Vende a EPAL, que, como se sabe, é uma empresa que só existe em Lisboa — caso contrário, seria EPAP, EPAF, ou EPAS —, estas garrafinhas bonitíssimas, para que possamos, nós, habitantes da capital, guardar a água quase benta que ingerimos diariamente, e também usamos para nos lavarmos e às coisas, o que inclui as leguminosas. A mim ninguém ma deu, tive que a ir comprar ao Museu da Água, que foi um transtorno: aquilo fica lá ao alto de uma escadaria com cerca de dez degraus, uma coisa a pique, que só me deu para oferecer em sacrifício pela saúde dos meus. Lá chegada ao cume, diz-me o funcionário que não têm multibanco, ia-me acontecendo um coiso, porque ando sempre sem dinheiro por ser pelintra, mas fiz o ar mais perturbado mentalmente que encontrei e chorei-me que, por questões de segurança, só trago comigo os meus cartões de crédito (que, na verdade, são de débito), enquanto procurava moedas no fundo da mala (caríssima), e só me saíam pacotes de açúcar rebentados e programas rançosos de espectáculos que eu acho que nunca vi. Bem me gemi que me faltavam dez cêntimos para perfazer a p. da quantia astronómica que custa a p. da garrafa belíssima (uns doidos 150 cêntimos), mas o homem era de pedra, deve ter sido requisitado da Catedral de Notre Dame, onde fazia escala de gárgula, e nada de se comover. Nem me apeteceu bater pestanas àquele e colocar a voz no timbre jantes-de-liga-leve, que ele havia de me perdoar a m. dos dez cêntimos e ainda me pagava a p. da garrafa, porque estava tão suada que qualquer tentativa de sedução com vista ao perdão de uns míseros dez cêntimos seria, no mínimo, um espectáculo burlesco de bas fond, com a angustiante possibilidade de se me derreter a maquilhagem das pestanas cara abaixo, a que resolvi poupá-lo. Vai daí pergunto por um multibanco, e diz-me ele É já ali em baixo, no Pingo Doce. Em baixo, ele queria dizer descer as escadas da pirâmide do México (quais Egipto, quais carapuça, zanguei-me com o Egipto desde que o Acordo Ortográfico entrou em vigor) onde aquilo fica, mais uns degraus até à rua, tudo somado ia bem aos vinte degraus, ai a minha vida, diz que para baixo todos os santos ajudam, é mas é o genital, isso disse alguém que nunca se meteu nuns saltos altos. Mas tá-bem, aqui vai disto. Corri risco de vida — isto anda a acontecer-me amiúde, nas últimas horas —, mas lá me pus no PD (hahaha, pédé), levantei uma miséria, e upa-upa, sempre a subir as escadarias até à masmorra do sovina dos dez cêntimos, parece mentira, fazer uma senhora desta idade, em pleno processo de auto-destilação, andar de Romas para Catalomas por causa de um décimo de euro, parecia uma tragédia grega, de tão trágico que foi, e passo o pleonasmo, de passada que já ia, nomeadamente da validade.
Tenho um amigo que é da Covilhã e diz que nós, cá em Lisboa, bebemos o mijo dele (palavras dele, eu não uso mijo), porque a barragem de Castelo do Bode é abastecida pelo rio Zêzere, e então, num intrincado de ideias inquinadas de amoníaco da urina, afirma aquilo assim. Com amigos destes, lá está, bem posso pôr as barbas de molho.
Já eu acho caríssimo: 2.506 Won da Coreia do Sul -- sim, moeda de país próspero -- por tal garrafa parece-me prova de que essa EPAL está a abusar da generosidade dos gentis cidadãos de Lisboa. A ver se a EPAS (a de Seoul) explora assim os igualmente gentis seoulenses (deve ser assim que se diz): não creio!
ResponderEliminarBoa noite Linde Blue :)
:) É verdade. A garrafinha devia servir-me para guardar ouro líquido. Se lhe somar o parquímetro no (apesar de belíssimo) Jardim das Amoreiras, a gasolina até lá, e todos os sacrifícios e aborrecimentos a que ela me levou (danos morais, tudo conta), mais vale metê-la no cofre de um banco (sul-coreano, seja), e esquecer que ela existe.
