30/08/2014

Nunca conseguirei ser a bruxa má que me dava tanto jeito ser

Hoje ouvi uma senhora de 92 anos de idade, 68 de casamento, sentada numa cadeira de rodas, incapaz de reconhecer quem quer que fosse, diante da sepultura do marido, dizer: "Ele era o amor da minha vida". 

E aquilo partiu-me o coração.

29/08/2014

Temei-me, que até eu me temo

Ontem disse: "Apetecia-me era agora levar uma granda bolada de dinheiro".

E morre-me o meu rico tio. Provavelmente, no exacto momento em que proferi essas palavras.

Hoje vou dizer: "Apetecia-me era agora levar uma granda pedrada do Euromilhões". 

Às sete da tarde.

Valentino, caro, mi aspetta!

Ó meu rico tio, que má hora para morrer! # 2

Tenho que repensar este esquema de aceitar trabalhos novos. Cada vez que estou num pico máximo de stress, morre-me um tio por afinidade. Deve ser a cena da borboleta e do caos. Eu sou a borboleta, meus tios afins são o caos.


Ainda tenho bastantes tios por afinidade. 

Haja trabalho tios.

28/08/2014

Eu, quando ando a mil, é tudo a mil na minha vida

Estou outra vez sem tempo para isto. Não me podem dar um trabalho, que eu desapareço do radar, como os aviões misteriosos. Só vim cá dar um beijinho. Nem que seja a mim mesma. Tipo mijadela de gato, para marcar o território. Já me vou embora, chiu.

Já não havia merdas suficientes na blogosfera. Mais uma cheia de erros gralhas (a sério que a escolaridade é obrigatória?), sintaxe zero e falta de piada mil. Ao menos a minha só sofre da última, e não é sempre.

Sabem quando o computador faz aquelas actualizações, quando o vamos desligar, e avisa: "Não desligues, vou fazer uma actualização e agora estou na 13 de 732"? O meu foi ontem. Tenho tudo em tamanho xxl, o que seria benéfico caso tivesse uma dioptriínha que fosse. Mas é que nem 1/4, para justificar esta ambliopia do meu monitor. E sim, já fui ao zzzoooommm, e pus a 90 %, e ficou tão grande na mesma que pondero a hipótese de serem os meus olhos, afinal mío ou hipermétro, ou astigmátic, a aumentar tudo assim. No entanto, às pessoas que me rodeiam, vejo-as de tamanho normal.

Quero ir ver isto, mas nem sei se já está no cinema, nem posso ir, para já. Só dilemas.

 

Eu volto.


26/08/2014

Um dia vou ser viral

Há qualquer coisa de muito errado no meu esquema. Em mim. 

Não há livros a mais cá em casa, que esse é, talvez, um conceito que não existe. Mas há espaço a menos. E esse conceito existe.

Tal como 70 % da população portuguesa, possuo esta estante:



E precisava desta há anos (para acrescentar, para pôr por cima):


Então, fui comprá-la. 

Acontece que o camião se encontrava outra vez sem gasóleo. Bebe-o, ou fuma-o. 

E fui à bomba. Outra vez.

Tive o cuidado de não ir à do meu amigo do vestido barraca, para além de ir o mais discreta que se possa imaginar: calças de ganga cinzentas, top preto, lencinho animal print preto e branco, La Sandalete Primark High Heel. Acontece que as calças foram retiradas do museu do traje hoje de manhã - ando numa de revivalismos -, já têm cerca de oito anos e são de um tempo em que se usava a cintura muito descaída. No entanto, o top acaba mesmo onde começam as calças, não há cá barrigas à mostra que isto não é o cabaré da coxa.

Eu, que sou a mulher da via verde, que me meto na bomba mais longe da minha casa só para ir à vv, tenho ordens da gerência para usar os talões de desconto do Continente, o que me obriga a ir dentro da bomba, para proceder ao pagamento. 

E para me desgraçar.

Sai talão de desconto de um porta-moedas, que tem mais 32 talões de compras e o raio. Sai cartão do Continente de uma bolsinha. Sai cartão de MB do porta-moedas e, no momento em que Ah, é verdade, tenho aqui dinheiro, pago com dinheiro, esvoaçam-me os 33 papelotes pelo ar, qual parada do 4 de Julho cheia de confetis, mas em bom. 

Atrás de mim, um senhor de cabelos brancos, que eu não vi, mas que sei que os tinha brancos, porque aquilo me despertou todos os sentidos ao mesmo tempo, e apurou a visão periférica, que, nestas alturas, faz uma falta do caraças. Ou seja, zero.

Então, pus-me de cócoras, a choramingar: "Estas coisas só me acontecem a mim, ha-ha-hã..." e a apanhar os meus papelinhos. 

Devo ter começado a inchar como um balão. E rebentou-me a presilha da sandalete. O senhor dos cabelos brancos não parava de dizer: "Deixe lá, não é a única pessoa que acumula papeis!", enquanto me visionava as cuecas pelas costas das calças que, entretanto, tinham descido exponencialmente. E eu, agarrada a um molho de papeis, todos desencontrados uns dos outros, a dizer: "E toda a gente fica a conhecer as minhas desgraças", já sem saber se me referia aos talões - eventualmente, algum extracto bancário, daqueles em que a conta bate na trave - ou às cuecas. Amarelas. Tezenis, sem elásticos. Toda a Lisboa, hoje, e agora todo o nosso Portugal, todo o planeta Terra, ficarão a saber que hoje Linda Porca vestiu umas cuecas amarelas (ia pôr umas calças amarelas, das poucas que ainda tenho n.º 36, e fiz uma associação de ideias. Das minhas).

