28/04/2014

Ó tempo não voltes pra trás

Agora faz de conta que são 16:33 da tarde, que eu não sou parva e não abro o blog no local de trabalho. Sob hipótese alguma.

Sabem aquelas situações de stress no trabalho, em que têm apenas quatro horas para cumprir uma tarefa que, em condições normais, demoraria dois dias? As variáveis podem variar, ou não fossem elas variáveis. Às vezes também nos distribuem uma coisa para fazermos em meia-hora que nunca levaria menos que duas. Pronto, perceberam a ideia.

Eu estou assim, mas ao contrário. Estou a inventar o que fazer e, cada coisa que invento, leva-me, na melhor das hipóteses, meia-hora a fazer. E... tenho... que... demorar... duas... horas. Há bocado pus-me a ler um PDF que já não sei como nem por quê guardei, chamado "Modelos de demonstrações financeiras - Observações e ligação às NCRF". Quer dizer, devo ter guardado fazendo "salvar uma cópia". Lá para quê, quero esquecer.

Ora, isto causa-me stress invertido. Saio daqui quase morta de cansaço. Hélio na cabeça. Nem sei mesmo como é que ainda não comecei a falar fininho. 

Outro dia, uma disse-me: "Olhe, não trabalhe tão depressa". Podia-me ter dito "Olhe, não trabalhe tão bem". Assim fiquei sem saber. Será que me queria dizer que "Depressa e bem não faz ninguém"?

Grande verdade, mas mais vale depressa e mal do que não fazer nada, como é o caso daquela pessoa. Embora eu ache que sou uma profissa de mão cheia.

Entretanto, fizeram-se 16:40 (com todas as pausas que fiz a escrever este post zzz zzz zzz), o que me enche de esperança que os próximos 110 minutos passem depressa.

O maravilhoso mundo feminino

Vamos supor que uma mulher vai ao supermercado Pingo Doce comprar abastecimentos para a periodagem, na medida em que está longe de casa e já torrou todo o abastecimento que levou consigo para o local de trabalho, derivado da circunstância de haver meses mais diluviais que outros. Esta é, digamos, a forma menos menstrual de colocar o problema. 

Agora vamos supor que a mesma mulher tem dinheiro à conta no porta-moedas para pagar uma embalagem de pensos (Super-máxi-alas-plus-e-se-fosse-uma-canoa-também-podia-ser) e outra de tampões (Super, e não superplus por não haver no Pingo Doce. Caro Soares dos Santos, escuta: há dias em que nem de fraldinhas. Põe lá os superplus à venda, que aquilo não desflora ninguém).

Continuando nas suposições, imaginemos que a mesma mulher não quer ir levantar dinheiro, por uma questão de princípio, seja lá qual for ele. Vai, corajosa, direita à estante das intimidades, escolhe o que lhe parece mais consentâneo com a desgraça uterina em curso e pondera. Qualquer mulher, nessas circunstâncias, pondera ir buscar um rabanete, um nabo, um pepino... não, um pepino, é melhor não, por nada, apenas porque não, mas uns iogurtes, para disfarçar a higiene íntima, ali exposta aos olhos de toda a gente, homens de todas as idades, credos e feitios (as outras mulheres estão nem aí, estão nem aí...). Mas esta estava com o dinheiro à risca.

É quando se dá o momento de colocar as coisinhas no tapete rolante da caixa. Olha para a frente e um homem está a pagar três garrafas de água de 1,5 litros e um cacho de bananas. Uma compra com vários significados. O homem bebe água. Come bananas. O homem vai lavar os dentes. Tem um macaquinho. O homem vai meter água nos depósitos do limpa pára-brisas. Tem cãibras. O homem é diabético. Precisa de potássio.

A compra da mulher apenas grita ao mundo: SANGRE!

Uns crominhos da minha colecção

Existe um romântico no meu bairro. Não sei se a menina é a mesma e tem uma frota, se o romântico é o mesmo e tem duas meninas, ou se são dois românticos e duas meninas. Mas a prova fotográfica está aqui.

 Uma pastilha elástica esmagada a meus pés num dia de chuva.


 Um lenço de papel esmagado a meus pés num dia seco.


Isto não explico o que é. É um coração cheio de vértices.

 Idem, mas sem vértices.


Eu moro aqui.

 Parque de estacionamento dos Restauradores.

