16/07/2015

A minha ratinha

Não sei se me falta assunto, ou se desconsidero os temas que tenho na calha, acabando por deixá-los encalhados, qual solteirona — mas sem o azedume e os sonhos delirantes —, alguns rascunhados, outros escritos e escarrados na mente que fervilha, ferve e nem sempre apita, como aquela panela —, outros ainda parecem-me extremamente fracturantes, que aquilo dão mais a ideia de serem machados no osso, pode ser o fémur ou a tíbia, a talhar as tábuas do meu caixão, como o povo que lavas no rio, vade retro, ou vá de metro, mas longe, a talhar a talhe de foice as minhas verdades, ou sou bem capaz de ser apontada como ceifeira e vá lá buscar o martelo, se eu fosse carpinteiro, casava com uma ceifeira, e o melhor, às vezes, tantas vezes, é ficar calada, que ainda me crucificam entre dois ladrões e me colam o rótulo de esquerda caviar, logo eu, que não gosto de ovas, ainda um dia alguém me vai explicar essa de os ovos dos peixes serem feminino e os das aves serem masculino, mas dizia eu, a mim faz-me cá uma neura comer milhares de peixes de uma colherada só, sinto-me cardumicida, e sim, fui eu que inventei esta, porque sou uma neologista, olha outro, neologista é também um neologismo, ando a mover-me demasiado à vontade na minha língua, parece um trapo, de trapos, haja alguma coisa em mim que é novo, velhos são os trapos, que é mesmo o que eu pareço às vezes: uma boneca de trapos, tantas são as cicatrizes que juntei ao longo destes séculos desde que aqui aterrei, e por falar nisso: andava eu a ver álbuns de fotografias, meus, naturalmente, que aqui há uns bons noventa anos ainda havia disso, e não me reconheci em nenhuma, estou mesmo gagá de todo, olha eu tão loira — um acidente químico aliado ao sol de um Verão fez com que me transformasse na loira mais pirosa e mais mal vestida da minha casa, que até mais burra fiquei — olha eu tão magra, olha eu tão nova, a verdade é que eu não estava em nenhuma, aquilo era outra, até que vi as da primeira infância, e era eu em todas, tem graça, tenho a impressão que passei de lá para cá, de bebé e miudita — era mesmo miúda-minúscula, cabia na caixa de sapatos de um gigante Adamastor até para aí aos dez anos, e ainda hoje, se me enrolar bem — até anciã, que sou hoje, ancienne naquele bom sentido de relíquia, a porcaria de um tesouro que já não se encontra igual, velha raposa a quem puseram um par de olhos de criança, embora não goste muito da imagem, raposas não, que detesto esses casacos, sou demasiado amiga dos bichinhos, nem as vacas das melgas que me marram eu sou capaz de matar, devia mas era ir para o Guiness Book como a figura particular, por oposição a pública, que poupou a vida a mais seres vivos, designadamente os que não interessam nem ao menino Jesus, e daí o grande mistério que é: por que é que ele os criou?, se era para termos que os pantufar contra um azulejo ou um móvel de estilo, tipo estilo império e estilo iqueia de Alfragide, desses mesmos onde, um dia, se Deus quiser, ou mesmo não querendo, há-de assentar uma estatueta da minha pessoa, cheia de insectos aos pés, como a padroeira da melga e do mosquito, Santa Linda Porca, ou Santa Linda Blue, e acho que é por isso que eu ando a tentar o volte-face, a ver se me safo da fama suína, ou já nem sei por quê, olhem, vinha aqui contar a história da vida da minha ratinha, que é o rato do meu computador — rato de portátil, e, ainda por cima, cor-de-rosa, é uma ratinha, certo? —, mas dispersei-me ligeiramente do assunto, sou capaz de voltar mais tarde, com mais tempo e mais calma.

