Fui à periferia e vim de lá mais culta

Praia de Carcavelos.

Convivemos todos uns com os outros, numa harmonia de titis da Linha, titis de fora da Linha (as desaLinhadas, como eu), povo que mais ordena da província profunda — a velha de maillot de caixas, com o panamá colocado no exacto local onde fica a base do crânio, sentada de perna estendida na areia, não tem preço: eu daria fortunas pela velha, em tendo moedas —, rapaziada do culturismo, grandes peidas cravejadinhas da celulite, e tatuadas — my eyes, my eyes —, tudo ali se junta naquele areal. 

Eu já conhecia a quarta pessoa do singular: fizestes bem, aonde é que fostes?, estivestes em casa, e tudo assim.

Hoje conheci a quinta pessoa do singular. Ouvi muito bem:

FÔTES lá?

Era o verbo ir. 

Imagino o verbo querer: quisétes.

O verbo fazer: fizétes.

O verbo estar: estivétes.

Etecetera.

Sabem os verbos defectivos, só conjugados numa determinada pessoa, como o verbo chover? Eu não posso dizer Eu chovo. Não posso, mas digo. Mas isso é porque eu tenho a mania que sou rebelde e também um bocadinho libertina da língua. 

A quinta pessoa do singular é como um verbo defectivo, mas ao contrário: pode conjugar-se em todos os pretéritos perfeitos de todos os verbos que existam no infinito, mas apenas na quinta pessoa do singular, desde que proferida por alguém que está francamente tatuado e tenha um penteado que lembre a passagem de uma máquina agrícola em modo aleatório e sem travões no seu couro cabeludo.

É uma regra gramatical, porquê?

Tamãe...