A meus pés. Again. Devo andar sempre de nariz no chão.

24/04/2014

O maravilhoso mundo feminino # 3

Ida ao Colombo, dois objectivos principais (ou duas desculpas, uma vez que são as que ficam para o final da volta): comprar um estendal novo (muito estendal se parte em meu recinto) e uma prenda de aniversário. A volta começa pelo preenchimento de um objectivo secundário (ver, rever, namorar, talvez até casar com o triquini mais bonito do universo), pelo que corro as lojas. Não me lembro se vi o trik na Oysho ou na Women'Secret. A idade não perdoa. Podes ainda poder vestir um triquini, mas o facto de não te lembrares onde o viste estraga-te a volta. Na Oysho não está. E os biquinis já cansam. Quando gosto da parte de baixo, não gosto da de cima e vice-versa. E já tenho uma colecção tão vasta de biquinis que chego a esquecer-me de usar um ou outro durante um Verão. Tenho que tomar Memofant para mulheres. Rumo à Women'Secret, já com os pés a latejar. Levei uns saltos altos que já não usava há um ano e o meu delicado pezinho lá se ressentiu. Comecei a fazer uma pequena bolha no dedão do esquerdo, que, de pequena, passou a gigantesca - ou não, mas doía para cornos, quase me tomava a perna toda, ou todo o meu lado esquerdo. Na Women'Secret, não encontro o trik, mas também já levava as vistas tão turvas de dores que, mesmo que ele lá estivesse multiplicado por mil, eu não o teria visto. Penso na Primark. Ainda tenho que ir ao AKI ver do estendal, tenho a minha esquerda toda a latejar, mas tenho mesmo de ir à Primark. Lá há triquinis, mas só em preto e um com um padrão que metam-no no cú, com cavalos. Eu não quero preto. O "meu" triquini é vermelho e lindo. Na Primark estou a ponto de começar a ganir de dores. Descalço o sapatinho e vejo a bolha, rebentada, a pele toda a espalhar-se pelo dedo, esfolado, socorro, preciso de umas muletas! 

Começo a raciocinar. Na Primark há pensos rápidos. Eu já não tenho pés para ir à farmácia. Um deles desfez-se. Até na alma tenho dores. Com tudo isto a fazer parte do meu raciocínio, procuro os pensos rápidos. Escovas de cabelo, escovas de dentes, esponjas maquilhantes, molas para a roupa (wtf?), estojos de unhas, mas nada de pensos. Já sei, vou usar uma tesoura destas e corto um bocado de penso diário que tenho na mala e faço uma almofadinha para a ferida... ah, os pensos rápidos. Uma lata gira, 3 euros. Nem que custassem 30, com o osso à mostra é que eu não posso ir ao AKI. Até ao carro, isto enchia-se de larvas. Até casa, gangrenava. Pago a lata, sento-me num banco a pôr o penso - que é tudo menos esterilizado - e assalta-me a dúvida: qual ponho? São todos tão giros... tenho pena de estragar um... Ponho o menos giro e sigo. Passo por umas chinelas de borracha que, cada dois pares, custam 2 euros. Acabei de dar 3 pelos pensos e mantenho nos pés os sapatos da tortura. Gloriosos, lindos. E de salto alto.

O maravilhoso mundo feminino # 2

- Tu dizes que tens celulite, mas aonde?

- Aqui [e aponta para as coxinhas].

- Tu não tens um único grão de celulite [a puta mede-se aos grãos]. Queres ver o que é celulite? Eu mostro-te.

- Eu vejo-a. Ela está no espelho.

[ambas caladas. A pensarmos o mesmo. Great minds think alike]

- Se calhar, a celulite está no espelho. Tenho que barrar o espelho com aqueles cremes...



17/04/2014

Run, stupid, run

Não consigo perceber por que correm as pessoas no metro. Correm para o metro, isso até percebo. Não podem esperar três minutos pelo próximo e preferem deitar abaixo toda uma dignidade, e é ver velhos, novos, gordos, coxos, marrecos, anões e quase todas as personagens de David Lynch a correr na plataforma para apanharem o metrinho deles. Mas e aqueles que saem do metro e desatam a correr? Querem ser os primeiros a passar no torniquete? Querem galgar escadas acima e chegar à superfície em primeiraaaaaas? Querem ir tirar a mamã da forca? Estão aflitinhos para cagar? 

