É porque sou preguiçosa que não vou à netinha procurar informação para linkar aqui, daquela que vocês nunca clicam em cima, e fazem muito bem. Eu, no vosso lugar, faria o mesmo, porque é o que faço. Já bem basta perderem aqui trinta segundos a ler as minhas coisinhas e opiniões, para ainda irem viajar à netty por vossa conta e meu risco.
Existe o terror da máscara, mais conhecido por medo de palhaços, aquela afecção comportamental, mais ou menos conhecida, associada a uma fobia a palhaços e tudo o que seja mascarado, designadamente se tiver a cara — muito em particular, os olhos — tapada. Há pessoas que não toleram caras tapadas, seja com mascarilha, caraça, lenço, meia de nylon, ou maquilhagem opaca. Nem quero imaginar o que sentem diante de qualquer um dos sete véus islâmicos, porque sei o que sinto eu, e era meterem-me um pela cabeça abaixo e tinham-me a dançar a dança dos sete véus, mesmo que só com um, fosse ele burqa, niqab, hijab ou outra porra dessas.
Uma vez, num jardim de infância que eu frequentava na óptica parental, assisti a um fenómeno muito interessante, que me permitiu fazer logo ali uma estatística: numa festa de Natal, uma mãe voluntariosa ofereceu-se para se vestir de Pai Natal e entrar, assim vestida, em todas as salas de actividades. Não eram menos do que metade, os miúdos que saíam a correr porta fora, em pânico por verem o Pai Natal surgir assim, com uma almofada no lugar da barriga, algo histérico e com uma voz de falsete que até a mim me deu vontade de fugir. Ou seja, até ao final da infância, pelo menos metade da população sofre do terror da máscara. Depois disso, parece que se cura para alguns, e se mantém para outros.
Eu, pessoalmente (apetecia-me utilizar esta expressão redundante, porque hoje, para não variar, estou sem arestas), nunca tive medo de mascarados nenhuns. A minha primeira caraça foi de vaca e via-me ao espelho com aquilo, cheia de agrado e calor na cara. Mas não ruborescia.
Agora, que já sou crescida, tenho medos associados às caras das pessoas, mas não sei se se podem enquadrar como subcategorias do terror da máscara: tenho medo de pessoas com duas caras, e tenho medo de pessoas sem cara nenhuma, que são os avatares, fobia esta que desenvolvi um niquinho na blogosfera, e não tanto ao espelho, com o meu próprio avatar, porque aquela azul sou eu, que, apesar de parecer congelada, não estou, e conheço de ginjeira.
As pessoas com duas caras deixam-me um coisinho apreensiva e nervosa, porque gosto sempre mais de uma cara do que da outra, e sinto isso como uma traição que faço à pessoa com ela mesma. Prefiro a cara alegre e bem disposta, amiga e sensível, à cara sacana e zangada, mentirosa e mal intencionada. É certo e sabido que, um dia, os frágeis elásticos que as prendem se soltam, e uma das duas cai. Mas a estatística diz que, normalmente, cai a cara bonita e boa e só fica a outra, e isso constitui motivo de alguma ansiedade para pessoas como eu, que preferem sempre tudo muito literal e muito ao pé da letra e muito transparente, por termos dificuldades em distinguir o verdadeiro da contrafacção, nesta coisa das relações humanas.
Quanto aos avatares, tem sido uma complicação, desde que tenho este blog, lidar tão de perto e tanto tempo com pessoas cuja cara não conheço, nunca vi, e, eventualmente, nunca verei. Porque me ligo, porque me sensibilizo, porque me afecto, afectuosamente — chego mesmo a afligir-me, imaginem, e a prejudicar o meu sono — com a pessoa que se encontra atrás das letras que leio. É que nunca me passou pela cabeça que os textos que me entram pelo coração adentro possam ter sido escritos por um robô. Daí também algum respeito que me mereçam os anónimos: aquilo são pessoas que nem uma porcaria de um nick e uma trampa de um avatar são capazes de vestir, nem que seja de fantasma da ópera, só para nos atormentarem. Haverá desgraça maior do que, para além de não se ter uma cara, se apresente despido aos olhos do mundo, mesmo que virtual? Ai, eu morria — se não de vergonha, pelo menos de morte virtual, e nunca mais ninguém me punha a vista em cima da (as)sombra(ção).
Esse verdadeiro handicap de que sofro, que é o de criar ligações afectivas com pessoas que não conheço, e que acredito que seja quase exclusivo meu, faz com que possa afirmar que padeço, se não uma figura afim do terror da máscara, pelo menos um estranho afecto por algumas máscaras — uma atracção pela máscara, mas sem o factor magnético.
Eu, pessoalmente (apetecia-me utilizar esta expressão redundante, porque hoje, para não variar, estou sem arestas), nunca tive medo de mascarados nenhuns. A minha primeira caraça foi de vaca e via-me ao espelho com aquilo, cheia de agrado e calor na cara. Mas não ruborescia.
Agora, que já sou crescida, tenho medos associados às caras das pessoas, mas não sei se se podem enquadrar como subcategorias do terror da máscara: tenho medo de pessoas com duas caras, e tenho medo de pessoas sem cara nenhuma, que são os avatares, fobia esta que desenvolvi um niquinho na blogosfera, e não tanto ao espelho, com o meu próprio avatar, porque aquela azul sou eu, que, apesar de parecer congelada, não estou, e conheço de ginjeira.
