Vi-o outro dia, no Jornal das 9, quase famoso de chegar à televisão, o meu Maracujá.
Vende ele bolas de Berlim na praia da Rocha Baixinha, e disse ao repórter que, este ano, a grande novidade que leva no cesto são as bolas de amêndoa. Não sei se essas bolas existem mesmo, se são só para atrair freguesia, se sabem a maracujá ou só a chocolate.
Não usa o pregão booolinhas!, como todos, a lembrar tempos que já ninguém lembra, nem eu me lembro, mas sei de tanto ouvir falar, que eram os da fava rica e da bela sardinha. Antes grita bólhinhá dji chocolátchi, bólhinhá dji máçã, bólhinhá dji pêssigo, naquele sotaque carioquíssimo. Calhou de um dia passar por mim e ter gritado bólhinhá dji márácujá, que me deixou a salivar por aquilo e à espera dele na volta do pôr do sol, ou que viesse noutro dia, mas que sem bólhinhá dji márácujá eu não queria passar o resto das minhas férias, nem o resto dos meus dias.
Voltou passado um dia, alardeando bólhinhás de tudo e mais um par de frutas, nenhuma dji márácujá, mas, aguada de véspera, descrente na pouca sorte, chamei por ele e pedi-lhe, disfarçando a súplica, uma bola de maracujá. E ele riu-se, com mil dentes, todos branquinhos, alinhados numa enfiada certa, e explicou-me que não tinha, nem nunca tinha tido, bolinhas de maracujá, e que as anunciava só para atrair freguesia. Cá estava eu, atraída, freguesa, aguada e desiludida. Nessa tarde, comi uma de chocolate, que me soube a chocolate e desalento, mas não me soube a maracujá, por mais elogios que se rasgassem em redor dela.
Nos dias seguintes, e até acabarem as férias, via-o surgir, carioquíssimo, apregoando bólhinhás, e, quando passava por mim, anunciava, a rir, márácujá!, mostrando a enfiada certa de dentes branquinhos, a contrastar com a cor de chocolate dele —, mas não mais comi bolinhas com esse recheio, nem com outro qualquer, que não fosse o maracujá da minha imaginação.
Passei, então, a referir-me a ele como Maracujá.
Quando voltei para Lisboa, soube por uns amigos que ainda ficaram, que perguntou por mim, a sinhóra do márácujá. A Senhora do Maracujá.
E não mais apregoou bólhinhás dji márácujá naquele Verão.
Awwww, que giro! :)
ResponderEliminarEle é um samba ambulante, tão boa onda! :)
EliminarCara Linda,
ResponderEliminarSerá caso para dizer que um dia destes nos cruzaremos sem nos reconhecermos. Continuo a preferir sem creme.
Um beijo,
Outro Ente.
Caro Outro Ente,
EliminarOu eu ser reconhecida, de tantas coordenadas que já dei, sem conseguir reconhecê-lo a si. Tenho que rever a minha postura em público.
Eu também prefiro sem creme, já que de maracujá nem sequer existem.
Um beijo para si,
Linda Porca.
https://youtu.be/rbPqMqmlF7g
ResponderEliminar:) que coincidência tão gira.
EliminarE são os sabores e os saberes, a ficção e a realidade, os desejos e a realidade que constroem essa trama de fios invisíveis que nos ligam uns aos outros.
ResponderEliminarBeijinhos com sabor a maracujá :)
Muito mais do que o sabor do maracujá, que me ficou nos desejos passado um ano, o fio da simpatia, que me prendeu e, com imensa alegria, vou recuperar este ano, está intacto.
EliminarQue saborosos beijinhos, Miss Smile.
Mando-lhe uns quantos de retorno, espero que goste :)
Li até ao fim à espera de encontrar a confirmação da existência das "bólhinhás dji márácujá"!
ResponderEliminarFoi das maiores decepções da minha vida! :D
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