Lisboa, 21 de Setembro de 2008
Ontem quis fortemente
hibernar. Fui ao IKEA ver de uma mesa para a cozinha, porque a minha família
está a crescer. Não em número, mas em tamanhos. Já não cabemos naquela sem
estarmos à cotovelada. Daqui a pouco, ninguém consegue usar o garfo - e a faca
-, sem o espetar na boca cinco vezes em cada refeição.
Bom, se já me faz alguma confusão entrar em grandes superfícies, com amontoados de gente, ir ao IKEA ao sábado é uma romaria, digna de objecto de estudo com fins antropológicos. À entrada, depois da saga Parque-2-por-o-parque-1-estar-lotado, uma palhaça. Tínhamos percorrido uma ponte, passagem aérea, tapete superior, ou que raio, no meio de uma multidão que carrega consigo o carrinho do bebé, o miúdo insuportável, o jovem que não é nada a ninguém, mas também vai, e não sei por que desistiram de levar a velha. Antigamente, quando inauguraram os primeiros hipermercados, era quase obrigatório levar a velha. Família que se prezasse, ia assim constituída para a grande superfície: dois casais, um de namorados (?), sem filhos, que se beijavam e apalpavam a cada esquina de enlatados, outro com uma Soraia Patrícia a tiracolo, a quem chamavam a menina, e a quem os quatro davam ordens, mas brigavam todos por causa da menina, e a velha. Nunca percebi bem qual o parentesco da velha com os restantes, tal a autonomia em relação ao grupo, por desprezo de uns ou indiferença da outra. Havia também o tal espécime que se mantém, o jovem-que-não-é-nada-a-ninguém, demasiado novo para ser irmão de um dos elementos dos casais, demasiado velho para ser filho deles.
A entrada estava semi-impedida pela palhaça, por ela estar a oferecer balões às crianças: daqueles meio fálicos, que se torcem todos e ficam mesmo a parecer um phalo. Fugi a sete pés com os meus pelas mãos, não fora ela confundi-los com as Irinas Danielas, e oferecido uma coisa daquelas a cada menina das minhas. Entretanto, subi as escadas do inferno, invadida por um cheiro a alface misturada com suor. Eu não entendo a cozinha sueca, definitivamente. A única vez que comi no IKEA foi há uns anos, na primeira vez em que lá estive, e em que comprei sete peças de mobília em quinze minutos, mas a saga de ir para o armazém buscar os caixotes e depois da bicha para me habilitar a transportar aquilo tudo para casa sem ser às minhas costas, levou escassas três horas e meia. Às três da tarde, verde às bolas de fome, arrastei-me para um balcão, onde pedi aquilo que mais se parecia com comida, assim dita normal: um crêpe com salmão. Digamos que, apesar da descompensação, aguentei metade daquilo.
Lá em cima, ainda metida na multidão, já depois de ter perdido quase todos os sentidos menos o olfacto - francamente incomodado -, e a audição - toda arranhada - devo ter desatado a ter visões: aquilo é o antro do chinelo e da bermuda (bérmuda, como eles dizem), do cabelo pintado a cores indecifráveis, do top + banha = o que é bonito é para se ver, e da mobília esquisita. Barata, mas esquisita. Tem tudo o ar que se desmonta com a mesma facilidade com que se monta. Ainda por cima, paradoxalmente, nada se monta facilmente. Nada obedece a estilo nenhum. O encaixe final das peças nunca se dá na perfeição. O pesadelo do transporte e carga e, depois, da montagem, transformam a fórmica treta em mobília caríssima, se desistirmos de fazer tudo sozinhos.
Quando atingi o armazém, desiludida por não ser capaz de hibernar até à próxima Primavera, a sentir-me uma ET, incapaz de perceber o que é que estava ali a fazer, vim para casa sem mesa. Havemos de comer por turnos, ou aprender a fechar ainda mais os braços, mas, ali, não me parece que vá comprar uma mesa de refeições.