As pessoas com duas caras deixam-me um coisinho apreensiva e nervosa, porque gosto sempre mais de uma cara do que da outra, e sinto isso como uma traição que faço à pessoa com ela mesma. Prefiro a cara alegre e bem disposta, amiga e sensível, à cara sacana e zangada, mentirosa e mal intencionada. É certo e sabido que, um dia, os frágeis elásticos que as prendem se soltam, e uma das duas cai. Mas a estatística diz que, normalmente, cai a cara bonita e boa e só fica a outra, e isso constitui motivo de alguma ansiedade para pessoas como eu, que preferem sempre tudo muito literal e muito ao pé da letra e muito transparente, por termos dificuldades em distinguir o verdadeiro da contrafacção, nesta coisa das relações humanas.
Quanto aos avatares, tem sido uma complicação, desde que tenho este blog, lidar tão de perto e tanto tempo com pessoas cuja cara não conheço, nunca vi, e, eventualmente, nunca verei. Porque me ligo, porque me sensibilizo, porque me afecto, afectuosamente — chego mesmo a afligir-me, imaginem, e a prejudicar o meu sono — com a pessoa que se encontra atrás das letras que leio. É que nunca me passou pela cabeça que os textos que me entram pelo coração adentro possam ter sido escritos por um robô. Daí também algum respeito que me mereçam os anónimos: aquilo são pessoas que nem uma porcaria de um nick e uma trampa de um avatar são capazes de vestir, nem que seja de fantasma da ópera, só para nos atormentarem. Haverá desgraça maior do que, para além de não se ter uma cara, se apresente despido aos olhos do mundo, mesmo que virtual? Ai, eu morria — se não de vergonha, pelo menos de morte virtual, e nunca mais ninguém me punha a vista em cima da (as)sombra(ção).
Esse verdadeiro handicap de que sofro, que é o de criar ligações afectivas com pessoas que não conheço, e que acredito que seja quase exclusivo meu, faz com que possa afirmar que padeço, se não uma figura afim do terror da máscara, pelo menos um estranho afecto por algumas máscaras — uma atracção pela máscara, mas sem o factor magnético.
Há máscaras que exercem um certo fascínio ou curiosidade. Conheci, ao longo destes anos, algumas pessoas por trás de algumas máscaras.
ResponderEliminarAté hoje tive sorte. Até hoje a máscara não me enganou mas nem sempre é assim. Confiar é difícil. Muito difícil.
:)
Beijos
Verdade. Mas, depois, há aqueles que, como eu, confiam em tudo o que vêem. Que partem do pressuposto, tantas vezes errado, de que todos são inocentes até prova em contrário. Desconfiar também é difícil. E pode ser limitador e extremamente injusto.
Eliminar:)
Beijos, Impy.
Finalmente encontrei o que Impy me fazia lembrar!
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=UtR4vuJBGCI
Tenho uma ilha só para mim :P
E não tens? :P
EliminarTambém não sou particularmente fã de máscaras... e já perdi a conta à quantidade de vezes que confiei e acabei toda "partida". Mas o handicap não é só teu, não, a prova está no afecto que já sinto por algumas das "máscaras" que conheci nestas andanças (e de algumas pessoas por detrás delas). Está igualmente no facto de ainda conseguir ter uma visão romântica disto dos avatares, na minha vontade de acreditar que ao não ver caras, vejo corações.
ResponderEliminar(Quanto a isso dos anónimos, confesso que me faz uma certa confusão e até já estive para escrever sobre eles... talvez aproveite a tua boleia ;))
É isso. Não consigo ver nisto "só blogues". É pedirem-me que veja "só pessoas".
Eliminar(E eu aproveito a tua, não sei se hoje ou noutro dia, para falar de um tipo específico de anónimos de quem nunca ninguém fala ;))
Eu odeio palhaços, não as máscaras mas os palhaços, não sei porquê mas nem é medo, não gosto, pronto! Nunca levei os meus filhos ao circo, um dos motivos são os palhaços. Também não gosto dos palhaços que não usam máscaras nem pinturas. Os anónimos são isso mesmo, palhaços sem máscara, sem face, sem nada.
ResponderEliminarDa mesma forma que odeio palhaços, apaixono-me com muita facilidade pelas pessoas, adoro pessoas que falam muito como eu, adoro pessoas desprendidas de bens materiais e que tal como eu gostam de pessoas com todos os defeitos que cada pessoa tem. Passo a vida a "levar na cara" e mesmo assim continuo a gostar de pessoas. Apaixono-me com facilidade por pessoas que não conheço mas que escrevem bem ou são divertidas, aqui na blogoesfera tenho umas quantas paixões, chamem-me promiscua, polígama, o que quiserem mas não consigo evitar!
Eu também dispenso palhaços, mas nunca tive medo deles. Uma vez dei aqui uma explicação mais ou menos plausível.
EliminarE também eu, sofro desse mal. As pessoas tocam-me, sem me porem um dedo em cima. Fazem-me rir, fazem-me chorar, fazem-me pensar, e tudo isso me prende, com aqueles laços invisíveis da ternura. Deve haver algum grupo de ajuda para isto :)