EliminarBoa noite, Xilre :)
Bom dia Linda Blue, eu cá, pelintra assumidíssima, que igualmente costuma trazer a carteira sem trocos e com cartões de 'crédito', mais conhecidos por débito... se tivesse de descer a longa e penosa escadaria e mais alguns, nomeadamente para entrar num PD (pédé, é muuuuito bom), dirigia-me ao MB sacava um dinheirito, entava no dito pédé e comprava uma garrafa, sem o mijo (eu também não digo mijo,OK?) do teu amigo, por 16 cêntimos e emborcava-a toda! Cá fazer uma lady sofrer, escada acima, escada abaixo por uma garrafa de aguinha da torneira...
ResponderEliminarTitá Negrão
Bom dia, Titá!
EliminarAinda por cima, a garrafinha vem vazia. Supostamente, é feita de um plástico que conserva melhor a água da torneira.
Na realidade, é feita por alguém que tem uma fábrica de plásticos e conseguiu esta parceria. E é consumida por tolas como eu, que acham um piadãããão à garrafa :D
Foi um martírio, raio das escadas. Se lá voltar, vou descalça, levo umas velas na mão, mas também fotografo os degraus. Não vá alguém achar que exagerei :)
O funcionário andou a divertir-se. Existe um multibanco do outro lado da Rua das Amoreiras, no Ginásio Clube Português :-P
ResponderEliminarNem tanto, porque a porta do museu é perpendicular à rua das Amoreiras, pelo que foi mesmo só descer as escadas até à rua onde fica o PD :) (paralela à rua das Amoreiras).
EliminarQuerida Linda Blue,
ResponderEliminarEste post tem tantas imagens boas, que é preciso relê-lo. Para mim, a voz no timbre jantes-de-liga leve leva a palma. E, o zangar-se com o Egito, a gargalhada.
Bom dia,
Outro Ente.
Querido Outro Ente,
EliminarO homem era uma gárgula, daquelas que inspiram (ou desinspiram) tudo o resto.
Obrigada pelas suas palavras.
Um dia feliz,
Linda Blue.
Não é verdade que a EPAL seja só Lisboa. Ela é Castelo do Bode, Alviela e tudo por aí abaixo até às torneiras dos consumidores.
ResponderEliminarDito isto, seria bom que falasses com o teu amigo e lhe dissesses que não deve dizer disparates. Porque ele, ou é mal intencionado ou é ignorante. A água, uma vez elevada do local onde se encontra, passa por diversas fases de tratamento, até à torneira final. Daí que água que servida 'na casa de cada um' tenha um ligeiro mas desagradável paladar, embora inócuo. Como complemento e porque tu mereces, deixo a indicação de que o mesmo não acontece ao precioso líquido que é trazido do Alviela.
Quanto às garrafas, temos que agradecer ao factor marketing, implementado a partir do momento em que a EPAL 'se transformou' em duas. A que dá lucro, menos trabalhosa logo mais rentável, e a outra, a que tem um muito maior índice de trabalho, logo menos rentável.
São uns espertos, estes publicitários.
Outra coisa, o Museu da Água tem multibanco. Se não o disponibilizaram, erraram. Talvez porque porque os 'doidos 150 cêntimos' menos taxas SIB, não justificava, para ele, a operação.
Escadas? Compara-as com as da AR e depois diz-me qualquer coisa. Já sei, vais dizer-me que não utilizas estas últimas :)
Consegui reter ´mal intencionado´e 'ignorante´. O resto ia-se-me varrendo tudo.
EliminarMas ainda me resta a matemática: eram 150 cêntimos vezes 6, porque me predispunha a trazer seis garrafas.
E tu, utilizas as escadas do Parlamento? Olha, eu, nem para as manifestações (exteriores de pobreza), quanto mais para peregrinações.
És bem tola (para não te chamar outra coisa).
ResponderEliminarIas ao PD e compravas uma garrafa de água, e ainda te sobrava troco para ir à mercearia e comprar lá daqueles legumes (ou lá o que isso é), a 69 o quilo.
(e fui!)
Chama lá outra coisa, chama...
EliminarEsta garrafa é especial. A água não fica quente, ou morna, ou choca, ou com cuspanga. É todo um novo mundo que se me abre.
Falas dos meus pipinos? Isso está a 69 ao quilo, mas são cêntimos.
(volta!)