Na verdade, os que mais me transcendem são aqueles que correm escadas abaixo nas estações em que se vê cá de cima que o metro não está na linha, nem se ouve chegar, nem tão cedo parece estar para vir. Quem são estes personagens? O que os move? Aflição para cagar, só pode.

Ah, e um forte abraço pelos sovacos àquele povo que barra a saída a quem só pretende apanhar o metro que está parado, já a apitar, do outro lado da plataforma (Baixa Chiado e Campo Grande), impedindo, assim, que os outros sigam viagem. Tenham uma boa obstipação, que é para não vos dar a tal afliçãozinha. 

16/04/2014

Se eu fosse uma blogger mesmo a sério

hoje falava do dia da mãe. Pois, mas não sou. E não me apetece. Ai que rebelde.

Bebam estes dois chás. Pode ser um a seguir ao outro. Eu achava que o explosão de frutos vermelhos era a melhor coisa do mundo. E é, mas estes ainda são melhores. Tentem decidir qual dos dois ganha nos vossos corações e depois dêem notícias. 


Sabes que trabalhas num lugar onde todos são esquisitos menos tu

Quando existe um senhorzinho a rasar os 60 anos, que é funcionário de sei lá quê (expediente externo? Outsourcing? Colaborador pontual?), daqueles que não tem lá poiso, mas vai lá muito, que te apanha sozinha e avança para ti a dizer "Tão boa!".

Quando o chefão está rouco como um adepto depois do jogo, alguém lhe diz que tem que se ir tratar e ele responde "Não vou, não senhor, isto fica-me tão bem!" [NOT]

Quando há uma mulher que tem cerca de 1,60 metros de altura, pesa 40 Kg e diz que tem que ir ao ginásio. 

Quando há uma macha que te ama e odeia em turbulência, porque tens escrito na testa "heterossexual empedernida" e ela não aceita isso nem se conforma e, no entanto, te agarra a cintura da saia e pergunta onde é que a compraste porque quer uma igual. E toca-te no cotovelo de cada vez que passa por ti. Porquê o cotovelo, minha forte mulher? Já não me chegava a Fufanã, espera. 

Quando há uma pessoa que odeia toda a gente que acha inferior. E que se  julga sente superior a toda a gente. 

Quando há uma mulher gorda que fala ao telefone com a filha de dois anos como se ela fosse um gatinho de duas semanas "Oh, bebé, é a mamã!...". Isto até a mim me inspira instintos de lançamento do agrafador, com a zona agrafante virada para aquela testa, quanto mais à tonta da superioridade. As minhas gatas tinham 3 e 5 semanas quando vieram para a minha casa e eu não lhes falava assim.

Quando há uma senhora com idade para ter juízo que fica a hiperventilar cada vez que se me acabam os agrafos (e não, embora me apeteça, ainda não aventei o agrafador à testa da gorda) ou os clips e lhe vais pedir reabastecimento. E conta-os e regista tudo num papelinho. Tenho ganas de lhe atacar o economato e roubar sem dó nem piedade, e sem dó também do AVC que lhe provocarei.

Quando há um senhor, também de perto de 60 como o outro que me acha boa, mas muito respeitador (às tantas cavalga comigo noites a fio) e que, de cada vez que te vê, te dá um aperto de mão que um dia vais pagar caro na farmácia, só à custa das artroses. Para já, fico-me pelo aceno a todos os helicópteros do INEM que passam naquelas janelas.

Quando há um jovem, o único jovem daquele buraco (24) que diz LOL cada vez que acaba uma frase.

Eu sou, seguramente, a pessoa mais normal daquele antro. Como, aliás, em praticamente todos os cenários da minha vida.

O blogger tem algum livro de reclamações?

Não consigo editar os meus textos e corrigir aquelas distracções que acontecem a toda a gente. Uma vez publicado, ou elimino aquele e escrevo um novo (usando copy, essa também sei), ou nada feito. Por isso, fica o aviso: quando eu der um erro, tratou-se de uma gralha. Eu jamais me engano e raramente tenho dúvidas, no que à língua se refere.

Não consigo publicar nenhum post sem ter que recorrer à lista de mensagens, pôr o visto no post que está em rascunho e clicar em "publicar".