E saí da bomba com um molho de papeis que pareciam aqueles baralhos de cartas do jogo do 52-Apanha numa mão, e a coxear ligeiramente do pé esquerdo, com a presilha da sandal solta. Vá lá que o cai-cai não se lembrou de fazer a vontade ao nome.

Pretendi meter combustível, reclamei alto "Por que raio é que são duas mangueiras para o gasóleo?", constatei que uma é "exclusivo pesados" - ai que lindo, a mangueira é maior? Mais grossa? Ou tudo se conjuga para que eu forneça um bom filme viral para o youtube? - e , exausta e desgraçada, encostei-me ao carro, enquanto mangueirava, a fingir que não reparava no bem parecido que havia colocado o carro atrás do meu, à espera de vez, a rasgar o sorriso, caguei se era de gozo, sei que era de gozo, obrigadinha, ó Murphy e ó Karmen, pois se o homem tinha tantas bombas vagas, o que é que lhe ocorreu ir pôr-se ali? Espectáculo, claro. Youtube.

25/08/2014

Diz-me onde gastas

A dar volta a uma gaveta cheia de talões de multibanco, de há seis anos para cá, na procura de um papel específico. 

Continente
Noori
Rituals
Sephora
Continente
Decathlon
Zara
Noori
Continente
Mercearia 
Rituals
Farmácia
Intimissimi
Continente
Noori
Sport Zone
Mercearia
Sephora
Rituals
Calzedonia
Noori
Continente
Farmácia
Primark
Mercearia
Intimissimi

É esta a cadência.

Não encontrei o papel. Mas foi um momento de auto-conhecimento.

22/08/2014

Baldadas

Acho-me, neste momento, a única pessoa do planeta que ainda não conseguiu fazer a ligação baldes de água - esclerose lateral, que está a meio-caminho entre fazer a ligação baldes de água - promoção aleatória de pessoas, e no caminho certo para fazer a ligação baldes de água - fome em África, sede em África, doenças em África, água = vida.

21/08/2014

Os vestidos são como a pescada,

antes de o ser já o eram. Esta fui eu que inventei. Uma pessoa veste um vestido e fica toda vestida.

Num quizz daqueles de "Se fosses", à pergunta "Uma peça de roupa", eu era um vestido. Perdi-lhes a conta, tenho aos montes. Tenho o da sorte, o do azar (tive um que estreei, correu-me tão mal o dia que o despachei logo), o que faz de mim a gaja mais boa da minha rua (vários, modéstia à parte, mas parece que aqui só moram coirões, safam-se as minhas gajas e eu), o que me dá um ar sério, de senhora respeitável (não estou a ver bem qual é, mas ficava bem aqui nesta listinha), o sei lá, etc. E tenho alguns de praia, naturalmente.

Ontem fui à praia. Era quase meio-dia e ainda não tinha saído de casa. Estava à espera que as minhas companhias se despachassem, enquanto eu esperava, de biquini, sentada ao computador. Levava o carro cheio de gente e era eu que conduzia. Ainda tinha que ir meter gasóleo, porque ia levar o camião. Quando deram ordem de partida, fui-me ao gavetão das roupas de praia e, no meio da pressa, saquei a primeira peça que a minha mão alcançou.

E então fui de tenda para a praia.


Desconheço quando e onde comprei este lençol de cama de casal, onde cabemos duas iguais a mim, assim eu tivesse uma gémea (livra!). Mas vesti-o e saí.

E, no pagamento do combustível, protagonizei:

- A senhora desculpe que lhe pergunte, mas onde é que comprou o seu vestido?

- [gay? para oferecer um igual à respectiva? conversa de ir ao cu num posto de abastecimento perto de si?] - Eeeerrrr... não sei.

- É lindo.

- [gay? vai comprar um igual e pôr-se ao espelho, feita flausina? para oferecer um igual à respectiva? conversa de ir ao cu num posto de abastecimento perto de si?] - Eeeerrrr... por acaso, estava precisamente a pensar assim: "Mas onde raio fui eu desencantar esta tenda familiar? E por que é que, ainda por cima, a vesti?"

- [indiferente ao meu discurso] - É lindo e fica-lhe mesmo bem.

Olha, caraças, anda uma pessoa sempre com vestidinhos sexy e maravilhosos, e tem que vestir este equipamento de campismo para receber um elogio na bomba.



Hoje ia fazer de companhia ao dentista a uma das queridas. O dentista é giro, e, mesmo não me indo lá deitar de boca aberta, nem pensar em ir mal posta. 

Descobri no museu do traje que todas temos, um vestido com dezanove anos (eu disse dezanove), que tinha deixado de me servir, e voltámos a encontrar-nos agora. 



