Estava aqui a pensar nisto das barras laterais, com as nossas escolhas de leitura blogobólica, e, para rimar, ou não, ocorreu-me uma ideia diabólica.
Mas não digo já qual é, porque os meus posts funcionam como os livros da Ágata: suspense até ao fim, que é para agarrar a freguesia.
(Ai, não é essa que escreve obras? Que aborrecimento, eu e os nomes. Que é que tem? Escreve melodias, não é? Vá, siga.)
Já houve tempos imemoriais em que tive uma barra, onde registava os cantos que percorria, uns diariamente, outros a todas as horas, exceptuando aquelas em que uma pessoa humana nem sabe de que terra é.
Aquilo era uma barra bonita de dar gosto. Parecia uma trave olímpica.
O raio — assim como o diâmetro, já para não falar no perímetro — da coisa, é que estava sempre incompleta: volta e meia, lá me aparecia, caído de para-quedas, um novo blog, de calibre real, coisa para cima de 9,65 mm, melhor que o revólver 38 (esta vida de blogger da periferia está a tornar-se uma canseira, agora até balística me obrigam a estudar para vir para aqui defecar postas de pescadinha de boca no rabo), que me compelia a acrescentar a meretriz da lista, que já ia em mais que muitos e eu também já não lhe aguentava o peso.
Mas a barrita tornou-se sensaborona no dia em que começou a causar-me dissabores. Não sei se eram os cereais de que era feita, ou o chocolate que estava rançoso,
a verdade é que começaram a chegar-me as vozes da insatisfação, sob a forma de "Então e eu?", que é um modo, como outro qualquer, de te fazerem ver que a liberdade de escolha pode ser um conceito muito pouco prático, que a expressão gostos não se discutem, afinal, sofre variações em ré menor, e que, por questões de amizade (aquele conceito tão vástico que, lá está: eu pergunto a todas as minhas pastilhas elásticas, "Bora ser migas, miga?"), ou para não arranjar chatices — já nos bastando as piolhices —, estamos dispostos a ceder também por aí. Como dizem os brasileiros, e muito bem, eu sentia que já estavam forçando minha barra.
Vai daí, um dia fiz o que também nossos irmãos sul-americanos luso-falantes designam por passar uma borracha no cadastro: limpei minha barra. O que foi um descanso, até me senti em férias. (Sou mesmo uma grande maluca.)
No entanto, passado um ano sobre tão acertadinha decisão, ainda vivo um bom bocado e um queque stressada com a coisa de não ter barra, como os outros meninos. (Freud dava um nome a isto, mas agora escapa-me. Já disse que sou péssima para nomes?) Porque consto de algumas, que muito prezo, e isso, por um lado, provoca-me vontades e desejos de retribuição, e, por outro, o óbvio reconhecimento de que merecem mesmo constar da minha barra.
A barra pode ser, literalmente,
uma grande prisão, ouçam o que vos digo, ó vós que viveis a liberdade out of the ball (que é esta bloga).
Vai daí, ocorreu-me uma ideia daquelas que só a mim:
(Devia patentear e apresentar em Shark Tank quase todas as minhas ideias, muito em particular as que me assaltam pela manhã, ao acordar —, misturadas com hãããã-tiraram-a-matrícula-?, já-passa-da-meia-noite-?, e ainda-não-é-hoje-que-volto-a-fumar —, ou então no duche —, misturadas com eichhh.)
As barras paralelas.
Vou ver lá naquilo das definições de Sir Blogger, a ver se ele me permite a barra de LB e a barra de LP, escarrapachadas em paralelo uma com a outra, numa clara manifestação de bom gosto e agilidade.
E a blogobola nunca mais será a mesma, no dia em que a mais ilustre de todas as desconhecidas desta coisa tiver não uma, mas sim duas barras, paralelas uma à outra, gémeas dizigóticas e também góticas.
Universos paralelos, já ouviram falar?
(Olhem, nem eu, que tenho medo.)