MAS, MAIS GRAVE que tudo o que disse acima: não consigo publicar a minha lista de blogues. E isso é imperdoável. Quando conseguir, saberão que vos amo muito a todos, que vos leio embevecida, que admiro a vossa prosa. Até lá, viverão na ignorância desta minha afeição, quanto mais não seja porque a maioria não me lê a mim. E digo isto sem que me doa nada, nem mesmo a voz.

Se alguém souber como mandar um mail ao blogger a reclamar, sou toda ouvidos. Não posso dar mais que as orelhas.  

Dica # 13

Jovem: se, como eu, 

- gostas de coisas azedas;

- abusas do vinagre nas sLadas;

- esperas por Novembro e pelo aparecimento das tangeras mais verdes, de beicinho a tremer;

- não botas açúcar no café, no chá, e, vá lá, em nada;

- quando fazes a limonada, bebes as gotas do sumo de limão que ficam no fundo do espremedor, puro, sem água e sem açúcar, só para teres aquele arrepiozinho bom e sussurrares "ai... que azedo... que bom...";

- pastilha elástica que se preze é de mentol, azul, que estale o maxilar, te ponha a salivar abundantemente e faça chorar os olhos (pois, haviam de ser as pedrinhas da calçada);

- os iogurtes são para serem comidos naturais, não açucarados, não adoçados nem porras,

então,

ESTE 


é o electrodoméstico que te falta.

Tenho uma iogurteira há duas semanas (ainda não fez) e agora sou feliz. Ela faz 7 iogurtes de cada virada. Já fiz iogurtes quatro vezes. São 28 iogurtes, dos quais comi, pelo menos, 24. Preciso apenas de um iogurte, distribuo-o pelos 7 potes, acabo de os encher com leite e zás, é ligar aquilo à corrente. Agora vamos a contas: 

Compro uma embalagem de 4 gregos (€ 2,50) e utilizo um grego na feitura dos meus 7 bebés. Como um grego (até o lambo) enquanto espero (são umas 8 - 12 horas a bombar na iogurteira até ter 7 iogurtes). Dois ou três dias depois, uso o terceiro grego (uso e abuso, à maluca) para mais 7 rebentos, como o 4º grego enquanto espero que eles nasçam. Ou seja, comi, em seis dias, 16 iogurtes (tenho sempre que contar com os gregos que papei entretanto), feitos, no fundo, com dois, por € 1,25 + 2 litros de leite (€ 1,12) = € 2,37. Se não fosse gulosa e não papasse tudo o que é grego que me aparece no fresco, certamente a poupança seria muito maior (faria 28 iogurtes com 4 gregos 4 litros de leite), mas o forrobodó muito menor.

10/04/2014

Alone again, naturally*

Não sei se é o avançar da idade que nos vai retirando a capacidade para nos adaptarmos. E a capacidade para aceitarmos "o próximo" como ele é, com defeitos e virtudes. Pode ser esse avanço do tempo que nos proíbe de continuar a aceitar idiossincrasias como normais, quando, na verdade, mais não são do que taras e transtornos obsessivos. Eu estou a trabalhar num sítio há mais de um mês e não consigo adaptar-me. De cada vez que parece que "é desta", há qualquer coisa que me diz "esquece, vai-te embora, este não é e não vai ser o teu lugar". Sabem aquelas pessoas estúpidas, que não conseguem meter uma peça cúbica num buraco redondo, porque não percebem que o buraco redondo é para o cilindro? (os buracos e eu). Pois. Eu não sou a pessoa estúpida, pá. Eu sou a peça cúbica. Não vou entrar por ali, aquela não é a caixa onde me vou adaptar, lá dentro, com outras peças que, embora diferentes de mim, são compatíveis. Não são. E tudo me grita, quase diariamente, que "este é o último dia, não aguento nem mais um". Só que acho que sou uma porreira e tenho um espírito de missão que é quase de sacrifício. Acho que noutra encarnação fui Jesus Cristo. Pediram-me para ficar um mês, eu aguentei um mês, apesar de ter chegado ao terceiro dia e ter dito: "Amanhã já não vou. Não cumpro o primeiro mês, não cumpro sequer a primeira semana". Mas fui. Por dar ouvidos a um amigo do coração, por tê-lo mole. Por o dinheiro me saber bem, sou tão puta. Por querer juntar dinheiro para tirar o pneu, sou tão fútil. Não interessa, fui. Ao fim de um mês pedem-me para ficar mais outro e eu fico. Fico como um preso, a contar os dias para acabar Abril, a riscar tracinhos na parede mental, a convencer-me que, com dois feriados pela frente, o mês é pequeno, são menos dias do que em Março. Cada diz que passa, risco-o num calendário, também mental. 