Quer dizer, está-me alapado, mas visto-o. Este é Red Globe, o que prova que a minha velha teoria de que o que é caro é, normalmente, bom, está certa. A peça custou-me uma rica fortuna, ainda em contos de reis, mas está aqui sem uma costura solta, sem um botão fora. Tem um pequeno defeito, que é a localização dos botões do decote - um demasiado acima, outro demasiado abaixo. Os fabricantes de camiseiros desconhecem onde é que se encontra o meio das mamas, ou nem pensam nisso. E um dos botões tem que ficar lá, exactamente . Caso contrário, andamos demasiado abotoadas, ou demasiado vacas. Eu costumo resolver o assunto com um alfinete-de-ama, espetado lá, onde deveria existir o tal botão. 

Já tinha perdido tempo a mais a espetar o alfinete lá (o vestido é de ganga, quase é preciso usar o martelo para espetar aqui um alfinete), estava nuns nervos por me estar a atrasar, e saí de casa sem ter posto creme hidratante.

O que vou contar a seguir, sei que qualquer mulher entende: no carro, toda compostinha e acabada para ir ao dentista, e sem creme hidratante. A cara baça, opaca, impossível. O que é que encontro, revolvida a mala, que pode substituir o hidratante de rosto? Uma bisnaguinha de uma gordura qualquer, que deve ter servido há uns anos para me pôr os lábios carnudos e rechonchos, que respondia pelo nome de Lip Sculptor, de um laboratório mais que falecido, Helena Rubinstein. E vai de besuntar a cara toda com aquilo.

*

- Olha lá, tens a certeza que isso está dentro da validade?

