Não é só o "Olá" nas lojas. O "ó doutor" também me arranha.
Eu sou do tempo em que o título académico doutor era antecedido por senhor ou senhora. Ninguém era "doutor/a". Ou era senhor/a doutor/a, quando no exercício da sua profissão, ou tinha um nome próprio, sem títulos nenhuns, para os amigos. Ora, conforme sabeis, o difícil não é mudar os hábitos, o difícil é mudar as mentalidades. A mim não me faz confusão que tenham "caído" o senhor e a senhora, assim como caíram nas donas, que já nenhuma parece importar-se por ser dona Lídia, em vez de senhora dona Lídia, como antigamente. A regra é terem passado a dÓna Lídia.
No Brasil, é assim desde sempre - doutor e doutora sem o senhor a anteceder. Disse-me a minha preta querida. Mas a questão é que os brasileiros falam a nossa língua com outra sonoridade, e uma musicalidade que o nosso português não tem.
Nem nunca acrescentaram ao título a interjeição
Ó
"Ó doutor, tem aqui o correio", soa a "Ó boi, toma as cartas". "Ó meu ganda FDP, toma lá mais papel para te entreteres a rasgar".
É diferente dizermos ao dentista: "Doutor, dói-me aqui", e dizermos "Ó doutor, dói-me aqui". Parece que o estamos a confrontar com a sua própria estupidez, a chamar um incapaz ou um surdo, que não entende que é para ele que estamos a falar, se não for assim. Ou que estão mais pessoas na sala, e queremos distingui-lo dessas outras. Ou que ele está tão longe que temos que lhe acenar, Ó!
Ó tu que fumas!
Ó palhaço!
Ó cabrão!
Ó vaca!
Ó gorda!
Ó vaca!
Ó gorda!
Nunca por nunca (diz o protocolo) se deve escrever Dr. sem o Senhor a anteceder e por extenso. Mais vale deixar cair o Dr. do que o Senhor. O ó é só possidónio.
ResponderEliminarPois claro!
EliminarMais vale chamarem os bois pelo nome, e admitir calmamente o doutor com o nome próprio da pessoa - tipo "Doutor Fulano, tem aqui o correio" - do que isto do "Ó doutor".
Mas acredita que o Dr. escrito, sem o Sr. a anteceder, está quase. Se já está na linguagem verbal...
Ah, mas o deslizar untuoso nas lojas, o ar de falsa afabilidade, de quem se vem arrimando, perguntando: "posso ajudar", sorriso dentífrico grudado com cola efémera, herdado de sitcoms estrangeiros, também arranha. Se aranha. Entre isso e o Ó doutor, que venha o mafarrico e escolha.
ResponderEliminarTão falsa que basta virarmos a situação do avesso e, se dissermos "Preciso da sua ajuda", o sorrisinho desfaz-se nuns cacos de impaciência que até dói (http://lindaporcaoucheirodeestrume.blogspot.pt/2014/10/o-que-nos-distancia-sao-dez-ou-doze.html).
EliminarO patamar com o Ó doutor é o mesmíssimo, só mesmo o mafarrico pode fazer uma escolha capaz (de undolitá, mas uma escolha na mesma).
Passou-se....
ResponderEliminarSerá que isto já é o processo de partir a loiça toda? :P
EliminarComecei pelos pires da avó...
Ó LP isso diz-se? A malta entra aqui e fica de boca aberta. Ó p'ra minha cara com a boca aberta. É por aí.
ResponderEliminarAcabe-se com tudo. Com os ó doutor, ó senhor doutor, ó pá, essas coisas qua fazem dÓ.
Tratem-se as pessoas pelo nome. Apelido também pode ser. Chico pá posso marcar uma consulta? Por exemplo. E se for Silva, quando é que saltas de Belém? Tudo neste registo. Compreendes ou tenho que fazer um desenho? Tá bem!
Mas o que é que eu disse, ó Observador?
EliminarSim. Compreendi tudo.
Normalmente, as teorias de "acabe-se com tudo" partem de quem não faz a mais ténue ideia do quanto custa queimar a juventude toda a marrar numa universidade...
Compreendes, ou faço o desenho?
Não me fiz entender. Ao dizer que tu disseste deveria ter dito o que tu escraveste :-) (que grande confusão)
EliminarTerás que fazer um desenho.
O 'acabe-se com tudo' surgiu em forma de ironia. Ai essa perspicácia!
Alguém pode sentir-se 'queimado' quando, em boa verdade, não é tocado na sua legitimidade + capacidade? Olha que não, LP, olha que não.
Olha, deste-me foi uma grande ideia para outro post deste género: a beleza das expressões "Não me fiz entender", "Veja se me entende" e "Não percebeu o que eu disse", versus o estiramento do nervo que provocam.
EliminarEstá bem. A seu tempo faço.
A minha resposta mantém-se. Foi exactamente dirigida às pessoas que defendem essa dama. Em algum lado resulta que foi para ti? Não.
Hã? Queimado? Entre aspas? Agora é que me parou a boneca de vez. Está a começar a debotar-me a tinta do cabelo? E eu até escolhi um tom semelhante ao meu original, assim escuro e tudo...
É um 'queimado' a fingir. Aquilo dá forte mas passa depressa.
EliminarIdeias há muitas. Há que aproveitá-las.