21/08/2014

Os vestidos são como a pescada,

antes de o ser já o eram. Esta fui eu que inventei. Uma pessoa veste um vestido e fica toda vestida.

Num quizz daqueles de "Se fosses", à pergunta "Uma peça de roupa", eu era um vestido. Perdi-lhes a conta, tenho aos montes. Tenho o da sorte, o do azar (tive um que estreei, correu-me tão mal o dia que o despachei logo), o que faz de mim a gaja mais boa da minha rua (vários, modéstia à parte, mas parece que aqui só moram coirões, safam-se as minhas gajas e eu), o que me dá um ar sério, de senhora respeitável (não estou a ver bem qual é, mas ficava bem aqui nesta listinha), o sei lá, etc. E tenho alguns de praia, naturalmente.

Ontem fui à praia. Era quase meio-dia e ainda não tinha saído de casa. Estava à espera que as minhas companhias se despachassem, enquanto eu esperava, de biquini, sentada ao computador. Levava o carro cheio de gente e era eu que conduzia. Ainda tinha que ir meter gasóleo, porque ia levar o camião. Quando deram ordem de partida, fui-me ao gavetão das roupas de praia e, no meio da pressa, saquei a primeira peça que a minha mão alcançou.

E então fui de tenda para a praia.


Desconheço quando e onde comprei este lençol de cama de casal, onde cabemos duas iguais a mim, assim eu tivesse uma gémea (livra!). Mas vesti-o e saí.

E, no pagamento do combustível, protagonizei:

- A senhora desculpe que lhe pergunte, mas onde é que comprou o seu vestido?

- [gay? para oferecer um igual à respectiva? conversa de ir ao cu num posto de abastecimento perto de si?] - Eeeerrrr... não sei.

- É lindo.

- [gay? vai comprar um igual e pôr-se ao espelho, feita flausina? para oferecer um igual à respectiva? conversa de ir ao cu num posto de abastecimento perto de si?] - Eeeerrrr... por acaso, estava precisamente a pensar assim: "Mas onde raio fui eu desencantar esta tenda familiar? E por que é que, ainda por cima, a vesti?"

- [indiferente ao meu discurso] - É lindo e fica-lhe mesmo bem.

Olha, caraças, anda uma pessoa sempre com vestidinhos sexy e maravilhosos, e tem que vestir este equipamento de campismo para receber um elogio na bomba.



Hoje ia fazer de companhia ao dentista a uma das queridas. O dentista é giro, e, mesmo não me indo lá deitar de boca aberta, nem pensar em ir mal posta. 

Descobri no museu do traje que todas temos, um vestido com dezanove anos (eu disse dezanove), que tinha deixado de me servir, e voltámos a encontrar-nos agora. 



Quer dizer, está-me alapado, mas visto-o. Este é Red Globe, o que prova que a minha velha teoria de que o que é caro é, normalmente, bom, está certa. A peça custou-me uma rica fortuna, ainda em contos de reis, mas está aqui sem uma costura solta, sem um botão fora. Tem um pequeno defeito, que é a localização dos botões do decote - um demasiado acima, outro demasiado abaixo. Os fabricantes de camiseiros desconhecem onde é que se encontra o meio das mamas, ou nem pensam nisso. E um dos botões tem que ficar lá, exactamente . Caso contrário, andamos demasiado abotoadas, ou demasiado vacas. Eu costumo resolver o assunto com um alfinete-de-ama, espetado lá, onde deveria existir o tal botão. 

Já tinha perdido tempo a mais a espetar o alfinete lá (o vestido é de ganga, quase é preciso usar o martelo para espetar aqui um alfinete), estava nuns nervos por me estar a atrasar, e saí de casa sem ter posto creme hidratante.

O que vou contar a seguir, sei que qualquer mulher entende: no carro, toda compostinha e acabada para ir ao dentista, e sem creme hidratante. A cara baça, opaca, impossível. O que é que encontro, revolvida a mala, que pode substituir o hidratante de rosto? Uma bisnaguinha de uma gordura qualquer, que deve ter servido há uns anos para me pôr os lábios carnudos e rechonchos, que respondia pelo nome de Lip Sculptor, de um laboratório mais que falecido, Helena Rubinstein. E vai de besuntar a cara toda com aquilo.

*

- Olha lá, tens a certeza que isso está dentro da validade?

- Acho que não, pelo cheiro. Quer dizer, não quis ir de cara baça para dar dois beijinhos ao dentista, vou de cara a cheirar mal. Confere.

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Qual é o meu problema?

Qual é o meu problema?

Hã?

Digam-me!


* a sério que isto era óptimo. Eu ficava com umas beiças de sonho.

17 comentários:

  1. Estou contigo, gosto mais do segundo. Mas elogio é elogio mesmo que seja numa bomba de gasolina :D

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    1. Estou a ponderar vender aquilo no OLX para o Sumol Summer Fest, ou para a Zambujeira. Cabem lá seis ou sete :D

      Quanto ao elogio, concordo. Mas, se calhar é daqueles que diz o mesmo a todas, de drogado que está com os vapores :D

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    2. Contacta a família Cardinali, dá sempre jeito uma tenda suplente!

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    3. Tens razão. Os elefantes sofrem horrores nos Invernos mais rigorosos!

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  2. Eu gosto do vestido. Colorido e bem disposto, é o ideal para a praia. Mas se te está grande... Tens que o mandar apertar.

    O segundo gosto também. É giro e tal. Mas não faz tanto o meu estilo...

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    1. Aperto-o eu, desconheces os meus predicados para a costura!

      Percebo o que dizes quanto ao segundo. Mas é vintage (como eu), e isso, hoje em dia, é uma mais-valia :P

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    2. Força nisso, LP! Depois aí sim, mostra.

      Vintage, tu? Possível. Manda aí a avaliação da Christie's... :)

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    3. Ai, lá vou eu para a máquina de costura, depois não me sobra para as teclas...

      Ou do ebay :D

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    4. Qualquer leiloeira de vão de escada, desde que não avaliem por baixo :D

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    5. Epá essa frase... Ainda me tou a rir!

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    6. Haha, apanhaste o segundo sentido!

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    7. As cabeças sujas é com champô que se tratam :P

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    8. A cabeça esta lavadinha. A mente é que não... :p

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