Tinha que ser um momento único e, por isso, se calhar, calhou no dia 29 de Fevereiro, que peguei na caneta do teste e li as riscas azuis na janelinha que diziam grávida lá na língua dos cientistas. Tinha que ser numa hora única e, por isso, se calhar, calhou ser de madrugada, e tive que voltar para a cama, portadora efectiva de um enorme alvoroço e de ti. Avisei o teu pai da circunstância única que era a proximidade concreta de virmos a ser quatro em casa, não haveria de tardar muito. Mais do que nele, enrosquei-me em mim, em ti, assim tão juntas, como se já não soubesse antes e tivesse acabado de saber que vinhas aí, e adormeci, para sonhar um sonho encantado, que dura até hoje e que eu quero meu para sempre. Davas pulos e saltos numa altura em que não existe, lá na língua dos cientistas, possibilidade de serem sentidos, Impossível, são 3 centímetros de gente, são 4 gramas de pessoa. Mas eu sinto, sei perfeitamente quando ela se está a mexer — ela, foste sempre ela, porque eu já te sabia muito antes de te saber a caminho — e toda a gente se ria da minha certeza, menos eu — e tu, às cambalhotas. Então, chegaste, gordinha e viçosa, de pulmão largo e perna decidida, a gritar vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, meses a fio, até estarmos todos doidos, menos eu (que já era, também por ti) — e tu, aos gritos. Aos nove, puseste-te em pé e andaste, ainda nem os dentes haviam chegado. E eu, desta vez eu, Impossível, são 70 centímetros de gente, são 9 quilos de pessoa. Mas fizeste-a, mesmo bem feita, e assim prosseguiste o teu percurso, tantas vezes de joelhos esfolados e ranho no nariz, caracóis à solta, e todos os dias ao portão da escola, Mãe, hoje caí.
Hoje olho para ti, e já dou comigo a pensar Parece impossível, são 154 centímetros de gente, são 45 quilos de pessoa — uma mulher enorme, de corpo pequenino.
Que bonito que é o teu grande cabelo pequenino, minha Mimi.
(Pudesse eu ter artes para que todas as tuas perdas se confinassem ao cabelo.)
Que bonito que é o teu grande coração pequenino, Formiga.
(Pudesse eu ter artes para que nunca mais tivesses que me dizer
Mãe, hoje caí.)
Sinceros parabéns à aniversariante.
ResponderEliminarObrigada.
EliminarQue lindo! é um momento de recordações, mas também pleno de presente e futuro.
ResponderEliminarBeijinhos, Linda .
Bom fim de semana,
Mia
É sempre bom vê-los crescer, Mia.
EliminarBom fim de semana.
Beijinhos.
Tão especial, esse amor por um(a) filho(a)! Enche-nos o corpo e a alma.
ResponderEliminarBeijocas, Lindinha. :)
"Muito enóme, muito gigante", como ela dizia aos 4 anos. :)
EliminarBeijocas, Marioca.
Parabéns. Às duas. A todos. :)
ResponderEliminar(Ela levanta-se linda, ela levanta-se!...)
Obrigada, Nê :)
Eliminar(Certamente. Com mais ou menos arranhões, mais ou menos despenteada, mas certamente!)
Às tantas, depois de tanto trambolhão, aprendemos como causa menos mossa e já caímos com mais jeitinho. :))) um abraço e montanhas, montanhas hã, de felicidades.
EliminarPois claro, e um dia até sem a mamã por perto! :)
EliminarObrigada, menina. Abracinho para ti e esses teus dois bonecos que me matam umas saudades...
Querida Blue, que homenagem tão bonita com palavras que derramam tanta ternura. Este amor começa maior do que uma semente pequenina e, assim que eles se desenrolam de nós, não para de crescer.
ResponderEliminar"Pois cada menino nascido faz nascer uma mãe de uma respetiva mulher. Assim, cada novo ser triplica o número dos viventes. Um filho, afinal, é quem dá à luz a mãe."
Mia Couto
Um beijinho com muita estima e muitas felicidades para as duas :)
Querida Miss Smile, muito obrigada pelas suas palavras. Mesmo aquelas que não escreveu, teve a delicadeza de saber escolher.
EliminarNós renascemos a cada filho. Somos várias para o resto da vida. O coração não se divide, mas sim multiplica-se.
Um grande beijinho, com abracinho associado :)
Muitos parabéns à filhota e à mamã :)
ResponderEliminarObrigada, menina :)
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