- Acho que não, pelo cheiro. Quer dizer, não quis ir de cara baça para dar dois beijinhos ao dentista, vou de cara a cheirar mal. Confere.

~~~~~~~

Qual é o meu problema?

Qual é o meu problema?

Hã?

Digam-me!


* a sério que isto era óptimo. Eu ficava com umas beiças de sonho.

19/08/2014

Cabelos ondulados

Quem tem cabelos ondulados ou encaracolados, natural ou artificialmente, e, ainda por cima, compridos, sabe o quanto eles secam, mais do que qualquer outro tipo de cabelo. Não sei a explicação para isto, desconheço se tem a ver com a distribuição não uniforme dos raios solares ao longo dos fios, a verdade é que o calor, o sal, o sol, acho que até a areia, são fatais para transformar uma cabeleira ondulada ou encaracolada numa palha porreira para os ratinhos procriarem que nem ratos. Depois há o factor água a ajudar à festa: a água do Algarve não lava o cabelo. Não lava o corpo, não lava a roupa, não lava a louça. Se alguém do Algarve me lê (acho que não, é demasiado longe), e não concorda, paciência: esta é a minha perspectiva. Depois de lavar o cabelo no Algarve, tenho a sensação de que lhe passei pedra-pomes. Deve ter a ver com o calcário. Assim como no Alentejo, a água é tão pura, que o cabelo fica excessivamente lavado. Macio, brilhante, uns nervos.

O meu veio do Algarve bom para deitar para o lixo. Já o pintei (vinha de um quase louro tããão horrível), já o lavei com champô para cabelos pintados (eu, adepta do detergente Johnson's baby!), já lhe fiz trezentas máscaras, e ele sempre com um ar de que vai levantar voo e permanecer em modo ovelha-lãzuda que eu já não sei o que lhe fazer.

Outro dia vi uma revista à venda, que trazia esta oferta:

*
Bio Seivas, cabelos muito secos e danificados, creme reconstrutor sem passar por água, Queratina.

Comprei a revista e descobri a pólvora seca. O creme põe-se nos cabelos, depois de lavados e ainda molhados, e já não se tira. Por acaso, os cremes hidratantes para o cabelo também me irritam, porque obrigam a estar ali que tempos a passar por água e a gosma parece que nunca sai. Este não, nem é preciso tirá-lo e cheira tão bem que só apetece passá-lo no corpo todo. E, pelo menos, o cabelo não parece lixa nº 3, fica com ar de cabelo.

Eu dei-me bem, mas haverá quem ache uma porcaria. E, se há coisa que me irrita ainda mais do que o cabelo parecer de pedra, é quererem obrigar-me a usar um produto só porque se deram bem com ele. Portanto, fica a dica. Depois não digam que eu não avisei. 

* ninguém me paga para isto

18/08/2014

Praia em obras

Foi a pessoa à praia ver o mar e as gaivotas e dá com isto:

(proibidos de fazerem apreciações à qualidade das imagens, eu não sou obrigada a ter uma konika, ainda menos a andar com ela debaixo do braço, maneiras que o telemóvel, à distância, dá para ter uma ideia. Eu sou uma senhora, não vou desfilar isto tudo até ao local da obra só para poder postar aqui assim)

 Ali a gruazinha e uma família que entendeu que ali é que se estava bem.
 Ali o mar, não sei bem por que é que tirei esta.
Ali a gruazinha e a maquinazinha (não leva acento no A, não senhora, o acento cai com o uso do diminutivo) que expele areia negra, do fundo do mar, a jorros, para o areal. Em breve estenderemos nossos corpos, de bom grado, em cima daquele cocó.
Ali as gaivotinhas, que aproveitam todo o marisco que a areia lá do fundo traz misturada.

Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa...

17/08/2014

Na mouche

Esta noite sonhei com uma chefe que tive, que tinha voltado a trabalhar para ela, mas que, agora, ela estava ainda mais decidida a fazer-me sentir apertada e a mais naquele local, estendeu-me a mão para eu lha beijar e eu recusei, implicou que eu não tinha chegado a horas e eu a insistir que estava lá desde as 9:30, ela a negar, eu a insistir, a jurar pela minha saúde e depois a chorar e a parva que partilhava o meu gabinete que, por acaso, era a mula que eu gostava mais naquele sítio, de boca fechada, até que, depois de eu muito insistir, lá disse num fiozinho de voz "Chegaste às 9:30", e isto foi o bastante para eu pegar em duas ou três coisas que tinha levado de volta para a minha mesa e sair dali, sem mais uma palavra, e bati a porta com tanta força que o prédio tremeu e eu acordei.

E hoje li "O poder gera canalhas que não se satisfazem com servos. Precisam que se tornem suplicantes para satisfazerem a sua pequena glória" (in "Segredos de Amor e Sangue", Francisco Moita Flores, p. 328, que eu, finalmente, acabei).

E é isto mesmo.

16/08/2014

A menina quer, a menina tem

Queria mesmo um vestido igual ao da Lori do "Shark Tank", o que aparece na apresentação do programa.


E hoje a Beshkinha fez-me a vontadinha. Por € 19,99. Até dava mais um cêntimo pelo grande querido, que já é meu. Chuac.


Estamos nessa, Vanessa

Uma pessoa dá-se uns dias de descanso. É das poucas vantagens de se ser trabalhador por conta própria. Pode ser-se capataz e patrão fofo para si mesmo, numa relação muito autista. Eu dei-me uns dias.

Faz parte do meu desopilanço mental ver trash TV. Já expliquei isto vezes que cheguem para não ser apelidada de oca e fútil. Mas vá, sou oca e fútil, eu dou o corpo às pedras, adoro.

Antes de me elevar da cama e, aí sim, fazer qualquer coisa de útil, como ginástica, parei no canal CM TV. Estava no programa Flash Vidas e quatro pessoas dissertavam acerca da capa da revista TV Guia desta semana.


