Nem a lado nenhum.
Perco o carro. Deixo de saber onde o pus. Eu sei que não sou única, porque, se reparardes bem, um parque de estacionamento de centro comercial ou de hipermercado, parece sempre um antro de zombies, ou uma espécie de limbo, cheio de almas penadas — mais mulheres, convenhamos (porque também vão muito mais a esses lugares. Só hoje, éramos duas, se não contarmos que eu estava acompanhada pelo rapaz mais giro que conheço, e que fui eu que fiz) —, ou uma coisa tipo o cenário do Thriller do Michael, aquele defunto que eu defendo estar mais vivo do que eu, mas isso sou eu e a minha mania da teoria da conspiração, que vergonha, que até acho que o homem Armstrong não pisou a lua, mas isso ao pé dos que acreditam na inocência do outro que esta semana saiu que nem um passarinho, não é nada. Tem piada, foi uma semana de debandada, de saída em massa e com massa (esta não fui eu que inventei, mas é tão boa que não resisto. Cá beijinho, querida, tenho tanto orgulho quando penso que fui eu que te fiz, também.)
retirei do Thriller, pois |
Enchi o saco (quase, quase na acepção brasileira da expressão) de coisas pesadas, de entre as quais se contava um pack de dez minis. Para não sobrecarregar demasiado o saco, entendi por bem pôr as minis à parte, para distribuir os pesos entre o rapaz e eu (que, nesta história, fazia ou de velho ou de burro). Ele, que é um cavalheirinho, ofereceu-se para levar o sacão pesadíssimo, com o argumento que não queria fazer figura de alcoólico, pelo que coloquei as minhas minis debaixo do braço, assim à anca, como um leitão (ai, não me falem em leitões...), e "Ah, pois, preferes fazer figura de filho da bêbada", e ala para o parque.
Era eu de mini-grade de minis ao sovaco, e ele a carregar um saco que mais parecia que levava lá um morto não vivo dentro, que não foi um momento nada fácil. Não sei explicar como é que perdi o carro, pois se acho que desci pelo mesmo lado e saí pela porta por onde tinha entrado, o raio do boi não me aparecia nem se eu rezasse às alminhas (cruzes, que hoje estou tão tétrica). Entrei em desespero e implorei-lhe que trocasse de pesos comigo, ele lá cedeu, ficou com as cervejas, eu com o saco do morto, mas continuei a fazer de velho ou de burro nesta história, porque ele não despiu a casaca de rapaz (ou era uma t-shirt?). Só sei que cheguei a amaldiçoar a p. da genética, e a lamentar que ele fosse tão, mas tão igual a mim, e que tivesse exactamente o mesmo sentido de orientação e memória para fixar minudências da m., e que tenhamos chegado a um ponto em que já tínhamos perdido não só o carro como também a calma, a cabeça, e nós próprios — estávamos perdidos.
Foi quando me lembrei que, aqui há uns largos meses, senão séculos, um dos meus grandes môres que frequenta aqui o buraco me disse que, para a próxima, usasse o truque da chave: quando achasse que estava próxima do carro, accionasse as portas, a ver se via as luzes a acender. E foi o que fiz. Ele estava, vá, debaixo do meu nariz. E quando fez traque e flash, olha, porra, quase chorámos de alívio. Tenho que agradecer, não sei a quem, ter-me ensinado esta magia, que valeu que hoje não tenha tido que voltar a pé para casa, carregada daquela maneira, ou, pior, para aliviar a carga, a ver-me obrigada a ir bebendo as minis pelo caminho.
Mas, afinal, encontrámos o burro, o rapaz e eu.
Ai mulher, as tuas histórias a esta da manhã, que bem me fazem. Eu tiro um "retrato" à coluna onde deixo o carro, não vá dar-se o caso de andar meia-hora, não com descendente direto, mas com familiar muito chegada; as duas a comunicar via telemóvel:"não encontro, e tu?" eu estou no piso 1, e tu? no piso menos 1", e por aí, e mais pobres na narrativa, pois aqui, não entrou a sabedoria popular do rapaz e do burro. Ou se calhar, entrou, burra eu, que não acautelei o desvario.
ResponderEliminarBeijinhos e bom fim de semana.
Isto é horrível. Eu devia fazer o mesmo que tu fazes. É que até faço mnemónicas, do género "Estou no M-19", e bate certo com um nome e idade queridos. E depois vou procurar no G-15, que também batem certo com ambos, e fico desesperadíssima porque nem a minha mnemónica me pode valer.
EliminarBom fim de semana, Mia.
Beijinhos