11. Convenhamos: a máscara é como a touca de natação: não fica bem a ninguém. Quanto aos homens, não sei, e até admito que passem a usar rímel (os que ainda não usam) e a depilar convenientemente as sobrancelhas (os que ainda não o fazem). Já nós, temos como aceitável tudo o que é graxa e tinta para intensificar o olhar - seja lá o que isso for -, o que nos dá, nesta fase em que nos encontramos, total liberdade [oh, precioso termo!] para lhe dar com a genuína maquilhagem saudita - ele é rímel, ele é eyeliner, ele é lápis, ele é a sombra, ele são purpurinas e glitters até mais não podermos carregar, vale tudo menos tirar (os) olhos, vai ser cá um bollywood! (Ai, já sei que a Índia e a Arábia Saudita não são o mesmo país, desenervem-me.);
12. Existe uma guerra surda entre o pessoal do pijama/ fato de treino e o pessoal que se veste como adulto normal e minimamente equilibrado. Outro dia andava a navegar - salvo seja - pela única rede que frequento, que é o Instagram, e deparei-me com um comentário de alguém que criticava as pessoas que todos os dias se vestem "normalmente" (vulgo, com roupa de sair à rua), ao invés de se alaparem num pijama ou fato de treino, e acrescento eu, quietinhas, a deprimirem, em posição fetal a um canto da cozinha, enquanto se babam, sem distinguirem o dia da noite, quanto mais os dias uns dos outros. Claramente, são pessoas que não trabalham. Não estão a fazê-lo a partir de casa nem dentro de casa. Não há uma casa-de-banho para limpar, uma gaveta para arrumar, uma cestada de ferro para engomar. Portanto, o objectivo maior será relaxar, não fazer nada, aborrecer-se e infernizar a vida aos outros, por falta de ocupação. Tudo isto de pijama, ou fato de treino;
13. Há gente muito paranóica, que, ou muito me engano, ou já era antes da pandemia, e agora apurou sentimentos e método. Por exemplo, a menina que me traz o sushi todas as semanas: telefona-me quando chega à minha porta para me obrigar a descer - ela não pode subir, o meu elevador e escadas estão impregnados da virose, é tudo um nojo, um perigo, uma repelência; eu desço e o panorama é sempre o mesmo: ela vem, magra de nervos, toda tapada e de luvas e de máscara (até aos óculos); estica o braço o mais que pode e entrega-me o saco com a comida usando as pontas dos dedos: travamos sempre o mesmo diálogo: "Quer que desinfecte o multibanco?" [a máquina vem forrada a papel aderente14. Então, a praia vai ser condicionada e limitada? Olhem, eu não vou. Um Verão branca, mas é ver a coisa pelo lado bom: não envelheço mais um bocado, não contribuo para o carcinoma, não gasto em protector solar nem em biquínis caríssimos, não enfrento bichas absurdas por um lugar onde, quantas vezes, e por mais que seleccione a praia, tenho que aturar a celulite das outras, os guinchos dos infantis dos outros, as frases lapidares naquele Português-valha-me-Deus, "Trouxestes o comer?", e merdas. Está óptimo. No entanto, pago para ver as fardas dos fuzileiros e dos polícias que vão patrulhar a coisa (já para não falar na falta de contingentes para o efeito, mas parece que disso ninguém fala. Ou vão formar mais uns quantos até lá?). Será de botas? Será de sunga? Bermudas? Fica a questão fracturante;
15. A nouvelle vague de velhos que não se sentem velhos e afirmam a confinação como uma forma de coerção, ou coisa assim. Vamos lá a ver uma coisa, meus velhos: é certo que, ao pé dos vossos pais, na faixa dos 90, vós sois uns petizes. Porém, não é lá porque os vossos 70 estão mais próximos dos 60 do vizinho - que também já faz parte de um grupo de risco, porém sente-se um jovem - que não deixais de estar em risco. Ninguém vos quer amarrar a casa, toda a gente vos quer proteger. Apenas. Perceberam a minha Matemática? Nem eu, é sempre a mesma coisa.
Esta porra hoje não me deixa justificar os parágrafos, e eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui a insistir, tende lá paciência, que eu também já não vou para nova.