15 comentários:

  1. Anónimo16/7/15

    Li isto com algum interesse tentando seguir o teu raciocínio, se bem que acho que algures me perdi entre os álbuns de fotos e a crussificação, até porque esta ultima me fez lembrar do fabuloso "A vida de Brian" dos Monty Pyton e da cena em que estão bué gajos escondidos dentro de uma cabana e aparece uma legião romana à procura de subserssivos que entra para dentro da cabana deixando o centurião na entrada a falar com o velho que abriu a porta a descutirem os méritos e desméritos da crussificação face a outras formas de execussão e de repente já estava a pensar no sketch do papagaio dos mesmo e ao lembrar-me do papagaio, por associação de ideias lembrie-me de uma piriquita e daí a voltar a entrar nos eixos e pensar na tua rata foi um pulo, embora já calculasse que fosse uma cena cor-de-rosa...
    ...para ligar ao PC, isto porque não tenho uma mente tão venenosa como alguns acham (ou terei?!?) mas acabei or ficar desiludido porque afinal não falaste do periférico e vou ficar à espera que voltes mais tarde para discorrer e elucubrar sobre o assunto e amodos que é isto!

    :)

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    1. Cá a ver se eu própria percebo o que escrevo :D
      Isto são associações de ideias umas com as outras.
      A crucificação entre dois ladrões foi a crucificação de Cristo. Disse "ainda me crucificam entre dois ladrões e me colam o rótulo de esquerda caviar", porque, acima, falei de talhar, de foice, de martelo — foice e martelo, símbolos do comunismo — daí poder ser conotada como esquerda caviar.
      A questão dos álbuns de fotografias tem a ver com a mudança de imagem do blog, as minhas próprias mudanças, e as várias eus com que me identifico, ou não.
      Ando retorcida :D

      A ver se falo mas é da ratinha, que é tão gira, e já tem tantos anos :)

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    2. Anónimo16/7/15

      Eu percebi logo isso à partida,...
      ...mas sabes que as associações de ideias são como as cerejas e foi uma sorte pensar nos Monty Pyton, que acabou por ser o que me encarrilhou de volta no teu raciocínio.

      Além disso, tb não acredito que a esquerda caviar exista, porque quando existe deixa de ser esquerda, a não ser que tenha ido o próprio apanhar o esturjão! Para mim, a esquerda caviar, a existir de facto, seria como uma associação de homossexuais homofóbicos! É algo que faz tanto sentido como as actas do conselho de ministros...

      :)

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    3. São mesmo. Sentei-me aqui para relatar a vida do rato hardware. Desato naquele relambório e só não me perco porque meto a quinta, acelero, e apanho rectas infinitas :)

      Eu também não acredito em esquerda caviar, exactamente pelo que dizes. Porque, ou é caviar e não acredita em nada do que preconiza, ou é esquerda, e não chega ao caviar por questões de princípio.
      No meu caso, é quase uma mistura de ambas: nem gosto de caviar, nem tenho dinheiro para o comprar. Sou um pensamento totalmente livre :)

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  2. Uns é ménage, outros é ratinha!!!
    Não há condições!!!
    Beijos Blue LP :P

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    1. Hoje tem a blogobola em lap dance? :P
      Beijos, Impy :)

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    2. temos*
      (na praia não se vê um genital :P)

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  3. Fiquei-me pelo titalo.
    Que tem ela?

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    1. É tão jeitosinha e cor-de-rosinha, que até era fotografá-la para a mostrar aqui, ainda nem tive tempo.

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    2. Era de valor!

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    3. A ver se amanhã já a posto em todo o seu esplendor. Já há alguns pedidos nesse sentido, embora mais em termos de texto. Imagem, penso que és o primeiro (como sempre :P).

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    4. Estou mortinho por ver a tua ratinha. Aaaaauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!

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    5. Tem uma coisinha lá no meio, que eu passo os dias lá com o dedo indicador (esquerdo, eu uso-a à esquerda).

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    6. À esquerda? As que eu conheço ficam ao centro... :s

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    7. Exprimi-me mal: o dedo indicador da mão esquerda.

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