Bom, se já me faz alguma confusão entrar em grandes superfícies, com amontoados de gente, ir ao IKEA ao sábado é uma romaria, digna de objecto de estudo com fins antropológicos. À entrada, depois da saga Parque-2-por-o-parque-1-estar-lotado, uma palhaça. Tínhamos percorrido uma ponte, passagem aérea, tapete superior, ou que raio, no meio de uma multidão que carrega consigo o carrinho do bebé, o miúdo insuportável, o jovem que não é nada a ninguém, mas também vai, e não sei por que desistiram de levar a velha. Antigamente, quando inauguraram os primeiros hipermercados, era quase obrigatório levar a velha. Família que se prezasse, ia assim constituída para a grande superfície: dois casais, um de namorados (?), sem filhos, que se beijavam e apalpavam a cada esquina de enlatados, outro com uma Soraia Patrícia a tiracolo, a quem chamavam a menina, e a quem os quatro davam ordens, mas brigavam todos por causa da menina, e a velha. Nunca percebi bem qual o parentesco da velha com os restantes, tal a autonomia em relação ao grupo, por desprezo de uns ou indiferença da outra. Havia também o tal espécime que se mantém, o jovem-que-não-é-nada-a-ninguém, demasiado novo para ser irmão de um dos elementos dos casais, demasiado velho para ser filho deles.
A entrada estava semi-impedida pela palhaça, por ela estar a oferecer balões às crianças: daqueles meio fálicos, que se torcem todos e ficam mesmo a parecer um phalo. Fugi a sete pés com os meus pelas mãos, não fora ela confundi-los com as Irinas Danielas, e oferecido uma coisa daquelas a cada menina das minhas. Entretanto, subi as escadas do inferno, invadida por um cheiro a alface misturada com suor. Eu não entendo a cozinha sueca, definitivamente. A única vez que comi no IKEA foi há uns anos, na primeira vez em que lá estive, e em que comprei sete peças de mobília em quinze minutos, mas a saga de ir para o armazém buscar os caixotes e depois da bicha para me habilitar a transportar aquilo tudo para casa sem ser às minhas costas, levou escassas três horas e meia. Às três da tarde, verde às bolas de fome, arrastei-me para um balcão, onde pedi aquilo que mais se parecia com comida, assim dita normal: um crêpe com salmão. Digamos que, apesar da descompensação, aguentei metade daquilo.
Lá em cima, ainda metida na multidão, já depois de ter perdido quase todos os sentidos menos o olfacto - francamente incomodado -, e a audição - toda arranhada - devo ter desatado a ter visões: aquilo é o antro do chinelo e da bermuda (bérmuda, como eles dizem), do cabelo pintado a cores indecifráveis, do top + banha = o que é bonito é para se ver, e da mobília esquisita. Barata, mas esquisita. Tem tudo o ar que se desmonta com a mesma facilidade com que se monta. Ainda por cima, paradoxalmente, nada se monta facilmente. Nada obedece a estilo nenhum. O encaixe final das peças nunca se dá na perfeição. O pesadelo do transporte e carga e, depois, da montagem, transformam a fórmica treta em mobília caríssima, se desistirmos de fazer tudo sozinhos.
Quando atingi o armazém, desiludida por não ser capaz de hibernar até à próxima Primavera, a sentir-me uma ET, incapaz de perceber o que é que estava ali a fazer, vim para casa sem mesa. Havemos de comer por turnos, ou aprender a fechar ainda mais os braços, mas, ali, não me parece que vá comprar uma mesa de refeições.
LP,
ResponderEliminarIkea ?
1º Escolha prévia por catálogo (net).
2º Informação - onde está ,nº artigo ,fila,etc e anotar.
3º Ir só aí ( local de recolha ) e fugir.
Então, mas não leste a data? Eu ainda era pequenina, não percebia nada destas coisas da vida.
EliminarMesmo assim, fiz isso tudo. True-true que comprei 7 artigos em 15 minutos, exactamente porque levava tudo anotadinho. Depois o transporte é que foi o busílis. Nem me quero lembrar.
Fugir, é o que eu faço melhor, no IKEA :)
LP,
ResponderEliminarCapito !
Não tinha lido essa tua ida ao baú .
2015-2008 = 7
Mas ...mesmo assim, " Diário íntimo de uma senhora de idade - 7 anos " = antiguidade na mesma !
Antiguidade = experiência
Conversa fiada ! :)
Beijo,
José
Ora bem :)
EliminarBeijo.