Eram quatro pessoas, de entre as quais "reconheci" a Maya, aquela taróloga (?), um senhor que é comentador desportivo e tem voz de lobo porque fomenta o seu próprio cancro da garganta e o dos pulmões dos outros, uma apresentadora que não me apetece ir ver quem é, e o "jornalista" que fez a "reportagem" da dita "revista", acerca da Vanessa Martins, seja lá ela quem for.

Estas quatro pessoas clamavam em uníssono que não é possível alguém ter um apartamento de x (três digitos) mil euros, roupa cara, carro bom, empregada, e não fazer nada na vida (enquanto se passavam imagens da tal Vanessa a desfilar fatos-de-banho, ie, a trabalhar, e um deles piava, timidamente, que a mesma senhora é detentora de uma agência de publicidade. Ou seja, não trabalha, segundo os cânones dos quatro desocupados). 

Estas quatro pessoas clamavam em uníssono que uma pessoa, chamada Vanessa Martins, não trabalha, enquanto elas próprias dedicam as suas vidas a... eeerrrr... comentar que há pessoas que não trabalham.

Mas o pico da maravilha jornalística aparece no conteúdo da tal revisteca:


"Essa Vanessa [reparai no pejorativo do pronome demonstrativo] tem clientes angolanos, caça grossa". 

Leões. Elefantes. Gnus. Girafas. Todos os bichos grandes do filme "O Rei Leão". Safam-se os suricatas, talvez as hienas, e aquele passareco, o Zazu.

Vou acabar este post, que já me fartei e não tenho mais nada para dizer. Sei agora que não posso desopilar com um programa qualquer, porque sou uma pessoa sensível. E acuso a CM TV de não pôr argola vermelha em programas deste tipo, em atenção a pessoas como eu.

Quanto à Vanessa, nem quero saber se é verdade ou não que faz acompanhamento a senhores carentes e rebarbados. Mas, se a opção é trabalhar nove horas por dia, acrescentadas com o trabalho todo de uma casa em cima, nem que seja por "apenas" onze dias seguidos, para ganhar uma caganita, acredita, filha, eu percebo-te e até te apoio. É menos indigno que isto e os tempos não estão para frescuras.

15/08/2014

Eu ainda não ganhei o Euromilhões

Ainda não foi hoje.

Não consigo explicar o que sinto quando, ao consultar o resultado online, verifico que ainda não foi desta. E o prazer que me dá ver que nem eu nem ninguém. Sou tão pérfida.

Não estou sozinha na minha não-vitória, na minha sim-miséria. Eu não ganhei o Euromilhões. Nem nenhum português. Nem nenhum europeu. Eu posso não estar a pular de alegria com os meus Valentes calçados, na perspectiva de adquirir, em breve, os Valentino de todas as cores, para mim e para as duas prometidas, que elas bem sabem que eu cumpro. E aqui reitero a intenção. Mas não estou eu nem está mais ninguém.

Nem sei o que faria a tanto dinheiro, hoje, se tivesse ganho, hoje, Sir Euromilhões.

Sei, sim. A primeira coisa que fazia era mandar um avião buscar o meu bestie, que está há três dias a mais de seis mil quilómetros, e já parece que foi há meses, tamanha é a falta que faz aqui.

Navegando na lamacenta net

Andei a ver de uma máquina, ou de um programa informático, que me fizessem o trabalho de transformar voz em texto.

Fui dar aqui:
https://86029c7e8d7449cc1fecc33f5822ae88d12da349.googledrive.com/host/0BxNJ65A_C5YhTUdTT05iRXVQSW8/codelab3solution2.html

Disse uma frase e aquilo transcreveu tudo mal. Enervei-me.

Disse outra frase, tipo "Vamos recomeçar. Vamos fazer uma experiência? Já vi que a pontuação meto-a eu. Ai, meu Deus! Pronto, já percebi que não. Sapo é a tua cabeça. Não estou a perceber que merda é esta"

E o generoso transcreveu:

Vamos recomeçar vamos fazer uma experiência pontuação por email primeiramão bom dia eu meu deus pronto já percebi que não s sapo fazer sua cabeça não estou a perceber que m**** é esta

Vou voltar para o recreio, continuar a brincar, a ver se me saem inspirações maiores e melhores.

14/08/2014

E o síndrome das pernas inquietas, hã?

Acho que nunca falei aqui de uma maleita que me assiste, que dá pelo nome de síndrome das pernas inquietas. Por acaso, não me apetece pôr links, mas a wikichata desenvolve sobre o tema, diz que é coisa de grávidas (por acaso, hoje, não) ou velhos (já não falta tudo!), mas, o que é certo, é que eu padeço - falemos claro: padeço - do meu síndrome desde pequerricha. À noitinha, quando tenho sono, sou acometida de uma enorme vontade de desatarraxar as pernas e atirá-las pela janela fora, tal é o desassossego e o formiguedo que me assolam as ditas. Só se resolve dormindo, o que, às vezes, não é possível, ou porque o ataque propriamente dito não me deixa, ou porque estou fora de casa, longe da caminha. Tipo no cinema à noite, que é onde e quando mais vezes acontece, ou num jantar cerimonioso, daqueles que me saem na rifa de onde em onde, e que só me dão vontade de pontapear, no primeiro caso, o infeliz que calha à minha frente na plateia, ou, no segundo caso, o desgraçado a quem calhou o tête-à-tête avec moi, que arrisca a levar com o salto do stiletto right between. 

Eu hoje estou destravada e poliglota porque trabalhei demais nos últimos onze dias, sem fim-de-semana. Depois passa-me.

Portanto, serve o presente para te dizer, irmão: não estás só, se padeces do mesmo mal. Eu conheço mais duas ou três personagens que foram brindadas com a mesma sorte, uma delas calha a ser minha cunhada (a dos suminhos de laranja, exactamente), e vá lá que não empernámos naquele bendito jantar após sunset, senão eram dois irmãos que ficavam com as mulheres mutiladas genitalmente, naquela noite.

Diálogos à sombra

LP - Hoje vou buscar Noori para o jantar.

UQ - Noori? Porquê?