Adoro o trabalho. Cumpro zelosamente. Nunca devo ter sido tão eficiente na minha vida toda. Chego ao fim do dia e vê-se obra feita. Ainda não houve um único dia em que pudesse "gabar-me" de não ter feito nenhum todo o dia. Quando bater a porta de vez, deixo uma extensa lista de deveres cumpridos atrás de mim. Deixo também três ou quatro pessoas de quem gosto muito. E sei que elas vão ter alguma pena que eu saia, tem sido sempre assim na minha vida. 

Eu não percebo um lugar onde há uma mulher que se sente mal, começa a desmaiar, avisa-me que vai deitar a cabeça na mesa (a mim, que estou lá há 40 dias, não às outras, que estão lá há dois anos com ela), estão mais quatro pessoas na mesma sala e ninguém faz absolutamente nada. A que tem a mania continua ao telefone, as outras de boca aberta, ligadas ao zero, na merda dos computadores delas. Eu de pé, a pedir a uma que a segure e não deixe que aquela caia para o chão enquanto lhe vou fazer um café. Trago o café, dou-lho a beber, cuido, pergunto, preocupo-me genuinamente, não a largo enquanto não vejo cor regressar à cara dela. A vaca da que tem a mania desliga o telefone e continua a martelar nas putas das teclas, a chamar ora uma, ora outra, a dar ordens, a distribuir tarefas, capataz de merda, deve ter nascido de pés, verme. Mais uma vez, como tantas na minha vida, senti-me out, fora, deslocada, letras garrafais nas paredes a dizer "ESTE NÃO É O TEU LUGAR, SAI, FOGE". Bate a porta, nem olhes para trás, estás a conviver com uma pessoa desta categoria, acabas por ficar igual a ela, indiferente, seca, oca, desumana.

Não me adapto. Não consigo imaginar-me ali o resto da minha vida, por mais que me argumentem com a crise e a conjuntura e a minha idade e o meu sexo e o alho. Há uma linha que separa as tais idiossincrasias  normais do que já é doença mental. Há uma linha que separa aquilo que só nós vemos como mau e o que é efectivamente mau. E eu vi claramente as duas linhas, desde a primeira vez que pus os pés naquele lugar. Já só faltam doze dias. Nem. Mais. Um. Mais feliz morro de fome do que tão longe de mim. 

* 

07/04/2014

Parece mentira, ainda ontem nasceu


RecadosOnline.com

Não se conseguiu nada mais a propósito desta efeméride, nem nada mais purpurinoso, por isso aqui fica a data, devidamente assinalada. As pesquisas que fiz, até encontrar esta pequena maravilha, foram:

- Bolo 1º aniversário (e os resultados foram bolinhos fofis, com bebés, com carrinhos, com florzinhas, mas tão apetitosos que me recuso a botar aqui, neste espaço tão sério que é quase intelectual);

- Bolo com brilhantes (não encontrei nenhum suficientemente parolo. A ocasião exige);

- Gifs com porcos (eh... ná);

- Imagens de buracos (o-ho-rror. Redescobri que tenho medo do escuro);

- Imagens de umbigos (me-do. De-um-bi-gos);

 - Sinceramente, acho que não procurei mais nada. E este post foi, naturalmente, agendado. Domingo, que é quando tenho mais tempo para estes devaneios. O que é que o meu buraco significa para mim? Alguém perguntou? Ah, tá.

06/04/2014

A pior parte da capa da Nova Gente

Não é o sorriso dele. Não são as palas do cabelo dele. Não é o ar de madona perdida dela. Não é o tom de pele deles. Não é o facto de ele ter as mãos nas mamas dela. Não são os mamilos dele. É isto:

Tão-Zona-J.

