Olhem, troquei-lhes a ordem. Julieta e Romeu, Virgínia e Paulo, Isolda e Tristão.
Fui ver o ballet, embora agora, a esta distância, que já passou metade de um dia, reconheça que só eu é que ia para ver ballet, já que, aparentemente, se tratava de bailado, coreografia, ótever.
O espectáculo deveria chamar-se Agora é tarde. É que começa com a Inês morta. Morta, bem morta, ainda não, porém deitada no chão, a dormir, sonhando com a sua própria morte (tipo pesadelo — tudo muito escuro, muitos gemidos, música sincrética). Portanto, quase morta. Depois, surgidas acho que do chão, sete Ineses, com sete carrascos à perna (literalmente). E aí sim, morrem todas. Enquanto se ouvem berros Inês!, a um canto do palco, um velho careca está sentado numa poltrona-trono (haha, num poltrono), ri-se às gargalhadas. (Esse actor adquiriu imediatamente lugar na minha galeria só-a-mim-não-me-saem-empregos-destes.) Pensei que fosse o Pedro já velho, e avariado da marmita, mas afinal era o Afonso IV, que ainda achava graça à merda que tinha feito. Acontece que, no final da actuação, aparece outro velho careca, a dançar com a Inês morta, e vestido da mesma maneira (de rei), o que veio contribuir para que uma pessoa ficasse ainda mais confusa: por que raios andava o Afonso IV a dançar com a Inês sacada do sepulcro? Afinal, esse sim, era o Pedro, agora sim, velho, agora sim, avariado da marmita.
Entretanto, existia uma piscina em pleno palco (que presumo que representava as lágrimas/a Quinta das Lágrimas), com a altura de um lava-pés, onde Inês e Pedro se lavaram até à cabeça, enquanto dançavam um com o outro. (Muito se apalpam os bailarinos.) Tive pena que não houvesse sapatilhas, nem pontas, mas, naquele caso, dadas as circunstâncias, talvez um bom par de barbatanas a cada um fossem mais apropriados.
Também houve um momento Magic Mike, quando os sete carrascos se alinharam no palco, a comerem sete corações de marshmallow e a rirem às gargalhadas (coraçõezinhos para rir?), como tolos.
Eu gostei. Fui para ver ballet, até queria chorar um bocadinho, mas não se deu o caso, pelo que voltei para casa mais seca que os protagonistas — que, na apoteose, escorriam água de cima abaixo, como cascatas.
Lágrimas.
"de cima a baixo". Hás-de fazer um post sobre a diferença entre "abaixo" e "a baixo".
ResponderEliminarEnganei-me. Hei-de alterar.
EliminarE sim, hei-de fazer um post sobre esse tema.