19/07/2015

Só por hoje

Ó pá, não me chateiem.
Também estou farta de ser perfeita. De me meter no ginásio para ficar bonita e o tempo correr contra mim na mesma. De me doerem os abdominais e a minha barriga não mudar de tamanho. De me matar a elevar e baixar pesos de 41 quilos — 41, ouviste? Não são 40, são 41 quilos! — e os meus braços continuarem a ser os braços mais gordos de todos os planetas deste universo, e indignos do Guiness. Por falar nisso, tenho que mandar uma carta registada com aviso de recepção para a comissão do Guiness, a ver se eles têm vagar de cá vir ver este fenómeno, ou se me pagam uma viagem até lá onde eles têm a fita métrica para mos medirem. A ver se não me esqueço de levar a máquina fotográfica, para tirar um retrato à cara de estanhados que eles hão-de fazer quando encararem com os meus braços. Vai-se a ver e ainda ficam eles no livro dos recordes, como os detentores das bocas mais abertas diante de uns braços gordos de mulher enervada. É um sector muito específico do livro lá deles, ocupa só um cantinho.
Dói-me aqui.
E a mim dói-me aqui.
Olhem, a mim, eu vou-vos mostrar, graficamente falando, onde é que me dói: abro as duas mãos, os dez dedos bem afastados uns dos outros, e passo-as dos pés à cabeça, como aqueles sensores de metais. Para onde as pontas dos dedos apontarem, é onde me dói. Dói-me tudo. Assumam e aguentem que me dói tudo, por hoje. Se amanhã já passou? Sei lá se passou, pode ser que não. Ninguém me garante que tomorrow is another day. Posso estar pior, o vento pode não me levar tudo, como à outra, e doerem-me mais coisas de mim.
Quero lá agora colo. Ou ombros para chorar. Quero é que não me chateiem. Quero um par de orelhas. Quero que me ouçam, sem me interromperem todas as frases, nem me interrogarem todas as hesitações. (Eu hesito porque me perco, porque tenho diante de mim uma enorme recta, e depois surgem-me atalhos em todo o percurso). Podem até ser orelhas sem ouvidos, desde que me pareça que me escutam. Têm mesmo é que ser duas, que eu me estou a tornar exigente, e já não quero fazer por menos. 
Ou então, vou para o mar. Ouço-lhe os ruídos num búzio, posso perfeitamente responder-lhe por lá também. Faz de conta que é um telefone sem fios. O mar ouve-me as súplicas, que eu já tirei isso a limpo. Posso ter sido pescador ou mulher de um, noutra encarnação. Devo ter chorado muito mar nalguma praia, molhado muita areia com os olhos. 
Ando farta de desertos. 
Estás chateada?
O que é que te disseram?
Mas o que é que tu tens?
Não tenho nada. É capaz de ser esse o problema. Não tenho nada. 
Então adeus. Até amanhã.




10 comentários:

  1. Todos temos os nossos (não) dias. Olha, mas no meio disto tudo, só tenho a dizer-te: eeeeeeeehhhhh peeeeerna jeitooooosa! :D

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    1. Pois temos. A mim, afecta-me o nervico uma horita, escrevo estas coisas e depois passa-me logo.
      São pernas que mereciam outros braços :D

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  2. Só nós é que nos "vemos" por dentro...
    E eu cá só vejo uma mulher muito elegante, ora!

    Beijocas, Lindinha azul. :)

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    1. És muito querida, Maria.
      Eu tenho horas de alguma deselegância. Mas passam rápido.
      :)
      Beijocas :)

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  3. Já gostava de si por dentro, mas agora que vejo um bocadinho da " parte de fora", constato que tudo condiz :)

    Beijinhos :)

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    1. Oh, que querido da sua parte, Miss Smile :)
      Obrigada. Também gosto muito de si, vista de qualquer ângulo.

      Beijinhos :)

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  4. "De me doerem os abdominais e a minha barriga não mudar de tamanho"

    Esta é facil pah. Engravida :P

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    1. Era para menos, pá!
      Mas, já agora: terás tu noção de quantas pessoas eu já pus no mundo? :P

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    2. Puseste? Tipo as galinhas? :P

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    3. Tipo as coelhas :P
      Funny bunny.

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