Os rabos dos portugueses

Tenho medo de me esquecer de dizer isto e então tem que ser agora. Não é lá porque o Ryan Gosling, o David Beckham e o Zé * ficam giros e podres de fato um número abaixo do que deveriam se fossem parvos poderiam vestiriam que todo o português medianamente anafado pode vestir um fatito Rosicler em fybra 100 % polyester dois números abaixo do que deveria ser proibido por lei vestir. É que transporta um rabo gorducho. É que o rabo levanta-lhe as abas do casaco atrás. É que não é bonito perceber-se as gordurinhas através do tecido (e não, não passa por músculo). É que fica curto na perna e mostra o lamentável sapato da aba curta. E o peito do pé alto. Gordo. De uma vez por todas, a banha fora do lugar não é um exclusivo feminino.

* The special one, quem mais, ou tenho que fazer o desenho?

Apesar do sol. ☼

Apesar do sol.

Uma pessoa entra no Continente e tem as voluntárias da Cruz Vermelha à entrada. Não sei se já aqui ficou suficientemente claro que eu dou tudo. Sou dada. Dou sangue e, quando não posso dar sangue porque tenho baixa hemoglobina, como bróculos, beterraba e espinafres (tudo sem um ai, porque, vá lá, gosto tanto e tão genuinamente), quando nem isso resulta tomo comprimidos de ferro, que me ficam a 8 euros a caixa e me dão para um mês, e tenho que tomar três caixas para repor os níveis, portanto até pago para dar o meu sangue, são 24 euros de ferro, ófaxavor. Eu dou todos os meses (todos, não é só no Natal) para a UNICEF, dou quatro vezes por ano para os velhinhos (e não 12 vezes por ano porque eles ainda não descobriram o meu ponto fraco) da Associação Samaritana, dou tudo o que já não me serve e que esteja em condições de outra pessoa usar com dignidade, dou a mão, dou o braço, dou o corpo e é de graça, mas, por favor, não me peçam. Basta virem gemer que o filho já não tem nada que lhe sirva ou virem para cima de mim a gritar que têm fome, é certinho que me apanham de costas, mas em posição de fuga em frente. Uma coisa é apresentarem-me uma realidade e uma alternativa, como "a tua dádiva vai vacinar uma criança por dia", outra coisa é "dá-me dinheiro e ode-te para aí com a falta que ele te pode fazer, porque desde o momento em que mo dás, eu não mais terei que te prestar contas do que é que lhe fiz". 

A distribuição de sacos à entrada do supermercado é coisa para me agastar faz tempo. Dantes era só o Banco Alimentar (mais uns para os quais contribuo com transferência bancária, quais cá feijão e arroz trinca), agora é tudo e mais um par de botas, e também para o cão e para o gato, porra, cada vez que me lembra dos gajos de Famões no Natal. Ontem e hoje, a Cruz Vermelha, que é uma associação que não me inspira a melhor das confianças e não me perguntem porquê. Não sei se faço confusão entre o palácio da Cruz Vermelha (caríssimo), o Hospital da Cruz Vermelha (que as diversas administrações que por lá passaram, conseguiram magistralmente falir), a Cruz Vermelha Portuguesa (ambulâncias?), que não dá um peido em prol da saúde dos portugueses, não sei se sou eu que já não posso ver sacos de plástico à entrada do Continente, não sei se estou a ficar velha ou se, tudo isto junto, me provoca a repetição em série da primeira palavra que aprendi a dizer na vida - NÃO -, a verdade é que já os finto e, quando eles me placam, como hoje, vai um directo não e só me frustra que não me perguntem porquê, que eu explicava: porque, de entre outras razões, não sou hipócrita o suficiente para aceitar o saco e depois ir largá-lo num corredor qualquer. Já cresci, já amadureci bastante para dizer não sem complexos, mas também explicar que tenho opções e nem tudo o que gane me parece um canito abandonado, sorry. Ou nem isso.

03/04/2014

Mais vale cair em graça do que ser engraçado - Ditado # 12

O chefão foi bruto comigo ontem. Simplesmente, foi mal-educado num momento em que lhe fui apresentar trabalho. Não era sequer um mau momento, apesar de ele ter protestado que estava muito ocupado. Tendo em conta que era meio-dia e cinco e ele tinha chegado ao meio-dia, era impossível para mim imaginar que ele estivesse ocupado. Disse-me que víamos o trabalho na sexta-feira porque ia para a Madeira. Eu rodei os calcanhares e caguei - quase literalmente - para ele. Só lá estou mais este mês, depois ou ele me dá carta de alforria ou eu debando. Deporto-me. Dissido. 

