as peles, não sei, mas as vozes não envelheceram um dia, quanto mais vinte e cinco anos.)

Na altura não havia videoclips, eram telediscos, que davam na televisão ao domingo, pela cara e voz do Rui Pêgo, já nem me lembro do nome do programa, nem se era mesmo ele que o apresentava. 
A Eileen dos Dexis tinha este ar de ganda maluca, e eu houve ali uma época em que sonhei que a cabeleireira me tinha cortado o cabelo curto, e, no dia seguinte pela manhãzinha, fui lá ao salão dela, pedi para cortar como tinha a menina na capa de uma revista (havia de ser a Elle francesa, semanal, que a minha mãe lia, e da qual, naquela altura, eu só retirava maus exemplos como este), e depois passei um ano a querer que o cabelo me crescesse à força de tanto o puxar e alisar e deitar álcool no couro cabeludo, porque uma das minhas primas me convenceu que era o truque certo para que ele crescesse mais depressa, desconheço como é que não me emborrachava e nem ganhei o vício, muito frasco de puro a 90º despejei eu na cabeça por conta e risco da mezinha da prima. Sem vício, mas com trauma a cabeleireiras, desse nunca mais me tratei. E também a mania de me linkar a mim mesma, qualquer dia tenho que vestir uma camisa de forças, que isto anda um descontrole desde que descobri o botão link desta porra. 
O que é certo é que no Verão seguinte o cabelo já me dava pelos ombros e isso foi um alívio quase intestinal.
Enquanto não me chegou o pêlo ao ombro e andou pela venta, lembro-me de ter adoptado o estilo Eileen, para disfarçar a grande porcaria, já para não dizer aquele palavrão começado por m e acabado em erda, que tinha mandado fazer a mim mesma. Foi quase um ano a despentear-me de propósito, a meter na cabeça (literalmente) bandanas americanos, e depois a fazer um ar blasé que combinasse com o raio do penteado (vá, usei um eufemismo). Foi também um período da minha vida em que fiquei a saber como é ser sem-abrigo sem o ser: alguns dias, hei-de ter exagerado no outfit wild-parva, que ainda hoje recordo, não sem alguma angústia, o momento em que chegava à paragem do autocarro e as velhinhas verificavam o fecho da mala e se encolhiam aos molhos para o canto do vidro, subitamente cheias de frio (mesmo no Verão).
Isto tudo foram flashbacks, memórias elefantinas, repuxadas das pontas do neurónio sobrevivo, só por ter visto e ouvido o clip dos Dexis.
Já não se pode ir à bica sossegada. 

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* eu devia fazer link para este meu post, que foi o mais lido de sempre, graças às várias linkagens que sofreu, embora seja dos mais nhééé. Está quase nas mil leituras, todos os dias lá vou ver e tem mais uma ou duas. Vai chegar o dia em que aparece com três dígitos e eu faço um post de homenagem a mim mesma. 

8 comentários:

  1. Anónimo16/2/16

    come on LB, linka, linka que vais no bom caminho. :)))
    beijinhos

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  2. Anónimo16/2/16

    aos mil, ou até mil e um, que soa tão bem.
    Uma boa noite.
    beijinho,
    Mia

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    1. Está quase, faltam para aí 30. Tenho que me agarrar ao F5 com convicção :)
      Dorme bem, Miinha.
      Beijinhos

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  3. Confesso, não li o texto. Mas ouvi a música! Adoro.

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    1. Nem é preciso, a música basta-se.
      Há versões mais completas no youtube.

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  4. O que é isso de te linkares, hein? :p

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    1. É fazer o berreiro "Hei, pessoal, estou aqui!" :P

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