Há qualquer coisa de muito errado no meu esquema. Em mim.
Não há livros a mais cá em casa, que esse é, talvez, um conceito que não existe. Mas há espaço a menos. E esse conceito existe.
Tal como 70 % da população portuguesa, possuo esta estante:
E precisava desta há anos (para acrescentar, para pôr por cima):
Então, fui comprá-la.
Acontece que o camião se encontrava outra vez sem gasóleo. Bebe-o, ou fuma-o.
E fui à bomba. Outra vez.
Tive o cuidado de não ir à do meu amigo do vestido barraca, para além de ir o mais discreta que se possa imaginar: calças de ganga cinzentas, top preto, lencinho animal print preto e branco, La Sandalete Primark High Heel. Acontece que as calças foram retiradas do museu do traje hoje de manhã - ando numa de revivalismos -, já têm cerca de oito anos e são de um tempo em que se usava a cintura muito descaída. No entanto, o top acaba mesmo onde começam as calças, não há cá barrigas à mostra que isto não é o cabaré da coxa.
Eu, que sou a mulher da via verde, que me meto na bomba mais longe da minha casa só para ir à vv, tenho ordens da gerência para usar os talões de desconto do Continente, o que me obriga a ir dentro da bomba, para proceder ao pagamento.
E para me desgraçar.
Sai talão de desconto de um porta-moedas, que tem mais 32 talões de compras e o raio. Sai cartão do Continente de uma bolsinha. Sai cartão de MB do porta-moedas e, no momento em que Ah, é verdade, tenho aqui dinheiro, pago com dinheiro, esvoaçam-me os 33 papelotes pelo ar, qual parada do 4 de Julho cheia de confetis, mas em bom.
Atrás de mim, um senhor de cabelos brancos, que eu não vi, mas que sei que os tinha brancos, porque aquilo me despertou todos os sentidos ao mesmo tempo, e apurou a visão periférica, que, nestas alturas, faz uma falta do caraças. Ou seja, zero.
Então, pus-me de cócoras, a choramingar: "Estas coisas só me acontecem a mim, ha-ha-hã..." e a apanhar os meus papelinhos.
Devo ter começado a inchar como um balão. E rebentou-me a presilha da sandalete. O senhor dos cabelos brancos não parava de dizer: "Deixe lá, não é a única pessoa que acumula papeis!", enquanto me visionava as cuecas pelas costas das calças que, entretanto, tinham descido exponencialmente. E eu, agarrada a um molho de papeis, todos desencontrados uns dos outros, a dizer: "E toda a gente fica a conhecer as minhas desgraças", já sem saber se me referia aos talões - eventualmente, algum extracto bancário, daqueles em que a conta bate na trave - ou às cuecas. Amarelas. Tezenis, sem elásticos. Toda a Lisboa, hoje, e agora todo o nosso Portugal, todo o planeta Terra, ficarão a saber que hoje Linda Porca vestiu umas cuecas amarelas (ia pôr umas calças amarelas, das poucas que ainda tenho n.º 36, e fiz uma associação de ideias. Das minhas).
E saí da bomba com um molho de papeis que pareciam aqueles baralhos de cartas do jogo do 52-Apanha numa mão, e a coxear ligeiramente do pé esquerdo, com a presilha da sandal solta. Vá lá que o cai-cai não se lembrou de fazer a vontade ao nome.
Pretendi meter combustível, reclamei alto "Por que raio é que são duas mangueiras para o gasóleo?", constatei que uma é "exclusivo pesados" - ai que lindo, a mangueira é maior? Mais grossa? Ou tudo se conjuga para que eu forneça um bom filme viral para o youtube? - e , exausta e desgraçada, encostei-me ao carro, enquanto mangueirava, a fingir que não reparava no bem parecido que havia colocado o carro atrás do meu, à espera de vez, a rasgar o sorriso, caguei se era de gozo, sei que era de gozo, obrigadinha, ó Murphy e ó Karmen, pois se o homem tinha tantas bombas vagas, o que é que lhe ocorreu ir pôr-se ali? Espectáculo, claro. Youtube.
Parei de ler na parte "Amarelas. Tezenis, sem elásticos."
ResponderEliminarAinda me tou a rir
É sempre a piorar.
EliminarOlha, podia ser pior. Não sei como, mas é o que repito a mim mesma sempre que me apanho em situações embaraçosas. Comigo resulta, espero que resulte contigo!
ResponderEliminarPois podia, era o cai-cai fazer a vontade à gravidade. Era a outra presilha rebentar também. Era não haver um, mas dois senhores de cabelos brancos atrás de mim. E os papeis serem 132. E as cuecas serem da minha avó. E tropeçar e partir um dente da frente :D
EliminarSou uma felizarda. Obrigada!
(sim, eu uso esse consolo também)
Ò caraças, podia ter sido mesmo muito pior! És uma sortuda :D
EliminarVacuda :D
EliminarMulheres...
ResponderEliminarTinhas que conseguir cá vir dar :P
EliminarEu vi quando publicaste o post, mas é enorme e como comecei a ver estantes, nunca pensei que acabasses nas tuas "prateleiras"!! :P :P :P
EliminarM'lheres...: P
Mas quais prateleiras, hum?
EliminarQuanto muito, falei da tranca. Que confusão a tua :P
Chamemos-lhe as tuas prateleiras inferiores da retaguarda :P :P :P
EliminarChama-lhe tu, seu tarado.
EliminarEu chamo rabo e cuecas amarelas.
É isso que eu acho piada. Tu descreves ao pormenor, a tua roupa interior e a cena semi-sexual que envolveu momentos antes do agarrar da manguei e o tarado... sou eu.
EliminarNão percebo as pessoas. :P :P :P
Mas o que diabos pode ter de sexual um par de cuecas amarelas? Estou farta de procurar na net uma imagem igual, e, como não encontro, um destes dias ainda fotografo as ditas, a ver se cai o mito :P
EliminarSerá cueca, será gente?
EliminarGente não é certamente
e o mito não começa assim... :P :P :P
Pronto. A variz poética ataca depois de jantar :P
EliminarE mais foi água! Imagina se tivesse sido tinto? :p
EliminarSe calhar, estavas mais sóbrio :)
EliminarÉ para dizer que eu não pertenço aos 70%. Mas por acaso andamos a precisar de estants novas. quiçá, um dia, não entrarei no clube...
ResponderEliminarEsta é a Expedit do IKEA *.
EliminarÉ teres um IKEA mais perto de ti, não sei...
* ninguém me paga para isto.
Oh minha Linda amiga, eu abomino esse antro, sou alérgica mesmo: http://pseudoblogdapseudo.blogspot.pt/2014/10/tenho-que-arranjar-uma-desculpa-valente.html
EliminarAí vão duas, mas eu não sou sozinha...
EliminarAhahahahahahah, ainda bem que deixaste o link deste post noutro, caso contrário, perderia esta pérola :D
ResponderEliminarFoi tão mau :D
EliminarAs bombas têm qualquer coisa contra mim. Não sei se é da gasolina no ar...
Um dia abanei a mangueira, no final de pôr gasolina.
E uma vez reguei uma criança.
A sério. Não me mandem à bomba. Vá lá.