Hoje é quinta, certo? E eu pensei que ele não estava por ali. Estive todo o dia tão descontraída que só faltou descalçar os sapatos. A dada altura da tarde precisei de umas fotocópias, acerquei-me da fotocopiadora nova e cara e digitalizadora e fax e acho que faz tudo mas não faz café e proferi a seguinte frase, dirigida a um colega de esforços:

- Esta grande magana engasga-se se eu lhe meter uma cartolina no meio dos papeis? 

- É experimentar...

- É o que vou fazer. Há sempre uma primeira vez e essa é a que custa mais.

Não sei o que me travou para não continuar este belo pensamento com a clássica "depois é como cagar para dentro".

Já sei. Travou-me o facto de ainda ser uma dama. E de, atrás de mim, o chefão se estar a rir. Depois tratou-me bem o resto da tarde. Quis ver o meu trabalho. Elogiou-mo. Falou-me da atitude de ontem. Estava a ver que me pedia desculpas. Estava a ver que tinha que lhe dar tau-tau seu maroto não se faz isso à menina, foi feio.

Humanizei aos olhos do homem ou a ilha fez-lhe um bem?

Estou farta de bipolares.

02/04/2014

Sen-su-al, sou tão sensual

Toca o telefone de casa, que é coisa que nunca acontece. Acho logo que morreu alguém, ou é o vizinho de cima a queixar-se do barulho que ele próprio faz. Não, é para saber se é da casa do senhor Fulano de Tal. Que sim, digo eu. "É o senhor Fulano de Tal que está ao telefone?". Diz o estúpido.

Pára tudo. A minha voz é grossa, mas não se confunde com a de um macho. É apenas sensual. Nada, aliás, em mim se confunde com um macho. Digo, a arrastar o tom: "Não, sabe, quem está ao telefone é uma mulher...". O parvo não desarma. Diz que é da Zon e eu, mais parva ainda, e incapaz de fixar nomes de merdas que não me interessam, tipo que a minha casa é servida pela MEO, e digo assim: "É por causa de uma avaria?". Ouvi vagamente, anteontem, alguém a queixar-se do serviço da TV e acho que estou inteirada do assunto. "Não, é para divulgar uma campanha que a ZON está a fazer a clientes vvvvvvvvvvvvvvvvv", varreu-se-me o resto. 

"Ah. Se é para fazer publicidade, então não lhe dou o número de telemóvel do senhor Fulano de Tal".

Isto hoje está a correr-me tão mal. 

Não sei se a estupidez se pega, mas a ignorância, certamente

Um dia vai-vos acontecer pararem para pensar num assunto pequenino que vos traz uma grande revelação, ao estilo: "Mas, quaralho, como é que isto me saiu?". E tudo porquê? Porque fostes influenciados pela ignorância alheia. 

Recebes um mail de alguém que te diz que te vai enviar uns ficheiros áudio por um estafeta. Já aqui há uma série de coisas erradas. Quanto mais não seja, a inclusão do estafeta na equação de alguém que até tem mail. Pões todas as hipóteses possíveis, desde que são ficheiros demasiado pesados para o mail da pessoa, ou que a pessoa tem receio que o teu mail expluda com tanto peso, ou que, mais provável, desconhece que existe o Google drive para anexos com mais de 25 MB, ou então a nuvem. Está certo, é urgente, manda lá o rapaz trazer isso. Mas, ao ler o resto da frase, deparas-te com este impossível: "O estafeta leva a disquete amanhã de manhã".

O que é que uma pessoa normal pensa?

a) Afinal, não era assim tão urgente;

b) Era urgente na mesma, mas os ficheiros são tão pesados que o estafeta tem que os carregar na mesma;

c) Esta senhora não pesca nada de informática. Disquetes com ficheiros áudio? Nunca ouvi...

O que é que Linda Porca pensou?

d) Que atraso de vida. Quem é que ainda usa disquetes?

O que é que Linda Porca escreveu?

"Vou fazer um esforço [reparai na ênfase] por encontrar um computador que ainda leia disquetes".

Odeio-me.

01/04/2014

Ouvi e concordo com este pensamento profundo

Cada vez que compras comida, estás a tomar a decisão consciente de transformar o teu dinheiro em cocó.




Sister V, este é bonito, e não é meu ;)