26.10.2004
... vinha desde a infantil com o rapaz ao colo. Apesar de a rua ser a descer, quando cheguei à primária lembrei-me da lenda de São Cristóvão, e disse à Ana que não sei como não percebo que o meu menino está cada vez mais pesado. Vínhamos aos beijinhos, porque a espera pela hora de saída dele hoje foi particularmente penosa. Eu tinha muitas saudades. Ele, nem tantas, mas acabou colaborando na pouca vergonha para e por eu o levar ao colo.
Reprobus (Offerus) era filho de um rei pagão. Adquirindo tamanho e força extraordinárias com o tempo, Reprobus resolveu servir apenas aos mais fortes e bravos. Um dia, encontrou um eremita que o educou na fé cristã, baptizando-o. Reprobus recusou-se a jejuar e a rezar para Cristo, mas aceitou a tarefa de ajudar as pessoas a atravessar um rio perigoso, no qual muitos haviam morrido ao tentar fazer a travessia. Certo dia, Reprobus fez a travessia de uma criança que ficava cada vez mais pesada, de tal maneira que sentia como se o mundo inteiro estivesse sobre os seus ombros. Após a travessia, a criança revelou ser o Criador e o Redentor do mundo. Daí provém o nome Cristóvão, que significa "aquele que carrega Cristo". [fonte]
O caminho de terra batida, vegetação selvagem e pedrinhas soltas, que percorríamos, todos os dias, está agora alcatifado de cimento e ordenado de relva geométrica. Também nós nos organizámos de forma harmoniosa: quando lá passamos, a pé, fazemo-lo paralelamente, eu já não o carrego ao colo, já não há beijos. É o mesmo percurso que fazíamos desde o jardim de infância até à escola, onde apanhávamos as irmãs, e depois seguíamos para casa, um enorme grupinho. Por questões logísticas, e de geometria também, ia buscá-lo primeiro. Recebia-o num abraço que ainda hoje dura, levava-o pela mão até à porta do edifício, toda a pulsar de histórias — hoje marquei um golo, hoje caí no escorrega, hoje sujei a roupa com sopa, hoje a Fátima ralhou (muito ralhava aquela Fátima, ainda hoje se tolda o céu de cinzento quando a vejo passar) — hoje amo-te, amanhã amo-te, e, justamente à porta, do lado de fora, não aguentava mais de falta das forças que as saudades nos roubam, e carregava-o em peso até à escola, ele a cada passo meu mais pesado, eu a cada passo nosso mais leve.
Deixei-o na escola, muito mais longe de casa, agora vamos de carro. A voz é a de um homem, a cara a de um menino, acordado há pouco mais de meia hora. Fazemos o percurso paralelamente, eu já não o carrego ao colo, já não há beijos. Passo-lhe a mão no cabelo, depois na linha do rosto, ele sai do carro, desejo-lhe um dia feliz, e preparo o coração para as saudades que vêm aí. Ainda assim, há um compasso certo, por sabê-lo mais leve, a cada passo nosso.
Reprobus (Offerus) era filho de um rei pagão. Adquirindo tamanho e força extraordinárias com o tempo, Reprobus resolveu servir apenas aos mais fortes e bravos. Um dia, encontrou um eremita que o educou na fé cristã, baptizando-o. Reprobus recusou-se a jejuar e a rezar para Cristo, mas aceitou a tarefa de ajudar as pessoas a atravessar um rio perigoso, no qual muitos haviam morrido ao tentar fazer a travessia. Certo dia, Reprobus fez a travessia de uma criança que ficava cada vez mais pesada, de tal maneira que sentia como se o mundo inteiro estivesse sobre os seus ombros. Após a travessia, a criança revelou ser o Criador e o Redentor do mundo. Daí provém o nome Cristóvão, que significa "aquele que carrega Cristo". [fonte]
O caminho de terra batida, vegetação selvagem e pedrinhas soltas, que percorríamos, todos os dias, está agora alcatifado de cimento e ordenado de relva geométrica. Também nós nos organizámos de forma harmoniosa: quando lá passamos, a pé, fazemo-lo paralelamente, eu já não o carrego ao colo, já não há beijos. É o mesmo percurso que fazíamos desde o jardim de infância até à escola, onde apanhávamos as irmãs, e depois seguíamos para casa, um enorme grupinho. Por questões logísticas, e de geometria também, ia buscá-lo primeiro. Recebia-o num abraço que ainda hoje dura, levava-o pela mão até à porta do edifício, toda a pulsar de histórias — hoje marquei um golo, hoje caí no escorrega, hoje sujei a roupa com sopa, hoje a Fátima ralhou (muito ralhava aquela Fátima, ainda hoje se tolda o céu de cinzento quando a vejo passar) — hoje amo-te, amanhã amo-te, e, justamente à porta, do lado de fora, não aguentava mais de falta das forças que as saudades nos roubam, e carregava-o em peso até à escola, ele a cada passo meu mais pesado, eu a cada passo nosso mais leve.
Deixei-o na escola, muito mais longe de casa, agora vamos de carro. A voz é a de um homem, a cara a de um menino, acordado há pouco mais de meia hora. Fazemos o percurso paralelamente, eu já não o carrego ao colo, já não há beijos. Passo-lhe a mão no cabelo, depois na linha do rosto, ele sai do carro, desejo-lhe um dia feliz, e preparo o coração para as saudades que vêm aí. Ainda assim, há um compasso certo, por sabê-lo mais leve, a cada passo nosso.
Tu ainda o carregas no colo...
ResponderEliminarBeijo
E carregarei, mesmo se um dia (oxalá nunca chegue) tenha que carregar-me ele a mim.
EliminarBeijos
Vamos aprendendo a acertar o coração com o compasso certo :)
ResponderEliminarUm beijinho, querida Blue
É a defesa que ele tem, para que não dispare irremediavelmente :)
EliminarUm beijinho para si, querida Miss Smile
Olá LB,
ResponderEliminar... " Passo-lhe a mão no cabelo, depois na linha do rosto, ele sai do carro "... acabaram esses beijinhos melaços na despedida...coitado do rapaz !
Aposto já : foi ele a proibir !
Certo ou errado ?
Cenas melosas à porta da escola ??? :)))
Um Homem não aguenta !
Pobre " Reprobus " !
Mamãs ... ;)
Credo.
EliminarCredo.
Credo.
Credo.
:)