Uma discussão, um ruído extra, duas vozes de homem que se elevam no ar, um ralhete, porque há um que tem a autoridade e, contra isso, nada. Regressado de uma reunião de pais, vem zangado, disse a DT que o rapaz se riu na aula de inglês. E ele, de olhos enormes e voz grossa, tenta a defesa do indefensável: a professora queria por força a password do mail da turma, para poder mandar um mail à própria turma. Caramba, ele sofre do mesmo mal que eu. A mim também me pedem essas coisas inconfessáveis. E também me desmancho a rir com esses nonsenses.
E a professora tem uma pronúncia péssima. Quer dizer would e diz hood.
Eu também tinha quinze anos quando me saiu à rifa uma professora que dizia abród [abroad]. E aquilo ligava-me os sininhos todos.
E tinha uns quinze anos tão descontrolados que me ria, condenada à morte da positiva, de uma forma absolutamente irreprimível.
- Tu não vês que o riso é uma manifestação nervosa? — argumenta ele, então.
Era capaz de ser nervos, sim. Eu ria-me até às lágrimas, até à dor abdominal, até quase-quase-o-pingo.
Pois. Eu devia ter ralhado em coro. Eu devia ter dito Ficas de castigo se voltares a fazer isso na aula. Eu devia ter ido à reunião. Em vez de tudo isso, ponho-me a olhar para ele e a pensar no quão implacável é a genética. É a professora que tem um sotaque inadmissível. É o riso que é uma manifestação nervosa. Somos nós que temos muitos nervos.
- Eu sei o que tu sentes — e, mais uma vez, trato-o pelo meu diminutivo.
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