LP - Para comemorar ter acabado o trabalho.

UQ - Está bem...

LP - Uns bebem, outros fumam, outros drogam-se, eu vou ao Noori.

08/08/2014

E é isto a minha vida

Trabalhar em casa tem vantagens. Não se gasta em transportes nem se snifa a axila do próximo que, invariavelmente, a partir de Março, desiste de tomar banho. Pelo menos, nota-se mais desde o mês de Março. 

De resto, é uma porra. Muito em particular quando a vida continua e há que lavar roupa e comer à mesa. Para quem trabalha com prazos, e sempre prazos apertados, isso significa entrar num modo directamente contrário ao da hibernação, porque tomara eu dormir. Já nem digo comer, cagar, dar umas. Dormir. Vai daí que tenho que me impor um horário e um esquema mental, sob pena de andar todo o dia de chinelos e pijama, ou então de me distrair a maquilhar-me e não conseguir cumprir com o trabalho. E o que me tocou a mim é extremamente absorvente e esgotante, pelo que só consigo trabalhar aos períodos de duas horas seguidas, com uma hora (mínimo) de intervalo entre períodos. É que nem adianta insistir e partir para a terceira hora. Começo a fazer só disparates e já não consigo fazer outro período de duas horas, se insistir nesta terceira.

Os meus dias estão a ser passados da seguinte maneira:

8:30 - 10:30 - trabalho;

10:30 - 11:30 - pausa. Hoje fui à rua tomar café, assim na loucura. Como pretendia comprar fruta na mercearia e sabia que vinha carregada, levei o carro. Estacionei um lugar à frente de uma praça de táxis, saí do carro e já tinha um fogareiro a querer festa:

F - A senhora viu bem o que acabou de fazer?
LP - Não. Qual é o seu problema? [a psi a brotar]
F - Já viu bem como estacionou?
LP - Já. Pus à frente da praça, repare que o sinal está atrás do meu carro.
F - E acha bem ter chegado tanto o carro que o meu colega se vai ver aflito para tirar o dele?
LP - O senhor precisa de conversar [a psi a borbulhar], mas não vai ser comigo, com certeza. Olhe, vá chatear a sua mulher, que é para isso que elas servem.

Bebi a bica.

Um dia apareço assassinada no passeio, mergulhada numa poça de sangue, e já sabem: foi um destes amigos da conversa pública que me matraqueou (com uso da matraca, mesmo) de vez. Talvez faça lenda, como o Roque Santeiro

11:30 - 13:00 - trabalho;

13:00 - 14:00 - fiz almoço, almocei e estendi uma máquina de roupa que ocupou 15 metros de corda, enquanto recolhia outros tantos, já seca. E não pensem que esta é a roupa da semana. Amanhã há mais. Ontem houve mais. 

14:00 - 16:00 - trabalho;

16:00 - 17:00 - Ferro. A roupa de ontem. Calharam-me lençóis de cama. Eu disse lençóis. No plural. E de elástico. Também no plural. Se são bons de passar, melhor são de dobrar. 

Tinha calor. Estou em casa, puxa, pá! Pus-me em trajes menores e fui logo brindada com uma visita, daquelas que são de cerimónia, mas vão entrando até à cozinha e vão dar comigo, em cheio, agarrada ao ferro, de top e calcinhas. Tudo preto, foi o que valeu. Parecia que estava de maiô. Foi o que ela disse. Tudo preto, vi eu. Estou farta de mostrar as mamas a tudo o que entra na minha casa quando eu estou a passar a ferro. Já não foi a primeira vez, asseguro-vos. E sempre com gente de cerimónia. Tenho mesmo que rever os meus princípios.

17:00 - 19:00 - trabalho. 

Dá para perceber por que é que não me sobra tempo nem para me coçar?

É que acabo este expediente e ainda vou fazer sopa. E o jantar. E recolher a puta da roupa que, como está um calor de ananases, já está seca. 

Depois vou tentar dormir.

E agora vocês pensam: "Ó titi, estás para aí a queixar-te, mas depois vais gozar o cacau que nem uma lontra". Não, môris. É mal pago, mesmo. As putas ganham mais e divertem-se o dobro.

07/08/2014

My Valentine

 eu:  Boa tarde!
Encomendei uns sapatos há umas semanas, lembra-se de mim?
 VOA:  olá  :-) 
os bege valentino 37
 eu:  :) era para saber se estão demorados
esses mesmos
 VOA:  chegaram hoje 
vao amanha
 eu:  ai que bom!
excelente!
diga-me o que é que acha deles
 VOA:  «mesmo bom as vezes ficam presos na alfandega é um stress
 VOA:  já comprei muitos destes e postei fotos sao perfeitos
 eu:  pois, por causa do espaço comum europeu, a quem o diz
 VOA:  os seus vi agora a noite estão direitinhos
 eu:  ai que maravilha
 VOA:  :-)
 eu:  :)
obrigada
 VOA:  vou ver qual o umero de registo ctt e envio já segunda está ai
 eu:  mil obrigadas, estou desejando vê-los
 VOA:  rd402658516pt registo ctt
vou tirar uma foto
 eu:  não dá muito trabalho?
 Enviado às 19:53 de quinta-feira
 VOA:  não passo o tempo nisto, do telefone passa logo para o computador...ovas tecnologias
 eu:  pois, a facilidade que dão acaba por resultar em trabalhos acrescidos
a mim aparecem-me relógios, não deve ser isto :D
 Enviado às 19:56 de quinta-feira
 VOA:  se quiser pode juntar a encomenda entrega imediata relogio MICHAEL KORS 30€
 eu:  Pago mais 30 euros e recebo um desses relógios?
 VOA:  SIM
chegaram agora
como tenho para entrega e não divulguei ainda resolvi divulgar-lhe
 eu:  Não posso, por muitos motivos, mas o principal é ser alérgica ao metal e eles têm o escudo de metal
 VOA:  são as inspirações de relogios mk que tenho, ainda não tinha visto
pena assim recebia logo,  :-)
 eu:  e na segunda à noite já tinha o pulso cheio de borbulhas :)
 VOA:  vao esgotar num instante
nem pesar, que pena
 eu:  pois vão, são tão giros
 Enviado às 20:03 de quinta-feira
 VOA:  parece de propósito quero colocar a foto e nao consigo eu a dizer que é rapido, LOL 
 eu:  :D paciência, aumenta a surpresa
 VOA:  É por isso que costumo enviar as fotos, já que tiro para vos por loucas
 Enviado às 20:06 de quinta-feira
 eu:  :D
eu aguento sem endoidecer
 VOA:  ahhhhhhhh
 Enviado às 20:08 de quinta-feira
 eu:  também é fácil, agora que sei que estão quase cá...
 VOA:  vou enviar por email
 eu:  :) obrigada. mesmo.
 VOA:  já está, isto nao estava a carregar. amaha segue
 eu:  iuhuuu!
 Enviado às 20:11 de quinta-feira
 eu:  ai que lindos, que lindos!
 VOA:  eu sei  :-)
 eu:  só espero que a fivela não me encha de bolhas :D
adorava ter os vermelhos, tenho que pensar nisso muito a sério
 VOA:  depois quero foto do feedback se quiser tirar claro
não deve pois prende de outra forma
 eu:  eu mando, sim :)
 VOA:  e se as coisas fazem bolhas não pode colocar varniz, não funciona
 eu:  pois, não dá
a única coisa que me protege do metal é forrar tudo com panos ou substituir por peças de plástico
 Enviado às 20:15 de quinta-feira
 VOA:  bjs e uma otima noite . segue fly to you no instagram?
pois vou publicar os sapatos com uma carteira mk linda de ,morrer
 eu:  não sigo porque não tenho...
 VOA:  e o facebook é amiga?7
 eu:  faça isso, que eu sou uma compulsiva :)
 VOA:  como conheceu?
 eu:  boa noite, bjs
foi uma companheira de blogs, que mora no Porto
 VOA:  já está vendida, agora só por encomenda
 eu:  ela sabia que eu andava a ver de réplicas
é só curiosidade, eu tenho um mundo de malas, acho que não me falha nenhuma cor (Tous, Furla e D & G)
 VOA:  eu sei tudo. visite o site fly to you e veja a pagina privada coloque a password ******** e tem acesso a quase todas as replicas minhas
boas compras que é o que se quer  ;-)
 eu:  está bem, eu faço isso. prometo ;)
adoro esta possibilidade de comprar à distância, sem me chatear
 VOA:  :-)
 eu:  :)


O post seguinte já não foi sobre as minhas reclamações, mas este era uma urgência.

63 %

Sessenta e três porcento (aposto que não sabiam que % se escreve assim) dos professores que fizeram a prova de avaliação deram erros ortográficos. 

Como sabem e, se não (sim, neste caso, se não escreve-se separado), deviam saber, eu tenho um TOC com erros ortográficos. Fico tão nervosa quando os vejo que acho que até suo. Já houve tempo que os denunciava. Já houve tempo que os fotografava. Agora tenho um mini AVC e sigo em frente. Não adianta corrigir um mundo que ainda fica a achar que eu sou doida. 

63 %

Ou seja, os restantes 37 %, se não me falha também a matemática, não é que não tenham dado erros na prova. Simplesmente, uma boa parte deles foram corrigidos por outros tantos porcento que, uma vez que também dão erros, nem repararam nos erros dos colegas.

Assim percebo que seja tão frequente aparecerem erros ortográficos e estar-se tudo a cagar. Tudo, menos eu, que até me dá a cólica, mas não cago. 

A propósito, estou a ler um livro que estou a adorar, Segredos de Amor e Sangue, Francisco Moita Flores, que, pá, a única coisa que me está a deixar com os cornos é mesmo o problema que ele tem com a pontuação. Mas eu já disse e um dia faço-a: pego num livro, corrijo tudo e mando para a editora. Eu tenho que sublimar este TOC.

E também a propósito de reclamações: por ter esta mania de reclamar por tudo e por nada, o próximo post é o relato de como acabou a saga com a MEO e também como foi possível receber uns ténis novinhos em folha por ter reclamado no Decathlon um serviço mal feito. Não fora o velho que me atendeu um mal disposto da vesícula, e eu tinha deixado passar. Assim como era, tive direito a pedidinho de desculpas e téni novinho em folha que até me regalei.

06/08/2014

Nunca esquecendo

Ando sempre em contramão. Mas calhou um destes dias ler a lírica de Camões, Alma minha gentil que te partiste

(...)
E se vires que pode merecer-te 
Algũa cousa a dor que me ficou 
Da mágoa, sem remédio, de perder-te, 

Roga a Deus, que teus anos encurtou, 
Que tão cedo de cá me leve a ver-te, 
Quão cedo de meus olhos te levou. 


E lembrei-me então o que é que me lembrava:

(...)
E se vires que pode merecer alguma coisa da dor desta perda sem remédio, rogo-te, meu pai, que pronto me leves a vê-lo, que nestes dias as saudades apertam mais este meu coração trespassado pela dor.
Eu só fui mãe deste filho.

Hoje, já não sou mais mãe de ninguém.

(Judite Sousa)


Tanto para contar, tão pouco tempo para escrever

Vim de férias. Anteontem. Ainda não desfiz a mala. Tinha à minha espera um trabalho com prazo espartano (para variar). Cheguei à uma da tarde, almocei e comecei. Só faço pausas para passar a ferro. A tipa está de férias. Prefiro imaginar que está enfiada nas Galinheiras, a ouvir os vizinhos aos gritos e aos tiros, ou na casa da tia, no Seixal, a banhos numa piscina cheia de pulgas. Deus, se existes, perdoa-me, que eu sou só uma pecadora.

O dono da casa onde fiquei é um pato bravo detestável. Telefonou-me, já eu estava em casa, a reclamar que a gata lhe arranhou as cadeiras da sala. Mal sabe ele para que serviram os cortinados foleiros durante toda a minha estadia. Armei-me em magnata e disse-lhe que mandasse arranjar aquilo e depois me enviasse a conta. Não consigo esquecer os vinte dedos dele. Curtos e gordos. Homens da vida real, aprendei, que eu não duro sempre: nós não gostamos de dedinhos gordos e curtos. Não servem para nada. Nem sequer para tirar cacos. Apareceu-me de sandálias, quando foi buscar a chave da casa que ele julga um palácio. Mas já lá vamos. E eu bati o olho nos pezinhos dele, de tarado sexual (pés pequenos num homem é sinal de tara sexual, isto é científico), e depois nos dedos das mãos, ao telemóvel (os homens pequeninos e de dedos gordos falam muito ao telemóvel. E dizem muitas vezes "reportar essa situação" e "envio-lhe um mail só para confirmar que recebeu o meu mail"), cheios de anéis, o pulsinho gordo com uma pulseira de prata (ou aço, um pânico) e até o temi. À chegada, depois de ter sido inconveniente ao telefone (porque achou que eu estava perdida e, em vez de me orientar, tratou-me mal), assim que saí do carro, mudou logo de cara. Parecia que tinha visto a Julia Roberts, mas em bom. Desfez-se em mesuras e salamaleques, e, no fim, despediu-se de mim com um piscar de olho. Devo ter um tipo muito ordinário, é rever a forma de me vestir e o bambolear das ancas, que é capaz de ser demais para um homenzinho que é dono de uma casota de praia e acha que tem ali um palais. Então não é que me pôs o seguinte problema, quando se queixou dos arranhões da gata nas putas das cadeiras: "Está a ver, agora as pessoas que vão a seguir ocupar a casa, vão dar com os assentos naquele estado!?". Assim perguntou, assim levou a resposta: "Ai, puramôr de Deus, mas que espécie de gente é que ocupa a sua casa? Não me diga que lhes prejudica os rabos sentar em cadeiras com dois ou três piquinhos cada uma!". Lá está, tenho que rever a forma de me vestir. No fundo, entendo que alguém lhe disse que a casinha dele é um luxo asiático, e esta parola foi capaz de, no momento de lhe entregar a chave, lhe dizer a seguinte frase: "Olhe, nem se pode ir ao jardim, tal é o cheiro a cocó dos cães. Abrir a porta da sala, nem pensar, que o cheiro entra pela casa dentro e é uma agonia. Fora as moscas que aquilo atrai. Não dá para uma pessoa se sentar a ler um livro ou fazer uma refeição lá fora, só cheira a cocó". E o anão a responder: "É a primeira pessoa que me reporta essa situação...". Pois, pudera. Eu sou Linda Porca, aquela que lida com cocó com assaz descontracção, a começar por homenzinhos como ele. Eu sabia que hoje ia escrever a palavra assaz.


02/08/2014

Diálogos ao sol # 2

Encontrei um casal de amigos, colegas de fac, que não via há quatro anos. Achei-a a ela velhíssima. E comentei com uma das queridas:

LP - Achei a M. tão velha. Com montes de coisas mais. Mais rugas. Mais papos. Mais flácida. Eu também, como não estou quatro anos sem me ver ao espelho, não noto tanto em mim. Às tantas, ela olhou para mim e também viu uma data de coisas que não estavam cá há quatro anos.

UQ - Não, o mais certo é ela não ter encontrado alguma coisa que estava aí há quatro anos.

Fofa, para me sossegar, mas numa delicada alusão à retirada do meu pneu. É verdade, não cheguei a revelar aqui, pois não? Lipei o pneu. Eu só vos digo que agora só não sou a Miss Cintura Fina da Praia das Tias porque as minhas queridas me batem aos pontos. E eu nada ralada, muito vaidosa.

As saudades que eu já tenho da minha alegre casinha, tão modesta quanto eu

O grande truque para se acabarem umas férias sem pena do fim, é arranjar uma casa com condições para que nos fartemos dela em três tempos. Em três dias.

Vizinhos com cães (quatro) portadores de coleiras anti-latido, que ganem desalmadamente, nomeadamente quando avistam minha doce gatita. Ela devora relva do mini-jardim, fingindo-se indiferente ao sofrimento deles, mas desafiando-os daquela forma lânguida de que só os gatos são capazes. Os cães fazem tanto cocó que há dias, assim de mais humidade, que nem se pode sentar a ler um interessante livro na zona ajardinada: o smell e o mosquedo rapidamente nos expulsam. 

Dono da casa histérico com a casa. Os sofás horríveis, de uma pelezinha verde, são para manter intactos. A gata não concorda. Descobri uns cortinados foleiros numa arrecadação, que têm servido de mantas para os sofás. Pelo menos, a gata não os esgatanha. Cortei-lhe as unhas no primeiro dia, mas isso só lhes mudou a configuração das pontas - de anzol para agulha sem ponta.

As camas são todas desconfortáveis. Nunca vi uma casa com tantas camas e todas tão desconfortáveis. Esta foi a nona noite e foi a primeira em que consegui dormir sete horas. 

Não há roupeiros, parece que vim passar férias a um motel de quecanso. A mala continua feita, menos um trabalho para o dia do regresso. 

A piscina é partilhada com mais sete casas, e quase permanentemente ocupada pelos emigras que me calharam de um dos lados, que ora falam português, ou lá o que é aquilo, ora falam uma língua que soa vagamente a francês. Como detesto piscinas, cedo-lha de bom grado mentalmente, oferecendo o sacrifício pela minha saúde e dos meus, como se me custasse muito. Nem quero imaginar a concentração de amoníaco urinário per litro cúbico daquilo. E, em não sendo meu, mete-me nojinho.

E depois, parece que nunca ninguém habitou a casa. Não falta só a máquina de lavar louça. Faltam comodidades que, para uma esquisita como eu, são fundamentais: panos de cozinha; aventais; pegas; mais louça (não suporto ter os pratos e os talheres contados); um alguidar. Tenho que passar a incluir na mala algumas destas coisas. Já trago sempre molas da roupa, que, sabe-se lá porquê, as casas de férias não têm. Agora as pegas, é novidade absoluta. E, quanto ao avental, isto obedece à velha máxima: podes tirar a gaja do avental, mas nunca tirarás o avental à gaja. Confuso? Eu também acho. Não há meio de me sair o Euromilhões. Mas estou quase a voltar para casa.